A advogada, escritora, dramaturga e colunista de Folha de S. Paulo Becky S. Korich assinou uma coluna (“Não existe ‘mas’ nem vírgulas para justificar o antissemitismo”, 6/11/2023) no jornal que é uma pérola. Referindo-se a Yahya Sinwar, Korich diz:
“Eis que surge um novo pulha, membro do grupo terrorista Hamas que, sem gaguejar nem se ruborizar, declara: ‘Nunca (a operação militar) foi direcionada aos civis. Não tínhamos a intenção nem a decisão de alvejar ou ferir qualquer civil’. E para arrematar, completou: ‘Israel não tem provas de que o Hamas matou bebês, crianças e mulheres.’” A colunista de Folha critica duramente a declaração, mas não entra no mérito do argumento. Prefere partir para o ataque com uma posição que cairia com uma luva para o próprio órgão em que a advogada escreve:
“Se existe alguém que minta com tanto descaramento, é porque existe quem acredite com o mesmo descaramento — na pior das intenções. São pessoas que acreditam no que escolhem acreditar, nas mentiras que elegem para racionalizar os seus preconceitos”, escreveu Korich. É um recurso canalha, mas que revela a dificuldade dos propagandistas do imperialismo em enfrentar a realidade.
Israel não apenas não pode provar que “bebês, crianças e mulheres” foram mortas, como precisou reconhecer que a história dos 40 bebês decapitados não passava de uma farsa. Do lado israelense, no entanto, sobram registros demonstrando que a cidade de Gaza reduzida a escombros.
Os bombardeios criminosos a hospitais, aos campos de refugiados e o verdadeiro infanticídio promovido pelo sionismo estão fartamente documentados, deixando claro a qualquer analista honesto quem são os monstros na questão.
“Enquanto líderes bilionários do Hamas levam uma vida de luxo no Qatar, anestesiados à dor de seu próprio povo, a população de Gaza vive na miséria”, acrescentando que, “em 16 anos de controle sobre Gaza, o Hamas não construiu nenhum abrigo antiaéreo para proteger seus cidadãos, mas construiu de 500 Km de túneis, para proteger seus armamentos.” Primeiro que “líderes bilionários do Hamas” é uma clara chantagem moral desprovida de conteúdo político. A afirmação é baseada em uma reportagem de uma TV israelense, Canal 13, portanto é mentirosa até que se prove o contrário, mas ainda que fosse verdade, isso é totalmente secundário ante o fato de o partido estar, efetivamente, empreendendo a mais importante luta pela libertação da Palestina.
A colunista prossegue criticando “supostos ‘progressistas’, vestindo camisetas e hasteando bandeiras do Hamas, bradam por uma ‘Palestina Livre’, como aconteceu sábado (4) na av. Paulista, participando de movimentos identitários que, na verdade, mais se aproximam às ideias da extrema direita. Sinal de que o Hamas usa habilmente o papel da vítima. Sinal de que qualquer pretexto serve para inverter a ordem moral e abrir as porteiras dos preconceitos em nome de uma ‘causa legítima’. Sinal de que ainda restam resquícios da época sombria do nazismo.” A referência velada ao Partido da Causa Operária (PCO) é óbvia, mas entrando no mérito do argumento, não restam “resquícios”, mas um Estado integralmente nazista, adaptado às condições dos interesses em voga no Oriente Médio, as utilizando-se dos mesmos métodos de opressão, de terror e violência em escala industrial.
Se Korich considerasse o nazismo um problema pelo que ele faz de concreto, estaria incomodada com os bombardeios criminosos e o cerco genocida contra a população civil de Gaza. Fosse séria em seu repúdio ao nazismo, estaria compondo fileiras com o PCO nos atos em defesa da Palestina e contra Israel. Ocorre que a colunista de Folha, a exemplo de toda a burguesia imperialista, se incomoda com questões pontuais do nazismo, mas não com o monstro em si. Da mesma forma que era lícito à Resistência Francesa e aos diversos grupos de partisans recorrer a métodos extremados para libertar seus países do jugo de Hitler, é absolutamente lícito ao Hamas lutar, por todos os meios necessários, para por fim à ocupação da Palestina pelos sionistas. Mais ainda, atacar quem luta é um apoio velado ao verdadeiro nazismo.