Dia de Hoje na História

19/9/1921: nasce o pedagogo e militante Paulo Freire

Antes de ser o Patrono da Educação Brasileira, Freire foi um militante em defesa da educação dos trabalhadores

Paulo Freire, amplamente reconhecido como o “Patrono da Educação Brasileira”, teve uma juventude marcada por fortes influências militantes que o levaram a desenvolver uma das pedagogias mais revolucionárias do século XX. Antes de se tornar o acadêmico reverenciado, Freire passou por um processo de formação em que sua vivência e sua militância nas décadas de 1950 e 1960 moldaram sua visão de educação, transformando-a em um ato político e social.

Nascido em 1921, no Recife, cresceu em um Brasil marcado por profundas desigualdades sociais. A miséria que ele presenciou na infância, agravada pela Grande Depressão de 1929, teve um impacto duradouro. Sua família, antes de classe média, passou por dificuldades financeiras, e a fome se tornou uma presença constante em sua vida. A conscientização de Freire sobre a desigualdade social começou cedo, já que ele viu como a pobreza limitava as oportunidades e o acesso à educação para grande parte da população brasileira.

Esse cenário de adversidade foi um dos fatores que o levaram a querer compreender melhor a situação das classes populares e os mecanismos de opressão aos quais estavam submetidas. Freire se formou em Direito, mas nunca exerceu a profissão. Ao contrário, direcionou sua atenção para o ensino, atuando como professor de língua portuguesa e se envolvendo em projetos educativos com trabalhadores rurais e urbanos.

A partir da década de 1950, Paulo Freire começou a se envolver diretamente com questões sociais e políticas, aprofundando seu trabalho de base junto às classes populares. No Recife, ele se associou ao Movimento de Cultura Popular (MCP), onde desenvolveu seus primeiros experimentos de educação voltados para a alfabetização de adultos. Sua metodologia não se limitava a ensinar apenas a ler e escrever, mas também a conscientizar politicamente os educandos. Freire começou a perceber que a educação deveria ser um processo libertador, onde o aluno não fosse um mero receptor passivo do conhecimento, mas sim um sujeito ativo capaz de refletir criticamente sobre sua realidade.

Foi nesse período que ele formulou o conceito de “educação bancária”, em que o professor deposita informações nos alunos como se fossem cofres vazios. Freire rejeitava essa abordagem, afirmando que a verdadeira educação deveria ser um processo de diálogo, onde o professor e o aluno aprendem juntos, trocando experiências e saberes. Esse conceito de educação dialógica seria a base de toda sua obra futura e de sua militância.

Na década de 1960, Paulo Freire já estava profundamente envolvido na luta pela alfabetização e emancipação dos trabalhadores rurais. Em 1962, ele liderou um projeto piloto em Angicos, no interior do Rio Grande do Norte, onde, em apenas 40 horas de aulas, conseguiu alfabetizar 300 cortadores de cana. Esse feito chamou a atenção do governo de João Goulart, que o convidou para implementar seu método em um programa nacional de alfabetização. Naquele momento, Freire começou a ganhar notoriedade não apenas por sua eficácia, mas também por sua abordagem profundamente política da educação. Para ele, aprender a ler não era apenas dominar a técnica da leitura, mas entender o mundo e sua posição nele.

Freire via a educação como uma prática de liberdade. Ele acreditava que o processo educativo deveria romper com as estruturas de opressão, capacitando os indivíduos a transformar a realidade social. Em sua visão, a alfabetização não era um fim em si mesma, mas o começo de um processo de conscientização política e emancipação. Esse conceito se alinha diretamente com sua filosofia marxista, em que a libertação das classes oprimidas só pode ocorrer quando elas adquirem consciência de sua condição e agem coletivamente para mudar essa realidade.

Freire era, portanto, um militante. Seu trabalho com os camponeses do nordeste brasileiro o colocou em contato direto com a dura realidade de uma classe social marginalizada e excluída do processo político. Ele entendia que a educação, como um ato de conscientização, era uma forma de resistir e combater a dominação de classe. Através da educação, Freire acreditava que seria possível transformar a estrutura social opressora e construir uma sociedade mais justa e igualitária.

O trabalho de Paulo Freire na alfabetização de adultos estava em seu auge quando, em 1964, ocorreu o golpe militar no Brasil. O novo regime, que se opunha veementemente a qualquer iniciativa que pudesse levar à conscientização das massas, considerou Freire um perigoso subversivo. Ele foi preso e acusado de traição e, depois de passar 70 dias na prisão, foi exilado. A partir desse momento, a trajetória de Freire toma um novo rumo, mas sua militância nunca cessou. No exílio, primeiro no Chile e depois em diversos países, ele continuou a desenvolver suas ideias e aplicá-las em contextos internacionais.

Freire passou cinco anos no Chile, onde colaborou com o governo socialista de Salvador Allende e trabalhou com o Instituto Chileno para a Reforma Agrária (ICIRA). Foi nesse período que ele escreveu sua obra mais conhecida, Pedagogia do Oprimido, que viria a se tornar um dos livros mais influentes no campo da educação crítica em todo o mundo. Nesse livro, Freire articulou de forma sistemática sua concepção de educação como um ato de resistência à opressão.

No exílio, Paulo Freire ampliou seu campo de atuação, passando a colaborar com movimentos de libertação na África e na Ásia. Ele também trabalhou para o Conselho Mundial de Igrejas em Genebra, na Suíça, onde coordenou projetos educativos em diversas partes do mundo. Seu método de educação popular foi adotado por diversos movimentos revolucionários, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Brasil e os movimentos de libertação na Guiné-Bissau e em Angola.

Freire sempre defendeu que a educação deveria ser uma ferramenta para a transformação social, e não apenas para a adaptação ao status quo. Ele acreditava que a verdadeira educação era aquela que permitia às pessoas perceberem as contradições de sua realidade e lutarem para transformá-la. Esse princípio o manteve próximo de movimentos sociais e políticos em todo o mundo, onde sua pedagogia foi aplicada para promover a conscientização e a libertação dos povos oprimidos.

Embora Paulo Freire tenha se tornado mais conhecido nos círculos acadêmicos em seus últimos anos, sua juventude e militância foram fundamentais para moldar sua abordagem pedagógica e sua visão de mundo. Ele nunca se afastou de suas raízes militantes e sempre viu a educação como um ato de resistência e transformação. Sua obra continua a inspirar educadores, militantes e movimentos sociais em todo o mundo, especialmente na América Latina, onde seu legado está profundamente enraizado nos movimentos de base que lutam pela justiça social.

Freire foi um dos primeiros a entender que a educação poderia ser um instrumento de luta contra a opressão, e sua abordagem militante continua a ser um farol para aqueles que acreditam na possibilidade de uma educação libertadora.

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