Na quinta-feira (23), chuvas fortes atingiram Porto Alegre e fizeram com que a cidade voltasse a ficar inundada. Dessa vez, a água também começou a sair dos bueiros ao redor da cidade, chegando a inundar bairros que ainda não haviam sido alagados no último mês.
Segundo o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), em 15 horas, o volume de chuva ultrapassou os 100 milímetros na Zona Sul da capital gaúcha. No dia seguinte, sexta-feira (24), o Serviço Geológico do Brasil (SGB) afirmou que o nível do Rio Guaíba voltou a ultrapassar a marca dos quatro metros.
Para tentar explicar a situação dos bueiros, Maurício Loss, o diretor do Departamento Municipal de Água e Esgoto (DMAE), além de negar que tenha ocorrido um “colapso” no sistema de drenagem, afirmou que o barro que foi levado pelas cheias das últimas semanas secou, impedindo o funcionamento das galerias pluviais.
“Há um grande acumulo de areia e de lodo depositados sobre essa redes, diminuindo ainda mais a eficiência dessa rede”, afirmou. Loss também disse que o fato de que apenas 10 casas de bombeamento de um total de 23 estão funcionando é um problema para o escoamento.
O Prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), como se não fosse culpado pela destruição da cidade, disse que “aquilo que era um problema das áreas alagadas estendeu-se, praticamente, a toda cidade com essa chuvarada”.
Além de não organizar a simples limpeza dos bueiros e a desobstrução do sistema de escoamento de água, Melo, na semana passada, ignorou completamente medidas recomendadas por especialistas para acabar com a inundação da capital gaúcha.
Segundo o jornalista Jeferson Miola, um grupo de acadêmicos, cientistas e ex-diretores dos departamentos de Esgotos Pluviais (DEP) e de Águas e Esgotos (DMAE) entregou ao Prefeito, no dia 17 de maio, recomendações que poderiam resolver o problema em 48 horas.
“Os especialistas recomendam o emprego de mergulhadores para vedar as comportas e impermeabilizar as áreas de infiltração com materiais específicos; o fechamento hermético de tampas de dutos forçados para impedir o refluxo de águas; e a energização ou conserto das casas de bombas que devolvem a água invasora para o Guaíba”, afirma Miola.
Em relação às bombas de escoamento, Melo é mais culpado ainda quando levado em consideração que, quando era candidato em 2020, ele afirmou que evitaria alagamentos na cidade por meio da manutenção das casas de bombas.
Em publicação feita nas redes sociais, o emedebista criticou a gestão do ex-prefeito Nelson Marchezan Jr. (PSDB): “perdeu R$ 121 milhões destinados à reforma das casas que bombeiam a água da chuva”. Ele garantia, então, que, para evitar alagamentos, as pessoas deveriam votar nele.
“Se, nos últimos 4 anos, tendo as verbas disponíveis para as reformas, a Prefeitura não resolveu o problema dos alagamentos, por que agora, sem as verbas, resolveria? É hora de mudar. A cidade não pode continuar como está. Dia 15, vote 15. Porto Alegre tem solução!”, afirmou em sua página no Facebook.
Em outra publicação, ele voltou a insistir em sua proposta:
“Existem diversas Casas de Bombas em Porto Alegre que bombeiam as águas da chuva na cidade. Mas elas precisam ser reformadas, para resolver os problemas de alagamento que tanto prejudicam nossa população. O atual prefeito perdeu todos os prazos para apresentar um projeto de reforma, e os porto-alegrenses continuam sofrendo.”
De acordo com professores do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a falta de manutenção no sistema antienchentes é justamente a principal causa da inundação de Porto Alegre. Em nota técnica, especialistas da instituição afirmaram que “anos sem manutenção adequada levaram o sistema a falhar, levando a inundação da capital gaúcha novamente esse ano, sendo que sua magnitude foi a maior já registrada”.
Entretanto, não é a primeira vez que Melo houve falar desses problemas. Conforme já noticiado por este Diário, em 2018, a Prefeitura havia sido alertada sobre o risco de falhas no sistema de bombeamento na região central de Porto Alegre em caso de cheia do Rio Guaíba. Além disso, o Poder360 dá conta de que o mesmo alerta foi feito após as cheias de setembro de 2023, quando 54 pessoas morreram no Rio Grande do Sul também em decorrência de enchentes.
Melo não fez absolutamente nada disso e não tardou para que chegasse o resultado de sua inoperância. Agora, com o relativo recuo das águas, a capital do Rio Grande do Sul volta a acumular toneladas de lixo, com montanhas de descartes de móveis, alimentos, produtos e outros bens destruídos pelas chuvas se acumulando em toda a cidade.
Segundo o Globo, moradores relatam mau cheiro por conta dos restos mortais de peixes e de outros animais, insetos e animais peçonhentos. Segundo anúncio feito pela Prefeitura em 16 de maio, 119 toneladas de lixo já haviam sido removidos somente nos bairros Cidade Baixa e Menino Deus.
Confira, abaixo, fotos publicadas pela Agência O Globo da situação da capital gaúcha:
A cidade também está em alerta para novos deslizamentos. A Prefeitura emitiu um comunicado afirmando haver alto risco de deslizamentos, processos erosivos e rolamento de blocos em uma área que abrange trechos de 24 bairros das zonas norte, leste e sul.
Ao mesmo tempo, segundo a Agência Brasil, em toda a região metropolitana de Porto Alegre, pessoas estão improvisando acampamentos em barracas ou nos próprios carros estacionados no acostamento das rodovias para vigiarem as suas casas.
“Aqui tem um banheiro químico, mas é precário. Há muitas pessoas que vêm ajudar, mandam remédio, água, é o que está garantindo a sobrevivência. O governo não manda nada. A gente até estava esperando um pessoal para cadastrar no programa Volta por Cima [do governo estadual], mas não apareceu”, reclama Hariana Pereira.
Ela, ao lado de seus quatro filhos e seu marido, agora dorme em um furgão antes utilizado pela família para transportar materiais para reciclagem.
Além disso, o aeroporto de Porto Alegre continua alagado, completando, na quarta-feira (22), 20 dias debaixo d’água. Confira fotos da AFP do local:
Enquanto isso, o resto do Rio Grande do Sul continua em meio a uma grande catástrofe. Diante das chuvas de quinta-feira (23), o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) emitiu um alerta da elevação dos rios e previsão de acumulados de até 15 mm de chuva. Ademais, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) colocou todo o estado em alerta para chuvas intensas. O estado também está em alerta para deslizamentos.
Também na quinta-feira, a Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul confirmou mais duas mortes por conta de leptospirose. Dessa vez, as vítimas são um homem de 56 anos em Cachoeirinha e outro de 50 anos em Porto Alegre. No total, além de 54 casos confirmados, quatro pessoas já faleceram em decorrência da doença.