O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, recebeu na cidade de São Francisco o mandatário chinês Xi Jinping, onde os chefes de Estado se reuniram último dia 15. Foi o primeiro encontro bilateral dos líderes das duas maiores economias do mundo neste ano, ocorrida em meio a um severo agravamento da crise mundial, marcada pelos conflitos no leste europeu (entre Rússia e OTAN, na Ucrânia) e também na Palestina, onde os habitantes da nação invadida pelo sionismo resistem ao mais pesado ataque israelense contra os árabes. Nessa conjuntura particularmente problemática para os EUA, os representantes dos dois países discutiram por mais de quatro horas.
Para os chineses, “a atitude amigável e aberta demonstrada pelo líder máximo da China em São Francisco é, sem dúvida, como a luz do sol atravessando as nuvens, permitindo que aqueles que prezam as relações entre a China e os EUA recuperem a confiança”, declarou o sítio chinês de notícias em inglês Globaltimes (“World looks forward to seeing ‘San Francisco vision’ translated into reality: Global Times editorial”, 17/11/2023 [data local]).
“Porém – acrescenta o sítio – as declarações diplomáticas precisam ser acompanhadas de ações concretas”, pede o órgão chinês, que traz uma declaração do mandatário asiático: “O mundo é grande o suficiente para acomodar os dois países”. Do lado norte-americano, a declaração de Xi Jinping tampouco passou batida:
“Em reuniões anteriores com os ex-presidentes Barack Obama e Donald J. Trump, Xi disse-lhes que o Oceano Pacífico era suficientemente grande para acomodar os dois países”, escreveu um dos principais órgãos de imprensa dos EUA, The New York Times (“In Talks With Biden, Xi Seeks to Assure and Assert at the Same Time”, Vivian Wang, David Pierson, 16/11/2023). O porta-voz do imperialismo norte-americano prossegue a análise do encontro destacando que a frase “é uma indicação de que Xi vê agora a China como uma potência global, e não como uma potência regional’, disse Cheng Chen, professor de ciência política na Universidade de Albany, em Nova Iorque. ‘Isto está em linha com a política externa estridente de Xi nos últimos anos’”, concluiu o diário.
A despeito das formalidades diplomáticas e das declarações protocolares, fica evidente que o crescente choque entre EUA e China arrefeceu apenas ligeiramente e em função da crise no Oriente Médio. Isto, no entanto, está longe de significar uma diminuição na tensão.
O imperialismo norte-americano, finalmente, não pode conviver com uma nação que se opõe aos seus interesses, especialmente uma com as proporções da China. Com mais 9,59 milhões de quilômetros quadrados e 1,4 bilhão de habitantes, a fatia chinesa do mundo já é grande demais para os próprios chineses, na visão de Washington.
A quantidade cada vez maior de crises – Ucrânia, Sahel, na África, e, agora, o Oriente Médio – podem ter obrigado o imperialismo a suspender suas provocações contra o gigante chinês, a título de se orientar melhor nesse ameaçador cenário político. Nem por acaso, no entanto, isso significa que a ditadura mundial pode cogitar deixar a China livre de sua ganância.
Do lado chinês, é visível que o relaxamento muito superficial das hostilidades foi bem recebido, como evidencia o tom do Globaltimes. Com 495 bilionários (atrás apenas dos EUA), o país necessariamente terá mais dificuldade para enfrentar o imperialismo do que, por exemplo, a Rússia, que, ainda assim, aguentou longos oito anos de provocações imperialistas em suas fronteiras e massacre do povo russo no Donbass.
“Ele é um ditador no sentido de que lidera um país comunista”, disse o mandatário norte-americano em coletiva de imprensa, logo após o encontro, declaração que foi imediatamente repudiada pela diplomacia chinesa. Nesse momento específico, os americanos querem ver como a situação mundial irá se desenrolar, principalmente na extremamente sensível região do Mundo Árabe.
Nada, no entanto, mudou substancialmente na questão chinesa. O gigante asiático permanece na mesma prioridade dos alvos do imperialismo da época em que William Joseph Burns, diretor da CIA, revelou que nem a guerra no leste europeu mudou a disposição norte-americana em destruir a China.