A “justiça” do Paraná concedeu, nesta segunda-feira (31), o direito ao Athletico Paranaense de cobrar as emissoras de rádio pela transmissão de seus jogos, podendo acionar as empresas que descumprirem com a regra. Isto é, só transmite jogo do time quem pagar o direito de marca do clube sulista. Tal pleito, segundo o clube, deve-se ao fato de cada vez mais rádios digitais estarem funcionando em plataformas próprias ou no Youtube. Ainda não está claro, mas tal medida pode atingir até as rádios de outros clubes, restando a opção única de ouvir os jogos do Athletico, como mandante, por meio de seu canal oficial ou dos meios de comunicação parceiros.
Uma vez tomada esta decisão, a tendência é de que os clubes do Brasil adotem o mesmo. E, portanto, fecha-se mais uma porta para a participação do torcedor no futebol brasileiro. Na sequência do encarecimento progressivo dos ingressos, do banimento das torcidas organizadas, do aumento do número de publicidades na transmissão de TV (a ponto de perturbar o acompanhamento do jogo), da transformação da camisa dos clubes num macacão de piloto de corrida, tamanho o número de patrocinadores, esta é mais uma medida que caminha no sentido de alijamento do povo em relação ao futebol.
O capitalismo monopolista mostra suas garras no esporte mais querido pelo povo, dando cada vez mais mostras de sua decadência, ao parasitar todo tipo de atividade cultural e popular a fim de transformá-la em fonte de dividendos. Incapaz de produzir, inovar e deixar esforços reais pelo progresso da humanidade desde o século XIX, toma de assalto o que é do povo, a fim de especular e transformar o esporte numa cadeia de especulação e encarecimento.
Desde a Lei Bosnan na Europa e a Lei Pelé no Brasil, os preços dos jogadores encarecem, com isso sobe a necessidade de verbas da cota de TV e patrocinadores, que enchem de propagandas as transmissões e camisas e poluem a experiência estética do jogo. Por sua vez, o preço dos ingressos só sobe, diante da necessidade de estádios mais televisivos, e esses, na sequência, deixam de ter nomes populares, como Maracanã, Mineirão, Canindé, para se tornarem arenas batizadas com o nome de grandes corporações.
Com o passo dado esta semana, a tendência é a “spotifyzação” do futebol. Para ouvir seu time, o torcedor terá de se tornar assinante de um serviço de streaming de áudio ou vídeo, tornando-se membro de seu canal favorito do Youtube ou sendo obrigado a assinar o Deezer, além do Spotify, para ter acesso à rádio autorizada pela diretoria burguesa de seu clube. Quando todos os clubes se tornarem SAFs, marcha irrefreável do “progresso”, a situação pode se espalhar rapidamente até para os clubes pequenos.
O esporte pertence cada vez menos ao povo. O futebol passa por imparável financeirização e distanciamento do povo, as lutas têm de ser transmitidas na madrugada profunda, o automobilismo troca carros por espaçonaves e o perigo por marmotas como o halo e as áreas de escape do mesmo material da pista, os esportes olímpicos se tornam ambientes de discussões identitárias intermináveis.
As audiências ficam estáveis ou crescem, mas não pela adesão de novos apaixonados, e sim pelo surgimento de fãs à moda dos Estados Unidos, onde se vai a um jogo para tirar fotos e comer cachorro-quente. O trabalhador segue acompanhando por fata de opção. As corporações, que controlam o esporte, expandem sua transmissão para mercados exóticos como China, Índia ou países árabes, onde ninguém entende o que está assistindo, e desiste de uma dada modalidade tão logo se atina para o fato de que ela não pertence à sua cultura.
Emerge um público vazio, que deixa a TV ligada e observa passivamente o desmoronamento de tradições esportivas arduamente construídas.
O capitalismo vai matar o esporte e transformá-lo em showbusiness.