Em editorial publicado na última sexta-feira (17), o jornal golpista Folha de S. Paulo diz que o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, “erra ao nomear potencial candidato do PT a governador para chefiar pasta destinada a coordenar socorro ao estado” (“Apoio ao RS não deveria ser partidarizado”). Segundo um dos principais porta-vozes do imperialismo no País, a indicação do ministro Paulo Pimenta da Comunicação Social pelo o presidente “contaminou a tarefa de lidar com a tragédia climática do Rio Grande do Sul, já complexa ao extremo, com um lance de oportunismo político rasteiro”, deixando claro o desagrado de um setor da ditadura dos monopólios com a política do governo para o estado sulista.
Em seu editorial, Folha defende que “pode-se discutir a melhor forma de coordenar todos os esforços e recursos. O que não se pode é transformar uma crise real numa disputa partidária”, o que não é nada além de um exercício de cinismo. Dadao a calamidade produzida por Eduardo Leite (governador do Rio Grande do Sul desde 2014, é preciso lembrar), obviamente a coordenação de esforços e recursos terá de passar por fora do Palácio Piratini (sede do governo estadual). Ante a impossibilidade do governador tucano desempenhar qualquer função, o que o jornal defende é que a tarefa seja dada não a alguém de confiança de Lula, mas dos mesmos monopólios que provocaram a catástrofe.
Alguém muito ingênuo pode ter a estranha ideia de que a magnitude da tragédia que assola o Rio Grande do Sul fez o imperialismo mudar de política, porém vejamos o que dizem alguns de seus principais porta-vozes:
“A despeito de todo o drama vivido pelos gaúchos, com centenas de mortos e desabrigados, o pleito de perdão total do débito faz sentido? Por mais dura que seja, a resposta é não”, escreveu a colunista do Estado de S. Paulo Raquel Landim (“Perdão total da dívida do RS faz sentido? Por mais dura que seja, a resposta é não”, 13/5/2024). Embora grotesco, a colocação de Landim em um dos mais importantes jornais da burguesia imperialista do País tem um ponto positivo, o de expressar a desumanidade dos monopólios que se beneficiam do parasitismo, do povo gaúcho e do povo brasileiro em geral. Finalmente, é preciso destacar que esta é a posição não apenas da colunista e tampouco do Estadão ou da Folha, mas do imperialismo.
A essa classe social, com esse tipo de interesse, é que servem ambos os jornais golpistas e pessoas como Landim e Leite. Quando critica Lula pela escolha do ministro Pimenta para coordenar o apoio do governo federal ao estado, é alguém como esses dois e ligado a essa setor social que a Folha de S. Paulo tem em mente, ainda que não o diga abertamente.
Bem posto, o que o jornal e o imperialismo indicam é o interesse em manter a mesma política destrutiva que Leite vinha aplicando, bem como de seus antecessores no governo do estado, que longe de enfrentarem os problemas decorrentes do sucateamento da infraestrutura gaúcha, acentuaram a rapina do Rio Grande do Sul em favor dos monopólios. Passado o momento da comoção causada pela catástrofe, o que os beneficiados pelas enchentes querem é que nada mude, algo que um governo de trabalhadores não pode aceitar em hipótese alguma.
A defesa dos interesses populares por Lula implica, necessariamente, em tomar rédea da situação e colocar alguém de sua confiança na coordenação dos esforços para socorrer o Rio Grande do Sul da catástrofe produzida por Leite e demais cúmplices. Não “partidarizar”, isto é, deixar o governo estadual do PSDB continuar sua política com dois terços do estado submersos e mais de meio milhão de gaúchos desabrigados, tornaria qualquer um cúmplice do crime cometido pelos tucanos.
Ainda, a fórmula adotada pela Folha de S. Paulo é perfeita para quem deseja espalhar confusão. Ao tratar a intervenção “leve” organizada pelo governo federal como uma mera disputa eleitoral, o jornal tira o fundo social dos interesses em conflito no Rio Grande do Sul, que podem ser traduzidos em um pequeno grupo de poderosos vampiros querendo sugar até a última gota de sangue da população e este segundo grupo, majoritário e que não quer sofrer as consequências naturais dessa política, e que podem ser vistas hoje no estado gaúcho.
O erro do governo reside na resistência em implementar uma verdadeira intervenção em um dos últimos redutos do PSDB no País e afastar do Palácio Piratini os criminosos responsáveis pela catástrofe. Deixar tudo como está, como quer Folha e os banqueiros que o jornal representa, seria uma cumplicidade.