O que qualquer pessoa que pensa honestamente a história, em considerando-a um estudo sobre o passado que tenta trazer lições para o presente, é: quais são os critérios para de fazer um paralelo de um dado massacre com o holocausto? Porque, se há o componente de ódio racial, se há, eventualmente, a intenção manifesta de extermínio de um povo, se a matança tem método e finalidade, por que não se pode comparar o genocídio palestino ao holocausto? Se assim o for, jamais a humanidade viverá outro, não porque eles não venham a existir, mas porque nunca mais a eles será dado o nome.
Os que atentam contra o presidente Lula por sua feliz e corajosa comparação, feita domingo na Etiópia, deveriam explicar seus critérios para que o genocídio palestino não possa ser comparado ao dos judeus pelos nazistas. São os seis milhões contra cem mil, agora? Essa me parece a mais estúpida e desonesta argumentação, visto sugerir que esperemos que se chegue a, quem sabe, pelo menos um milhão, para discutir o termo. São os métodos: não ter câmara de gás nem campos de concentração assim nominados? Pois suponho que seja mais razoável cercar um povo com dois milhões de pessoa, numa faixa do tamanho de um pequeno município, mas não dar o nome de campo de concentração. Está região que é a mais densamente povoada do mundo, e bombardeada à exaustão. Imagino que isso seja aceitável, para essas pessoas. Não tem “O trabalho liberta” no portão de entrada, afinal.
O fato é que uma parte dos judeus, a mais numerosa e poderosa, quer a exclusividade sobre o holocausto, como importante ferramenta de uso político internacional. O holocausto pertence à humanidade, todos como potenciais perpetradores e vítimas. Ou, caso contrário, os alemães teriam que responder por isso eternamente, espelhando o argumento de que o lugar de vítima só pode ser discutido por judeus ou atribuindo o holocausto como fenômeno isolado e não equiparável.
É óbvio que não. Outros holocaustos virão, enquanto houver luta de classes, sob outras facetas e com ferramentas diferentes. É de se esperar que a próxima, finalmente, não envolva judeus.