No período de uma semana, da sexta-feira feira, dia 28 de julho, até o dia 4 de agosto, última sexta-feira, pelo menos seis chacinas foram realizadas pela polícia no Brasil. Envolvendo apenas três estados, São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia, só as operações de chacina contabilizaram pelo menos 50 mortos. As ações policiais continuam e as forças “de segurança” continuam a operar normalmente.
A que mais se notabilizou, e com maior número de assassinatos, foi em Guarujá (SP), com 16 mortos segundo a Secretaria de Segurança Pública do estado. O quadro se deu sob a Operação Escudo, da polícia militar de São Paulo, entre os dias 28 de julho e 1 de agosto. A operação segue como vingança pela morte de um dos agentes da Rota na Baixada Santista no dia 27. Relatos dos moradores de torturas e execuções se chocam com as declarações de trocas de tiros oferecidas pela polícia. Além disso, circularam mensagens de policiais falando em chegar à conta de 30 mortos, e a Operação Escudo tem previsão de durar 30 dias.
A Bahia, estado que concentrou 4 chacinas em sete dias, todas cometidas pela polícia militar. Foram 7 mortos no dia 28, em Camaçari, 8 no dia 30, em Itatim, 4 no dia 31, em Salvador, e 5 no dia 4 de agosto, também na capital: um total de 24 pessoas mortas pela PM apenas em chacinas e somente na Bahia. Ainda, pela primeira vez desde o início da contagem pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública, em 2015, a Bahia ultrapassou o Rio de Janeiro como o estado em que a polícia mais matou em operações, os dados se referem a 2022.
O Rio de Janeiro, no dia 2 de agosto, foi palco de outra chacina, na Vila Cruzeiro. No caso, 10 pessoas foram mortas na operação, envolvendo as tropas de elite da polícia militar (BOPE) e da polícia civil (Core). A Vila Cruzeiro ganhou manchetes no ano passado por outra chacina, uma das maiores do Rio, com 25 pessoas assassinadas brutalmente numa operação conjunta entre BOPE, PF e PRF. O estado vem sendo palco de dezenas de chacinas, que aumentam de maneira crescente a cada ano.
Governadores diferentes, mesma polícia
Enquanto São Paulo e Rio de Janeiro contam com ditos bolsonaristas nos governos estaduais, Tarcísio e Cláudio Castro, o método das polícias permanece o mesmo de gestões anteriores, ligadas à direita tradicional, como o PSDB em São Paulo e o MDB no Rio. Inúmeras chacinas podem ser elencadas nesse sentido. Já na Bahia, o governo do estado é ligado ao Partido dos Trabalhadores (PT), que governa o estado há 16 anos, com uma sequência de três governadores. Embora todos componham uma ala bem à direita dentro do PT, o fato de os governadores da Bahia não resultarem em mudança alguma na polícia militar do estado após mais de 15 anos é em si demonstrativo do caráter da força policial, voltada a massacrar os trabalhadores.
Tais fatos contrastam com o quadro que a imprensa burguesa e um setor da esquerda a seu reboque buscam pintar, de que a violência policial seria fruto de um bolsonarismo dos governadores. O bolsonarismo mais relevante, nesse caso, ocorre no corpo da tropa. A polícia, historicamente, sempre foi a principal base da extrema-direita, em todos os períodos. Assim, as acusações que miram somente os governadores visam livrar a instituição policial frente ao público, confundir os trabalhadores para que não tenham claro todos os seus inimigos.
Crise capitalista
A proliferação de assassinatos e chacinas cometidos pelas polícias no Brasil refletem não especificidades regionais, mas um quadro geral do País. A crise econômica tende a impulsionar a classe operária contra as instituições e a burguesia, frente a isso, a repressão aumenta, numa busca por conter a inevitável revolta da classe operária. Ao fazê-lo, no entanto, a própria polícia revela cada vez mais explicitamente seu papel, de esmagar os trabalhadores.
A esquerda, nesse quesito, deveria orientar politicamente, definir com precisão as forças em disputa e a função das instituições. A defesa do fim das polícias se faz urgente, assim como a defesa do direito ao armamento da classe operária, para que possa se defender dos verdadeiros esquadrões da morte que rondam armados pelas ruas.