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Sayid Tenório

Historiador, especialista em Relações Internacionais e vice-presidente do Instituto Brasil-Palestina (Ibraspal). Autor do livro Palestina: do mito da terra prometida à terra da resistência (Anita Garibaldi/Ibraspal). Twitter/X: @soupalestina

Coluna

Em gestação a terceira intifada

Guerra genocida de Israel contra o povo palestino na Faixa de Gaza não conseguiu nem será capaz de alcançar nenhum dos seus objetivos agressivos

A Cisjordânia ocupada está à beira de uma grande explosão. O evento mais temido pelo regime sionista pode estar prestes a acontecer, em decorrências das crescentes ações da resistência palestina: a eclosão de uma terceira intifada, que se tornará numa frente crucial ao lado de Gaza e do Norte, muito difícil de ser enfrentada e vencida pelas forças da ocupação sionista.
Uma frente de combates complexa com a qual o exército de “Israel” terá que lidar, quando se sabe que o ente sionista não dispõe condições militares para enfrentar uma guerra de guerrilhas urbana contra a resistência palestina, caracterizada por maior ousadia dos militantes, organização e desenvolvimento de operações que paralisam o inimigo, como as ações ocorridas recentemente no Bairro de Gush Etzion, no coração de Tel Aviv, em Hebron, Jenin e Nablus.

Intifada é uma palavra árabe que significa literalmente “revolta” e designa o movimento de insurgência popular contra a ocupação israelense e teve origem nos levantes da Primeira Intifada, que eclodiu em Gaza em 8 de dezembro de 1987 e se estendeu rapidamente pelos territórios ocupados. Ficou conhecida como “Intifada das pedras”, porque o exército mais poderoso do mundo tinha sido desafiado por crianças e jovens com pedras, o que produziu a imagem que correu o mundo onde uma criança palestina “ameaça” um tanque de guerra sionista com pedras nas mãos. Durou até 13 de setembro de 1993.

A segunda Intifada explodiu em 28 setembro de 2000, diante da frustração com os desdobramentos dos Acordos de Oslo, assinados entre “Israel” e a OLP, assim como com as políticas continuadamente repressivas e belicosas do regime sionista. O estopim foi uma incursão que Ariel Sharon fez na Mesquita sagrada de Al Aqsa, cercado de forte aparato de segurança, que foi entendido pelos mais de mil palestinos presentes, como uma provocação inaceitável. Durou até 8 de fevereiro de 2005.
A questão de uma terceira intifada tem sido cogitada em meio à escalada das tensões entre “Israel” e a resistência palestina nos últimos anos, com ondas periódicas de violência e resistência, a crescente polarização política no seio sionista, bem como o enfraquecimento da Autoridade Palestina na Cisjordânia.

Embora ainda não tenha havido uma declaração formal de uma nova intifada, alguns elementos sugerem que uma nova fase de conflitos está emergindo. O aumento da violência das forças de ocupação na Cisjordânia, tanto das forças regulares quanto dos bandos de colonos fascistas armados, se intensificaram em várias partes de “Israel” e dos territórios ocupados. A Cisjordânia está movendo-se agora, a resistência está aumentando suas ações e agregando mais combatentes para o desencadear de ações que a ocupação não conseguirá deter.

A resistência palestina, com o Hamas e a Jihad Islâmica à frente, têm realizado ataques cada vez mais eficientes contra as forças de ocupação, e o governo israelense respondido com operações militares e ações repressivas. Se uma terceira intifada de fato eclodir, Israel enfrentará grandes desafios para contê-la, assim como aconteceu nas intifadas anteriores.
A resistência palestina vem passando por transformações significativas desde as duas primeiras intifadas. A tecnologia e as redes sociais têm permitido uma mobilização mais rápida e abrangente, o que pode tornar o movimento menos centralizado e, portanto, mais difícil de conter. A resistência palestina se diversificou, adotando táticas que permitem que os combatentes operem de forma descentralizada, tornando as coisas mais difíceis para “Israel”.

Dado o cenário atual, é provável que Israel encontre dificuldades crescentes para deter uma terceira intifada. A repressão militar, prisões e assassinatos, por si só, não serão suficientes para acabar com um movimento que envolve tanto resistência popular quanto ações militares de grupos organizados, além de ter raízes profundas nas questões de ocupação, direitos e autodeterminação.

A eclosão de uma Intifada na Cisjordânia levará ao agravamento de uma situação na qual “Israel” contabiliza um infortúnio sem medidas, ao não conseguir alcançar a vitória total prometida por Netanyahu. Nem expulsou o Hamas de Gaza e nem recuperou os reféns israelenses. Ao contrário disso, além de derrota militar, política e moral em Gaza, “Israel” vem perdendo o Norte da Palestina ocupada, com a destruição de seus postos militares pelos poderosos ataques do Hezbollah e a evasão massiva de colonos judeus.

Os chefes sionistas sabem que não há esperança de vitória absoluta em Gaza. E que a situação está se tornando cada dia pior na frente Norte, na qual o exército israelense perde continuamente sua capacidade militar com a destruição de dispositivos de vigilância e espionagem, e inúmeras baterias do sistema antimíssil Iron Dome, instalados nas numerosas bases militares ao longo da extensa fronteira com o Líbano.

A guerra genocida de Israel contra o povo palestino na Faixa de Gaza não conseguiu nem será capaz de alcançar nenhum dos seus objetivos agressivos, principalmente o de aniquilar a resistência palestina. As ações tomadas pela ocupação na Cisjordânia, desde a destruição de infraestruturas até os assassinatos e à realização de detenções, não impedirão a resistência palestina de continuar no caminho traçado pelos heroicos mártires até que a Palestina seja libertada, do Rio ao Mar.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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