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Imprensa brasileira

As lições de O Globo sobre o método identitário

Porta-voz do imperialismo usa as origens operárias do novo primeiro-ministro para disfarçar que sua política promete um duro ataque aos trabalhadores e pressionar Lula à direita

Um dos três principais porta-vozes do imperialismo, o jornal O Globo celebrou, é claro, a curiosa vitória do Partido Trabalhista no Reino Unido, na qual o partido diminuiu sua votação em relação às eleições de 2019, mas quase dobrou a presença no Parlamento. O editorial da edição da última sexta-feira (5) do jornal carioca, intitulado “Vitória de Starmer aponta caminho a políticos de centro”, destaca que a “vitória avassaladora do Partido Trabalhista nas eleições britânicas traz lições não apenas para o Reino Unido, mas para a Europa, Brasil e um mundo atônito com o avanço da direita de feições nacionalistas e populistas”, acrescentando uma caracterização do novo primeiro-ministro, Keir Starmer: um social-democrata clássico”.

O fato de um órgão com a natureza política de O Globo celebrar a vitória dos trabalhistas já deveria servir de alerta aos esquerdistas que embarcaram na euforia desorientada impulsionada com o novo governo britânico. No entanto, chama atenção a forma como o diário carioca busca tornar Starmer “palatável”, indo além do “social-democrata clássico” supracitado:

Filho de uma enfermeira e um operário, Starmer se tornou um advogado de sucesso na luta por direitos humanos. Foi procurador-geral e só entrou na política aos 52 anos. É um trabalhista tradicional, preocupado com a qualidade dos serviços públicos e proteções sociais. No Parlamento, destacou-se pela objetividade e habilidade na negociação e pelo desapego a ideologias na busca por resultados. Se há uma queixa em relação a Starmer, é justamente a falta de norte ideológico definido. Por isso agrada a diversos públicos.

Na propaganda de O Globo, as origens de Starmer (“filho de enfermeira com operário”) dariam ao primeiro-ministro o que o jargão identitário chama de “lugar de fala”, isto é, autoridade acima de questionamento, para determinado assunto. A alusão à classe operária e a operação para torná-lo um representante classista é clara.

Alçá-lo à posição de detentor do “lugar de fala” da classe trabalhadora é uma forma relativamente sutil de contrapor Starmer a Jeremy Corbyn, que, apesar do berço pequeno-burguês, constituiu-se na principal liderança do proletariado britânico atualmente, um caminho inverso ao percorrido pelo primeiro-ministro. O ex-trabalhista e membro do Parlamento foi reeleito na condição de independente (isto é, sem um partido), aumentando expressivamente os votos recebidos em seu distrito, mais de 40% em relação às eleições gerais de 2019.

Durante o período eleitoral, Corbyn fez questão de manter sua posição de defesa consequente da Palestina, apoiando os partidos da Resistência e desafiando a ditadura sionista em ascensão no Reino Unido, trajando xales com as cores da bandeira palestina. O Globo não menciona o fato e, apostando na ignorância, destaca a diferença em relação a Starmer:

“O discurso de Starmer fala em recuperar o sistema de saúde, conter a inflação e outras questões práticas. [grifo nosso]” É quase como se o cargo disputado fosse uma prefeitura de cidade pequena brasileira e não o governo de uma nação.

Para não deixar dúvidas de que “filho de enfermeira com operário” é contra Corbyn, O Globo continua:

“Ao assumir o partido depois da gestão desastrosa de Jeremy Corbyn, ele promoveu uma limpeza das alas radicais. O movimento ao centro surtiu resultado, e os trabalhistas colheram vitórias em distritos que haviam perdido para os conservadores. A guinada do eleitorado mostra o êxito dessa fórmula para romper a polarização.”

Eis a mágica: o burocrata Starmer é apresentado com credenciais que nada têm a ver com sua atuação política atual, isto é, suas origens operárias. Depois, com seu “lugar de fala” devidamente estabelecido, a crítica à “gestão desastrosa de Jeremy Corbyn” e os aplausos à “limpeza das alas radicais”, resultando em um “movimento ao centro” que, no fim, “surtiu resultado”.

Não faltarão esquerdistas para defender a fórmula mágica do golpe, mas o que realmente aconteceu no Reino Unido não é outra coisa além disso. Só em um regime extremamente antidemocrático como o britânico é possível um partido diminuir sua votação e ocupar tantas cadeiras no Parlamento, resultado há muito antecipado pela máquina de propaganda imperialista, que talvez não tenha previsto o crescimento dos independentes como Corbyn, o que tornou a operação inteira estranha, para não dizer um crime.

A “vitória” dos trabalhistas não foi a vitória dos trabalhadores britânicos, mas a vitória de seus piores e mais mortais inimigos: o imperialismo. Foram os monopólios que engendraram o golpe que alçou o Partido Trabalhista de volta ao governo do Reino Unido e são eles os principais interessados em usar o que resta de popularidade do partido para a manutenção de uma política antipopular, de ataques aos trabalhadores e a seus direitos democráticos.

Toda a euforia em torno de Starmer é, na essência, uma pressão pelo “movimento ao centro” do presidente Lula e a máscara identitária do “filho de enfermeira com operário” usada por O Globo é fundamental para o golpe, para que ele pareça algo orgânico à classe e não o que realmente é: uma manobra para atacar duramente as massas trabalhadoras. É a síntese, em resumo, do que o identitarismo realmente é.

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