O jornal norte-americano The Militant publicou nova matéria atacando a Resistência Palestina e defendendo o sionismo, um de seus temas mais frequentes do órgão, desde a operação liderada pelo Hamas para libertar presos políticos palestinos que definham nas masmorras sionistas. Intitulado ‘Hamas trafficked in Palestinian blood, ruined our lives’ (Vivian Sahner, ‘O Hamas traficou sangue palestino e arruinou nossas vidas’ em português), o artigo, basicamente, reproduz críticas de supostos opositores do Hamas, mas que tampouco indica uma política concreta para lidar com a opressão sofrida pelo povo árabe.
Como o título indica, as críticas figuram entre as difundidas aos montes pela imprensa imperialista, como a abaixo:
“’Não quero sacrificar minha vida, meu lar e minha casa por ninguém’, inclusive pelo Hamas, disse Ameen Abed, morador de Jabalia, ao New York Times em um artigo de 16 de junho. ‘Quem são vocês para impor esse tipo de vida a mim?’ Enquanto o Hamas e até mesmo os reféns israelenses estavam nos túneis subterrâneos, os habitantes de Gaza estavam acima do solo, sem nenhuma proteção, disse ele”.
Em outra “declaração”, nitidamente orientada a uma campanha de intriga, um interlocutor, identificado como “ Motaz Azaiza, um conhecido fotojornalista de Gaza”, o órgão norte-americano noticia que “há uma raiva descontrolada contra o Hamas”, diz.
“‘Ele [o Hamas] jogou o povo palestino no fundo do poço.’ ‘Se a morte e a fome de seu povo não fazem diferença para eles’, escreveu Motaz Azaiza, um conhecido fotojornalista de Gaza, sobre o Hamas em março, ‘eles não precisam fazer diferença para nós. Maldito seja todo aquele que traficou nosso sangue, queimou nossos corações e lares e arruinou nossas vidas’“.
É no mínimo curioso que todo o repúdio a quem “traficou nosso sangue, queimou nossos corações e lares e arruinou nossas vidas” não seja dirigido a “Israel”, que comete crimes não apenas iguais, mas piores, e cotidianamente. O mesmo pode ser dito da declaração anterior, sobre “sacrificar vida, lar e casa”. Fosse honesto, o jornal faria algum esforço para demonstrar que são da Resistência Palestina os aviões que bombardeiam os habitantes de Gaza acima do solo, assim como os profissionais de saúde que “traficam sangue palestino, queimam corações e lares”, etc.
Os ingênuos de The Militant podem desconhecer completamente o fenômeno, mas quem se dedica à luta política real (especialmente na América Latina), já teve algum contato com emigrados cubanos radicalmente opostos à república operária lá instaurada pela Revolução de 1959. São os conhecidos gusanos (verme, em português), contrarrevolucionários obstinados, que em muito se assemelham à militância fascista da extrema direita. Existem em Cuba, nos EUA, no Brasil e certamente podem ser encontrados na Palestina, por que não?
O “cheiro” de gusano fica ainda mais explícito em outras declarações, destacadas pelo desorientado jornal como se fossem comprovações da impopularidade do Hamas, mas que só terminam por confirmar o partido como a verdadeira força progressista, independente e revolucionária na luta de vida ou morte contra o imperialismo:
“Outra moradora de Gaza, que recentemente fugiu para o Egito e pediu ao Times para não usar seu nome por medo de repercussões contra sua família, disse que eles lhe disseram que não querem que a guerra termine [grifo nosso] antes que o Hamas seja derrotado”.
Se “não quero sacrificar minha vida, meu lar e minha casa por ninguém” parece uma declaração desorientada e profundamente egoísta em meio a um massacre em curso, não querer que a guerra termine quando mais de 100 mil conterrâneos foram mortos ou feridos é sintomático da absoluta falta de empatia e desconexão com o meio social em que vive.
A defesa explícita da ofensiva genocida do imperialismo, empreendida pelos sionistas contra o martirizado povo palestino não é outra coisa, mas um apoio aberto às barbaridades cometidas por “Israel” contra os palestinos. Com mais 37 mil civis assassinados, dos quais a imensa maioria são mulheres e crianças, a política expressa acima pode ser traduzida como “mate mais e só pare quando nenhum palestino puder se defender”.
Finalmente, isso é o que os partidos da Resistência Palestina são: instrumentos criados pela sociedade palestina para organizar a defesa do povo massacrado contra “Israel” e sua ditadura. A defesa do genocídio aparece em outro trecho da matéria de The Militant:
“Outra reportagem recente, publicada no National Post do Canadá em 14 de junho, cita um cidadão de Gaza que diz que o Hamas é muito menos popular do que afirma a impnresa, como a Al Jazeera, financiada pelo Catar. Ele pediu para não ter seu nome revelado devido a protestos anteriores contra o Hamas dos quais participou e disse que espera que as forças israelenses permaneçam até que o Hamas seja derrotado [grifo nosso] e possa ser substituído por moradores da região”.
Em uma conjuntura à qual os palestinos foram empurrados pelo imperialismo e o sionismo, sequer deve ser difícil encontrar insatisfeitos e intrigados. Tivesse, no entanto, o órgão do Partido dos Trabalhadores Socialistas dos EUA (SWP, na sigla em inglês) com a cabeça no lugar, entenderia que os jornais da propaganda imperialista tem um interesse concreto ao publicar declarações em defesa dos ataques de “Israel”: a defesa, efetivamente, de toda a campanha do sionismo para erradicar o Hamas, custe o que custar.
Dito trotskista, é evidente também que a luta de classes está longe de ser a fonte de orientação do órgão. Do contrário, jamais dariam atenção a tais tolices, mas em caso de dúvida, a questão a que se dedicariam a analisar é “como um partido político (o Hamas ou qualquer outro) se sustenta do ponto de vista social?”
Dado o antagonismo entre as massas palestinas oprimidas e o imperialismo opressor, em qual setor social alinha-se o partido governante de Gaza? Do imperialismo é mais do que certo que não, haja vista o empenho da ditadura dos monopólios em caluniar o partido nos seus órgãos de imprensa e destruí-los militarmente, sem qualquer consideração com custos humanos acarretados, como comprovando pela morte de cerca de 17 mil crianças.
Como papagaios dos monopólios mundiais, The Militant insiste que tampouco são as massas palestinas que apoiam o Hamas, valendo-se para isso de declarações opositoras publicadas exatamente nos órgãos de imprensa do imperialismo. Ora, então quem? Seria um governo solto no ar que, por acaso, ganhou as eleições parlamentares de 2007 e por algum mecanismo misterioso, conseguiu uns bate-paus para expulsar o desmoralizado Fatá, que resistia a entregar o poder. E tudo isso, devemos lembrar, enquanto “Israel” decretava o bloqueio criminoso e genocida da Faixa de Gaza.
A falta de uma posição calibrada por parte do jornal do SWP termina por torná-los porta-vozes do imperialismo, e do pior tipo, o que dá um verniz socialista e revolucionário à propaganda da política contrarrevolucionária, levando confusão às fileiras da luta anti-imperialista. Não basta se declarar “um semanário socialista publicado no interesse dos trabalhadores”. É preciso sê-lo nos momentos de crise, quando o principal inimigo dos trabalhadores é enfrentado, e isso é o oposto do que o sionista The Militant tem sido.