A vitória de Javier Milei na Argentina não surpreende. O peronismo oferece muito pouco, ou quase nada aos trabalhadores, e a esquerda argentina não consegue sublevar-se diante de um quadro de dominância financeira internacional sobre o país, com grande peso das demandas estrangeiras pairando sobre o país platino, que infiltra as pautas da Agenda ODS na esquerda.
Um governo de esquerda (se é que podemos considerar Fernandez como esquerda) não pode se afastar dos trabalhadores, pois o custo é a derrota. Cada vez que o governo faz acenos a opressores, o povo se afasta cada vez mais.
Aqui no Brasil, Lula parece estar indo para uma rota suicida. Além de uma forte carga identitária no governo, Lula tem dado muito peso ao Judiciário, como no caso das ações ocorridas no dia 8 de janeiro. Na ocasião, Lula chamou os manifestantes de “terroristas”, dando plena legitimidade ao STF, especialmente ao presidente da corte, Alexandre de Moraes.
Esse apego ao identitarismo e ao judiciário, sem nenhuma melhora econômica significativa, poderá conduzir o PT e a esquerda de conjunto a uma derrota, não somente eleitoral, mas sobretudo política. Uma esquerda alinhada ao identitarismo imposto pela BlackRock, dona formal da Agenda ODS, e ao Judiciário, que tem sede de condenação de qualquer opositor ou manifestante, até mesmo críticos na Internet (a mando dos Estados Unidos, na agenda “antiterror”), tenderá ao fracasso.
Na questão identitária, Lula está dando plenos poderes e legitimando cada vez mais, agentes antinacionais; no plano do judiciário, está dando mais poder a Alexandre de Moraes, Barroso, entre outros membros do STF. Esse incenso a essas figuras desvirtua completamente o papel da esquerda, não somente a revolucionária, e cobrará seu preço.
Lula, que há muito trata essa corja com deferência, nesta terça-feira (21), concedeu a mais alta honraria da Ordem Rio Branco a uma série de políticos vis. Entre os homenageados, além da primeira-dama, a Janja, estiveram os ministros do STF, Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso e Cristiano Zanin, além da ministra aposentada da corte Rosa Weber.
Todos esses representantes da opressão receberam a Grã Cruz, a mais alta honraria da Ordem Rio Branco concedida pelo governo brasileiro para “distinguir serviços meritórios e virtudes cívicas”, com o objetivo de incentivar “práticas de ações e feitos dignos de honrosa menção”.
Além dos juízes, Lula homenageou Lu Alckmin, os ministros Silvio Almeida (Direitos Humanos), Margareth Menezes (Cultura), Simone Tebet (Planejamento), Anielle Franco (Igualdade Racial) e Esther Dweck (Gestão e Inovação), o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, a presidente do Banco Brasil, Taciana Medeiros, e o Cacique Raoni. Militares e diplomatas envolvidos no resgate dos brasileiros repatriados da Faixa de Gaza também receberam a honraria máxima da Ordem Rio Branco.
Tudo bem, pode-se alegar que essa medalha “não vale nada”, que é só um simbolismo, mas demonstra quais são as prioridades de Lula. Pode-se dizer que o homenageado da Petrobras é indicativo da política “altiva e ativa”, mas tudo o que vemos até aqui foi, por um lado, a vitória de Prates contra Marina Silva, no caso do “Novo Pré-Sal” (não se sabe se avançará a prospecção), mas uma série de indicativos de tornar a Petrobrás uma empresa de energia verde.
Nesse ritmo, Lula está se afastando dos trabalhadores e da esquerda, ou na melhor das hipóteses para o presidente, recriando uma esquerda, ou deseducando-a. Até o momento, Lula parece viver e agir dentro de uma bolha, não recorrendo em nada aos anseios da população. Apesar de mirar no combate à fome e programas de transferência de renda, também está mobilizando energias para fazer das “ações afirmativas”, uma organização para carreiristas, não para corrigir distorções.
Lula precisa estar próximo dos trabalhadores. Por exemplo, Luiz Marinho, ministro do Trabalho, está sofrendo ataques da direita por tentar mudar o funcionamento do trabalho em feriados com autorização da convenção coletiva de trabalho. Lula nem aparece na plataforma X para defender Luiz Marinho, como faz sempre com a ala identitária. Esse é o exemplo de Luiz Marinho, um burocrata, imagine se Lula está circulando entre os sindicatos e associações de trabalhadores.
Sem dúvida, nesse caminho, a Argentina é logo ali, ou, de repente, estamos em um político se reciclando para atender outros interesses, que não sejam dos trabalhadores. Lula precisa urgentemente sair da bolha identitária e dos juristas que o cercam, como, por exemplo, o tal grupo Prerrogativas, que assopra muito nos ouvidos de Lula.