O grupo Movimento Revolucionário dos Trabalhadores (MRT) publicou em seu blogue, o Esquerda Diário, uma declaração acerca da operação da Polícia Federal (PF) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. Embora não incorram no erro de celebrar um acontecimento que, ao que tudo indica, foi articulado pelo imperialismo para derrubar o domínio do bolsonarismo no aparato de segurança do Brasil, eles também apresentam uma análise totalmente incorreta deste e de diversos outros fatos da política nacional recente.
A colocação do MRT é de que as ações da PF não atingem o núcleo duro de comando dos militares e que o povo deveria sair às ruas para reivindicar uma investigação mais profunda de todos os envolvidos nos eventos do 8 de janeiro. A questão não é exigir a investigação do alto comando militar devido a uma manifestação de extrema direita ocorrida em Brasília, mas sim exigir que os militares não mantenham o regime brasileiro sob a sua tutela, o que se intensificou desde o golpe de 2016.
Posteriormente na matéria, o articulista busca responsabilizar Lula pelo domínio dos militares na política nacional, citando diversas medidas do governo que, embora sejam de fato reacionárias e direitistas, não são a causa deste problema, que tem uma raiz muito mais profunda do que simplesmente a atuação do governo do PT. Eles denunciam, por exemplo, que “as Forças Armadas seguem sendo agraciadas pelo governo federal com a manutenção de seus privilégios e um orçamento tão grande para o Ministério da Defesa como foi no governo Bolsonaro”, sem chamar a atenção para o fato de que o governo Lula está profundamente pressionado pela direita, o que torna muito complicado, ou até impossível, qualquer alteração no orçamento militar sem que haja uma forte pressão das massas populares nesse sentido.
Em sua matéria, o MRT denuncia o que eles consideram “medidas autoritárias que o judiciário utilizou durante o golpe institucional e na Lava Jato, incluindo a prisão arbitrária do Lula”, afirmando, inclusive, que essas medidas se voltarão contra a esquerda, como se elas não tivessem começado na esquerda, dado o exemplo do próprio Lula.
A solução colocada por eles é “confiar somente na força da mobilização independente da classe trabalhadora, das mulheres, negros, indígenas e LGBTQIAP+ pode avançar nesse sentido”, aproveitando a situação para entrar em uma demagogia identitária que não pode levar a nada além da própria destruição do movimento. Além disso, nunca é demais lembrar que o MRT é parte dos movimentos que procuram desmobilizar a classe operária e a população nas diversas situações em que esta poderia atuar. Um exemplo é o caso da campanha em defesa da Palestina, a qual eles ajudaram, junto com o PSTU, a desmobilizar.
Por fim, eles citam como caso vitorioso das lutas da esquerda a Argentina, demonstrando sua incompreensão total da situação no país vizinho: “o exemplo deste tipo de combate contra a extrema direita e seus ataques no terreno político e econômico vem da Argentina, onde foi a luta nas ruas que impôs uma primeira grande derrota do governo Milei, tendo à frente a classe trabalhadora, trabalhadores da cultura, centenas de assembleias populares, e fortalecida com a intervenção parlamentar revolucionária do PTS, como parte da Frente de Esquerda e dos Trabalhadores – Unidade”.
Primeiramente, é preciso comentar que não houve nenhuma grande derrota de Milei na Argentina. O presidente fascista conseguiu passar sua lei de destruição neoliberal, embora alguns pontos específicos tenham sido deixados de lado, mas não por influência da pressão popular e sim por exigências da própria burguesia Argentina. A questão da perseguição à esquerda e a repressão se mantiveram de pé na proposta final.
A volta do projeto para as fases iniciais de discussão também não representa nada muito significativo do ponto de vista de derrubar nem a lei, e nem o governo.
Além disso, é ridículo dizer que houve algum combate por parte das organizações de esquerda argentinas, que nada fazem contra o governo Milei. A única ação que se viu foi um dia de greve geral que sequer se propôs a atingir todos os setores, deixando de lado importantes setores, como o dos transportes. Foi um fracasso retumbante.
Para além de todas essas questões, é preciso compreender que a ação da Polícia Federal contra Bolsonaro tem como objetivo atingir o bolsonarismo para que o imperialismo possa retomar para si o controle do aparato repressivo brasileiro, incluindo aí a Abin e todas as polícias. Isso é feito através do Judiciário, um poder que já é mais controlado pelo imperialismo do que os outros. Mais do que isso, tem, também, um objetivo eleitoral, procurando prejudicar a extrema direita nos pleitos que virão nos próximos anos.
Não há o que comemorar, portanto. Não se trata de um movimento no sentido de derrotar a extrema direita de fato, mas é apenas o imperialismo tomando o controle de volta do que sempre foi seu. A incompreensão e a disposição ao golpismo contra Lula e o PT impede que grupos como o MRT se posicionem adequadamente sobre a questão.





