Há dez anos, no dia 18 de setembro de 2013, o partido de extrema-direita da Grécia, Aurora Dourada, assassinava o rapper, Pavloss Fyssas. O esfaqueamento do grego, de 34 anos, levou a um julgamento político iniciado em 2015 e que acabou banindo o partido do parlamento, sob a acusação de que o Aurora Dourada seria uma “organização criminosa”.
Apesar do assassinato ser cometido por um membro do partido, Giorgos Roupakias, 69 deputados, membros e dirigentes partidários, acabaram no banco de réus. O partido fascista chegou a ser a terceira maior legenda do país, se popularizou com a grande crise do neoliberalismo iniciada em 2008, com políticas contra os imigrantes e críticas a esquerda.
A atitude dura do governo contra o Aurora Dourada, foi amplamente aplaudida pela esquerda grega e internacional, apresentada como um expediente de “combate ao fascismo”. Apesar das medidas contra os nazistas, a extrema-direita grega, conforme publicado neste Diário, continua crescendo. Nas eleições parlamentares que ocorreram em abril, a direita institucional, “civilizada”, representado pelo partido Nova Democracia (ND) teve apenas 40% dos votos, seguido por 20% do Syriza e com um crescimento extraordinário da extrema-esquerda, Partido Comunista (KKE), com 7% dos votos e um crescimento ainda maior da extrema-direita, representada pela legenda Solução Grega (EL).
Na segunda eleição, que ocorreu em junho, garantiu de forma conturbada a reeleição do premier Kyriakos Mitsotakis (ND), com 40,5 por cento dos votos. Sua vitória só foi possível devido a “novas regras eleitorais”, de caráter duvidoso, com o acréscimo de assentos “bônus”. Apesar da vitória da “centro-direita” neoliberal, a extrema-direita elegeu 13 parlamentares que participavam do Aurora Dourada, com seu principal apoiador, Ilias Kasidiaris, estando preso.
“Hoje foi marcado um triunfo sem paralelos para os gregos que lutam pela sua pátria, além de um desmantelamento sem precedentes do sistema de poder” – disse Ilias Kasidiaris ao fim das eleições.
A cena política da Grécia ilustra um problema negligenciado pela esquerda brasileira: a repressão não esmaga o nazismo, ela o fortalece. Nos EUA, Trump está liderando as pesquisas, mesmo com toda perseguição política da grande imprensa e dos principais representantes do grande capital. A tendência de combater o fascismo utilizando as artimanhas do estado é ineficaz, com risco de produzir um cenário catastrófico, jogando a população nos braços da extrema-direita. No Brasil, ocorre o mesmo com Jair Bolsonaro (PL), o judiciário, apoiado pelo setor da burguesia mais ligado ao imperialismo, está esmagando os direitos individuais e as garantias contra a repressão estatal com o pretexto do combate ao radicalismo de direita, com o aval da esquerda.
Existe a tentativa de prender o ex-presidente, porém, dado o panorama internacional e os exemplos citados anteriormente, fica a pergunta: vai dar certo? A resposta é não. Se o combate ao fascismo se resumir à repressão, o bolsonarismo sairá fortalecido, além de que todo o malabarismo jurídico atingirá diretamente a população pobre, os trabalhadores e, principalmente, o seu setor mais avançado.