De acordo com o site da Fio Cruz, Arthur Neiva (1880-1943) trabalhou na Inspetoria de Profilaxia da Febre Amarela quando ainda era estudante, contribuindo para a campanha de erradicação do mosquito transmissor promovida por Oswaldo Cruz em 1903. Realizou importantes estudos em Manguinhos e pesquisas nos EUA e Europa, destacando-se no estudo da doença de Chagas e “broca do café”. Chefiou a campanha de saúde na abertura da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil. Foi responsável pela instalação da Seção de Zoologia Médica do Instituto de Bacteriologia de Buenos Aires, incentivou a criação do Horto Oswaldo Cruz (destinado ao cultivo de plantas medicinais brasileiras e incorporado ao Instituto Butantan em 1918), foi diretor do Museu Nacional da Quinta da Boa Vista (1923-1927) e diretor-superintendente do Instituto Biológico do Estado de São Paulo (1927-1933), sendo um cientista reconhecido internacionalmente.
Sua correspondência com Lobato teve início em 1918 e se estendeu até pouco antes de sua morte, sendo caracterizada pela profunda preocupação de ambos com a necessidade de industrialização do Brasil para o alcance do bem-estar social e o desinteresse das autoridades brasileiras em que ela ocorresse – em sua correspondência, destacam-se os esforços envidados por Lobato enquanto era adido comercial do Brasil nos EUA para que nosso país embarcasse no “bonde do desenvolvimento”, tornando-se autossuficiente no beneficiamento de matéria-prima no setor siderúrgico, e seu lamento de pela deliberada perda da oportunidade. Lendo-a, é possível enxergar o cenário que se instalou e conhecer os personagens que nele atuaram, bem como a contribuição da imprensa brasileira para o fracasso industrial de nosso país. É nesse contexto que Lobato condena as fake news (mentiras disfarçadas de verdade) da imprensa brasileira de sua época e, em um rompante, xinga os integrantes da imprensa carioca na carta de 10.04.1928 dirigida a Artur Neiva, permitindo aos leitores de hoje incautos e apressados a conclusão de que Lobato defendia o Klu Klux Klan e se posicionava contra os negros.
A fim de oferecer subsídios para uma análise mais acurada da postura de Lobato, a pesquisadora Vanete Santana-Dezmann apresenta parte de seu trabalho nesta palestra intitulada “A industrialização do Brasil ameaçada pelos ‘sicários da imprensa’ e a reação de Lobato”.
Quer falar com conhecimento de causa sobre essa questão? Então não perca a oportunidade de se informar!
Observatório Lobato
Observatório Lobato é composto por um grupo de pesquisadores e demais pessoas interessadas por Monteiro Lobato e sua obra que têm como traço distintivo o fato de não guardarem qualquer tipo de preconceito contra o autor e sua obra. Sendo assim, não partem do pressuposto de que o autor e o que ele produziu manifestem preconceito contra determinada etnia ou classe. Analisa-se antes para que, posteriormente, com base em dados e fatos, as conclusões sejam apresentadas.
Até o momento, não encontramos traços de preconceito na obra do autor – possibilidade que não é excluída uma vez que, como ser humano, o autor deve ter apresentado não apenas qualidades positivas. Encontramos, porém, comprovações – em sua biografia e obra – de que muito fez para minimizar os preconceitos de sua época. Nossas análises que resultam em tais comprovações se encontram publicadas em livros e artigos que podem ser encontrados em nosso site. Aproveitamos para esclarecer que apontar na obra de Lobato seu esforço para denunciar as injustiças que foram e continuariam sendo praticadas contra as pessoas da etnia negra no Brasil e nos Estados Unidos não significa negar o racismo e o mal por ele causado, muito pelo contrário.
Que a luz da razão ilumine nossas mentes e dissipe as trevas em que conceitos que precedem a análise insistem em se esgueirar.
XXIX Encontro com Lobato
A palestra que será ministrada pela Dra. Vanete Santana-Dezmann acontecerá durante o XXIX Encontro com Lobato, no dia 19 de setembro de 2024, das 19h00 às 21h00 (horário de Brasília), com transmissão pelo canal da FFLCH/USP no YouTube.