Não se vê acontecer uma atrocidade de Israel sem que, na sequência, representantes das organizações sionistas não comecem a justificar com “há informações de que, neste local, o Hamas ‘fazia isso ou aquilo’ e se escondia usando a população”. Não importa o que tenha ocorrido. Seja o bombardeamento de um bairro civil, seja a destruição de um hospital, seja o ataque a uma missão humanitária da Organização das Nações Unidas (ONU), sempre a justificativa é o Hamas. O principal vocalizador disso tudo, sem citar nomes, por precaução, é um sujeito que aparece por aí em todos os principais canais de internet, com seu porte de marombeiro e pinta de Wanderlei Silva de Higienópolis.
Já que não se pode citar o nazismo, essa falsa imputação ao Hamas de todo e qualquer crime de guerra eventualmente cometido pelos sionistas parece, na verdade, o costume medieval de relacionar todos os problemas aos judeus. “Foi o Hamas que envenenou nossa água!”, hão de clamar, tão logo uma doença acometa os soldados do Estado de Israel. Enquanto isso, com meio mundo acreditando nessa muleta e a grande mídia de todos os países transmitindo essa informação como se fosse verdade, Israel vai passando o rolo compressor sobre os destroços de Gaza, e bombardeando o restante, até chegar a Rafah.
Este enclave europeu no Oriente Médio não está dando conta de alguns grupos guerrilheiros palestinos, somados ao Hesbolá e aos Huthis, e não tem para onde destinar suas forças, visto combater um inimigo que lhe é invisível. Em sendo assim, aumenta exponencialmente os ataques aos palestinos, na esperança de atingir o Hamas junto com os civis, e de quebra promover uma limpeza étnica em Gaza. O que, tudo indica, é um passo para que o mesmo procedimento ocorra na Cisjordânia, ainda preservada porque é anexa a Jerusalém, de modo que um ataque a Ramala e Al-Bireh atingiria a cidade sagrada e boa parte da população israelense.
O Hamas, no discurso israelense, não passa de uma muleta. Sabem que, somada a toda a propaganda ocidental, a menção às forças da luta armada palestina, nomeadas terroristas, é uma válvula de escape para a pressão e a culpa que recaem sobre Israel a cada ataque. O Wanderlei Silva vai seguir atualizando o X a cada centena de civis mortos na Palestina, na guerra mais covarde empreendida pelo imperialismo em muitas décadas, e a culpa seguirá sendo do maior inimigo necessário de Israel. Estado este que perverte a natureza da luta palestina para justificar suas atrocidades, deformando as feições do sionismo para aquilo que ele realmente é: uma doutrina política colonial e racista, que coloca em risco não só os palestinos, mas também os judeus.