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Ricardo Rabelo

Ricardo Rabelo é economista e militante pelo socialismo. Graduado em Ciência Econômicas pela UFMG (1975), também possui especialização em Informática na Educação pela PUC – MINAS (1996). Além disso, possui mestrado em sociologia pela FAFICH UFMG (1983) e doutorado em Comunicação pela UFRJ (2002). Entre 1986 e 2019, foi professor titular de Economia da PUC – MINAS. Foi membro de Corpo Editorial da Revista Economia & Gestão PUC – MINAS.

Coluna

A farsa acabou: quem dirige a guerra é o Imperialismo

A fábula que diz que Nethanyahu é um líder enlouquecido e que age por razões pessoais , para ficar livre de uma possível prisão não pode ser mais aceita

Com a ampliação das operações de guerra de Israel para o Líbano  ficou claro que quem comanda são os EUA. A fábula que diz que Nethanyahu é um líder enlouquecido e que age por razões pessoais , para ficar livre de uma possível prisão não pode ser mais aceita. É evidente que as operações no Líbano não poderiam nunca ser realizadas por Israel: elas só foram possíveis pela decisiva participação do aparato de espionagem e das forças armadas dos EUA.É ridículo que alguém acredite que os EUA estão sendo arrastados para uma confrontação geral pelas ações “sem controle” do governo israelense. O imperialismo definiu a estratégia geral de acirramento do confronto entre Israel e o eixo da resistência com  o objetivo central de envolver o Irã, para  poder atacar o país e destruir o regime islâmico.

É consenso entre os analistas mais conhecedores da realidade da região de que a operação que fez explodir os pagers e Walk talkies só pode ser executado pelos serviços de inteligência e espionagem dos EUA, talvez com a colaboração das agencias congêneres europeias. A logística de inserção destes aparelhos no Hezbollah, seu  acionamento à distância e  as operações de hackeamento das comunicações do governo do Líbano só poderiam ser com os equipamentos, a expertise e a capacidade de articulação do imperialismo mundial.

O mesmo ocorreu com o bombardeamento do Líbano, que combinou capacidade enorme de ataque aéreo, rastreamento dos locais em que estavam os líderes da resistência armada e seu braço político principal. A sucessão dos ataques aéreos e o volume das bombas utilizadas certamente envolveu, além da força aérea israelense também os aviões norte americanos, atuando de forma principal e na coordenação dos ataques. O resultado foi o sucesso de Israel nestas operações ao atingir e assassinar o grande líder religioso e político do e secretário-geral do Hezbollah, Sayyed Hassan Nasrallah bem como o comandante da Guarda Revolucionária Islâmica , Abbas Nilforoshan.

A reação do eixo da resistência

A reação a mais esta carnificina do imperialismo e seu agente Israel foi imediata e muito intensa. A operação mais simples e nem por isso menos audaciosa  foi executada pelo Hamas em plena Tel Aviv.   Os dois palestinos que realizaram a operação vieram da cidade ocupada de Hebron, na Cisjordânia, infiltraram-se nos territórios de 1948 e apreenderam a arma de um soldado israelense para realizar os ataques. As brigadas Qassam explicaram que “nossos Mujahideen foram capazes de se infiltrar em nossos territórios ocupados, esfaquear um dos soldados da ocupação e apreender sua arma automática, depois realizar a operação heroica em dois locais diferentes no coração de Tel Aviv, um deles dentro de uma estação de trem, onde os colonos foram alvejados à queima roupa, matando sete e deixando outros 16 feridos em graus variados”.

Em um comunicado divulgado no mesmo dia, o Hamas chamou a operação de “uma resposta natural à guerra de genocídio e à agressão sionista em curso cometida pelo inimigo sionista contra nosso povo na Faixa de Gaza, Cisjordânia, Jerusalém e Líbano”.

As forças armadas do Iêmen atingiram postos militares nas profundezas de Israel com três mísseis de cruzeiro alados ‘Quds 5’. Os mísseis atingiram com sucesso seus alvos. Os iemenitas, ameaçaram: “não hesitaremos em ampliar nossas operações militares contra o inimigo israelense e quem está por trás dele até que a agressão contra Gaza e o Líbano termine”.

Os ataques ocorrem horas depois que o Irã lançou uma onda maciça de pelo menos 180 mísseis balísticos contra bases militares e de inteligência israelenses durante a noite em resposta à campanha maciça de bombardeios e assassinatos de Israel no Líbano que matou o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, e centenas de civis libaneses.

Em 27 de setembro, as forças iemenitas lançaram um míssil balístico contra um alvo militar em Tel Aviv, bem como um drone contra um “alvo vital” na cidade costeira de Ashkelon, no sul.As forças armadas lideradas por Ansarallah do Iêmen dispararam repetidamente mísseis e drones contra alvos militares em Israel e navios ligados a Israel que transitam pelo Mar Vermelho.

As forças armadas iemenitas compreendem um pilar do Eixo da Resistência, junto com o Irã, o Hezbollah, a Resistência Islâmica no Iraque e grupos de resistência palestinos, incluindo o Hamas e a Jihad Islâmica. O Hezbollah realizou uma emboscada meticulosamente planejada contra uma força de elite israelense na região de Odeisseh, no sul do Líbano, causando baixas significativas entre os soldados israelenses, disseram fontes de campo da Resistência ao Al Mayadeen na manhã de quarta-feira, 2 de Outubro.

Com base nos movimentos e comportamento das forças israelenses, os combatentes da Resistência prepararam uma emboscada avançada na região de al-Mahafer / Odeisseh. Na madrugada de quarta-feira, mais de 30 soldados e oficiais israelenses iniciaram um avanço silencioso na zona de emboscada.

A emboscada começou com tiros pesados e RPGs, com combatentes da Resistência enfrentando os soldados israelenses à queima-roupa. A intensidade do ataque levou a uma série de baixas entre as tropas de elite israelenses.

Enquanto a emboscada se desenrolava, um grupo de apoio próximo da Resistência alvejou as linhas de abastecimento inimigas para evitar que reforços chegassem à força israelense enredada. Esta operação secundária atingiu os assentamentos de Misgav Am, Kfar Giladi e Metulla com projéteis de artilharia e foguetes, dificultando ainda mais os esforços israelenses para apoiar suas forças.

Além disso, a Resistência declarou que a emboscada na quarta-feira era apenas uma fração do que aguardava a ocupação israelense se ousasse avançar para o sul do Líbano. Eles alertaram os militares israelenses de que confrontos mais intensos eram inevitáveis e que cada centímetro do sul do Líbano seria ferozmente defendido.

Enquanto uma operação para evacuar os soldados da ocupação estava em andamento, os combatentes do Hezbollah continuaram lançando morteiros. Os soldados do Hezbollah conseguiram destruir três tanques Merkava israelenses usando mísseis guiados enquanto avançavam sobre a cidade de Maroun al-Ras, no sul do Líbano.

A reação do Irã

Na terça-feira, 1º  de Outubro, a Resistência Islâmica no Iraque alertou que, se os EUA participarem de “qualquer ação hostil” contra o Irã, os interesses dos EUA na região estarão ameaçados. A declaração do Comitê de Coordenação da Resistência Iraquiana também alertou Israel sobre o uso do espaço aéreo iraquiano para retaliar contra o Irã por uma barragem de mísseis disparada contra Israel, dizendo que “todas as bases e interesses americanos no Iraque e na região serão nosso alvo”.

Ao contrário do que alguns analistas e a mídia ocidental divulgaram, de que Teerã “engoliria” o ataque ao Líbano e o assassinato do chefe do Hezbollah, Hassan Nasrallah, a reação do Irã foi ofensiva, ampla e muito forte, tendo conseguido surpreender o governo israelense e o imperialismo norte americano.

O Irã disparou, para surpresa de todos, centenas de mísseis em território israelense sendo que a grande maioria conseguiu vencer a barreira do já desmoralizado Iron Dome e atingir destrutivamente as bases militares sionistas.

Diferentes meios de comunicação mostraram vídeos com pelo menos 20 caças F-35 destruídos e os impactos em bases aéreas, instalações militares e uma plataforma de gás offshore. De acordo com o Irã, entre 70 e 80% de seus mísseis atingiram os alvos pretendidos.

O ataque do Irã desta vez pode ser muito mais eficaz do que o de abril. Entre 200 e 500 mísseis e drones foram lançados, voando de todas as direções: do norte, do sul, da Síria. Eles até vieram do Iêmen para o território israelense.

A questão agora é que tipo de “resposta” Israel dará. O porta-voz das Forças Armadas israelenses, Hagari, disse que a retaliação era inevitável, mas viria “em um momento e local de nossa escolha”. Enquanto isso, o Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica ameaçou desencadear uma vingança ainda mais poderosa se os israelenses contra-atacarem.

Até certo ponto, Israel se colocou em uma posição que demonstra sua vulnerabilidade e fraqueza estratégica.  Sabemos que Israel está cercado por todos os lados por organizações de resistência que têm o apoio dos iranianos. Os atentados e bombardeios  no Líbano, que mataram milhares de civis, e o genocídio de Gaza prejudicaram ainda mais a imagem de Israel.

O Irã mostrou sabedoria e  “paciência estratégica” . Ele não fez nenhum movimento precipitado. Ele esperou que as próprias ações de Israel levassem ao ódio e indignação de amplas massas no mundo e só então atacou.

Várias vozes,  até mesmo de setores que apoiaram o eixo  da resistência até aqui , fizeram  acusações feitas contra o Irã, e levantaram dúvidas de que ele havia abandonado seu apoio à Resistência.

O ataque a Israel  de terça feira demonstrou que o Irã está ao lado dos movimentos de resistência. É um Estado que toma decisões com base em uma avaliação criteriosa da situação, atacando o inimigo na hora certa.O  ataque iraniano mostrou que Israel não pode fazer o que quiser.

Nesse contexto, o ataque retaliatório iraniano, a operação Yafa Feda’i e as operações e confrontos da Resistência Libanesa redefiniram a correlação de  forças na região enviando, ao mesmo tempo,  uma mensagem ao inimigo: Aqui linhas vermelhas muito definidas . De agora em diante Israel não poderá mais  continuar a oprimir, matar, massacrar e assassinar sem pensar nas consequências  destes seus crimes.

A reação de Israel e do Imperialismo

“Discutiremos com os israelenses o que eles farão, mas todos os sete (nações do G7) concordamos que eles têm o direito de responder, mas devem responder proporcionalmente”. Joe Genocide Biden

A posição do imperialismo é clara: a guerra deve prosseguir, com consentimento de todo o imperialismo mundial. Especula-se que a resposta de Israel provavelmente claramente ofensiva, tendo como alvo as instalações nucleares ou petrolíferas de Teerã.O presidente norte americano afirmou que os EUA vão impor mais sanções ao Irã e que “obviamente, o Irã está muito fora do curso”.

Tudo isso deixa claro que as ações de Israel são comandadas pelos EUA, cujo governo finge discordar em algumas questões. O próprio Jake Sullivan, assessor de Segurança Nacional  confirmou que forças dos Estados Unidos auxiliaram Israel a interceptar a salva de mísseis balísticos do Irã disparada  em 1º de Outubro,

“Temos orgulho das ações que tomamos ao lado de Israel, para protegê-lo e defendê-lo”, acrescentou. “Temos deixado claro que haverá consequências — consequências severas — a este ataque e que trabalharemos com Israel para isso”.

As ações americanas implicam a gestão Biden como cúmplice do genocídio em curso na Faixa de Gaza, em meio ao processo sul-africano no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), com sede em Haia, deferido em janeiro.

Uma a guerra regional generalizada é inevitável à medida que os Estados Unidos insistem em comandar e apoiar Netanyahu em todos os seus crimes de guerra — seu genocídio e seus ataques a todos os seus vizinhos.

A política norte americana equivale a um “cheque em branco” à escalada em curso. O governo Biden é funcional para os interesses do imperialismo, que vê na situação uma oportunidade de desenvolver uma guerra contra seus inimigos com total apoio da mídia e dos principais países imperialistas. A falta de apoio da população destes países é resolvida com o uso de propaganda maciça e repressão violenta a qualquer manifestação em defesa da Palestina, sem falar da total falta de liberdade de expressão cerceada por uma auto censura da mídia e das redes sociais.

Por outro lado, o que se constata é que na maioria dos países o imperialismo não consegue mais manter sua hegemonia tanto internamente como nas relações internacionais. Os EUA enfrentam regularmente greves operárias, sendo que atualmente uma grande greve deve paralisar totalmente os principais portos do país. Na Áustria, a extrema direita teve grande vitória nas eleições, podendo formar governo pela primeira vez desde o período do domínio de Hitler na região.

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