Em um novo discurso, o presidente dos Estados Unidos da América, Joe Biden, anunciou sua desistência de concorrer à reeleição, comprando a retórica de “defesa da democracia” e afirmando que ela é mais importante do que qualquer título. O pronunciamento foi feito nesta quarta-feira (24) diretamente do Salão Oval da Casa Branca (sede do governo federal), três dias após oficializar sua saída da disputa presidencial contra o ex-presidente e favorito pelas pesquisas Donald Trump.
“A defesa da democracia, que está em risco, é mais importante do que qualquer título,” disse Biden. “Decidi que a melhor maneira de avançar é passar o bastão para uma nova geração.” O presidente, de 81 anos, ressaltou que sua decisão não foi motivada por interesses pessoais, mas pelo bem do país. Ele afirmou, de forma genérica, que a democracia está em um ponto de inflexão e que as decisões tomadas agora determinarão o futuro da nação.
Biden elogiou sua vice-presidente, Kamala Harris, chamando-a de “forte e capaz,” e destacou a importância da escolha que os eleitores farão em novembro. “Eu gostaria de agradecer à nossa grande vice-presidente Kamala Harris. Ela é esperta, ela é forte, ela é capaz.
Ela tem sido uma parceira incrível para mim e líder do nosso país. Agora a escolha é de vocês, americanos,” afirmou Biden, reafirmando que Kamala esteve ao seu lado politicamente e não apenas passivamente, tendo sido voz ativa nas políticas norte-americanas como, por exemplo, de apoio irrestrito ao genocídio promovido por “Israel” e ao armamento dos nazistas na Ucrânia. “A história está em suas mãos, os poderes estão em suas mãos, a ideia da América está em suas mãos.”
O presidente americano evitou mencionar diretamente seu adversário, Donald Trump, mas comparou indiretamente os dois projetos em disputa nas próximas eleições. “Os Estados Unidos terão de escolher entre avançar ou retroceder, entre a esperança e o ódio, entre a unidade e a divisão,” disse Biden. “Temos que decidir: ainda acreditamos em honestidade, decência, respeito, liberdade, justiça e democracia?”
Biden afirmou, porém, que continuará seu mandato, que termina em janeiro, focado em conduzir bem a economia do país e na defesa dos direitos civis, apesar de já se considerar velho e incapaz de concorrer. O presidente também declarou que pedirá uma “reforma da Suprema Corte, porque isso é crítico para a nossa democracia.”
Na política externa, Biden prometeu continuar seus esforços para conter os avanços do presidente russo, Vladimir Putin, na Ucrânia, fortalecer a OTAN e manter a aliança dos EUA no Pacífico, exaltando a influência americana por lá e pontuando a China como uma ameaça estratégica para o imperialismo. Ele também mencionou a necessidade de pôr fim à guerra em Gaza – embora o “fim da guerra” defendido por Washington seja o fim da resistência e dos palestinos.
A decisão de Biden ocorre após semanas de pressão interna e especulações sobre sua capacidade de enfrentar Trump nas urnas. Na sexta-feira anterior ao anúncio, Biden recebeu telefonemas de parlamentares aliados, incluindo a senadora Elizabeth Warren, pedindo que ele não desistisse da disputa.
No entanto, após uma semana difícil, que incluiu quase 40 parlamentares defendendo publicamente sua retirada e um artigo crítico do ator e ativista democrata George Clooney, Biden foi diagnosticado com Covid-19, o que aumentou a pressão sobre sua campanha.
No domingo, Biden oficializou sua desistência por meio de uma carta compartilhada em suas redes sociais. Na carta, ele prometia que faria um discurso explicando suas razões ao longo da semana. O presidente retornou à Casa Branca na tarde de terça-feira, após um período de isolamento em sua residência em Rehoboth Beach, Delaware.
A resposta de Trump ao discurso de Biden veio rapidamente. Em sua rede social, Truth, o ex-presidente afirmou que “mal deu para entender o discurso” e que a fala foi “muito ruim.” Trump também criticou Biden e Kamala Harris, chamando-os de “uma vergonha para os EUA.” A campanha de Trump enviou uma mensagem pedindo doações aos seus apoiadores.
Kamala Harris, agora a pré-candidata democrata à presidência, enfrentará Donald Trump nas eleições de novembro. A decisão de Biden de desistir da reeleição foi recebida com reações mistas dentro do Partido Democrata.
Alguns parlamentares expressaram surpresa e decepção, enquanto outros rapidamente manifestaram apoio a Harris. A rápida declaração de apoio a Kamala Harris foi crucial para silenciar os que defendiam uma disputa aberta na convenção partidária. Líderes democratas, incluindo o ex-presidente Bill Clinton, a ex-secretária de Estado e responsável por atentados terroristas no Oriente Médio contra civis Hillary Clinton, e os líderes da minoria na Câmara e no Senado, Hakeem Jeffries e Chuck Schumer, respectivamente, endossaram Harris como candidata.
Biden afirmou que está comprometido em garantir que Harris seja eleita presidente. “O nome mudou na cabeça da chapa, mas a missão não mudou em nada,” disse Biden em uma conversa com sua equipe de campanha na segunda-feira, destacando, uma vez mais, que Kamala será a continuidade da política imperialista que esteve presente em seu mandato. Ele assegurou que continuará a apoiar a campanha de Harris e que fará tudo ao seu alcance para garantir sua vitória em novembro.
