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Roberto França

Militante do Partido da Causa Operária. Professor de Geografia da Unila. Redator e colunista do Diário Causa Operária e membro do Blog Internacionalismo.

Barbie e a OTAN

O Imperialismo tira a roupa

Em nome da democracia, Barbie e outras distrações servem para ocultar os investimentos na indústria bélica. Nunca o imperialismo tirou a roupa tão rápido

Quem diria que a boneca Barbie, símbolo do consumismo e do modo de vida norte-americano, fútil e desmiolado, se transformaria em fenômeno pop novamente. A boneca que existe há gerações está na tela dos cinemas do mundo inteiro, e rapidamente encampou o debate do identitarismo, principal instrumento de softpower da atualidade, capaz de rapidamente impor leis rígidas e mudanças comportamentais.

Para que o circo continue operando transformações que atendam os interesses do imperialismo, como o filme da boneca Barbie, existe a velha lógica da guerra no estado bruto representado pelas armas. Sem dúvida, o poder real, concreto, que muitos pensam que não existe. Porém, desde a guerra da Ucrânia, uma “guerra pop”, os Estados Unidos decidiram ir além da Barbie e explicitamente defendem os gastos militares como instrumentos para promover a democracia, como demonstrado no artigo “A Turning Point for Military Spending”, publicado no The New York Times.

Evidentemente que sempre foi assim, mas o fenômeno de transformação de uma guerra, em guerra que cai na boca do povo, é um fenômeno moderno. Alguém pode argumentar que a guerra do Vietnã foi uma “guerra pop”, mas não foi uma guerra por procuração como a guerra da Ucrânia, onde os Estados Unidos puderam, a partir dos ‘loirinhos’ eslavos, organizar um verdadeiro circo de comoção mundial, sofisticando os direitos humanos como instrumento de tentativa de desgaste da Rússia, a verdadeira vítima no conflito, muito mais que a Ucrânia, onde quase a totalidade da população apoia o regime nazista de Kiev.

Ao artigo

O jornal do Pentágono analisa o avanço bélico da OTAN e enfatiza que os países da OTAN prometem gastar mais dinheiro em defesa que nos anos anteriores. Em 2006, os ministros da Defesa da OTAN adotaram uma diretriz vaga sugerindo que cada país da OTAN gastasse 2% de sua produção econômica anual com militares. “Na época, a maioria dos membros da OTAN gastou muito menos – e pouco mudou após o anúncio de 2006”, afirmou.

Em 2014, preocupados com a anexação da península ucraniana da Crimeia pela Rússia, os chefes de Estado da OTAN formalizaram a referência e instaram os países a avançarem em direção a ela na próxima década. “Ainda assim, a maioria dos países não conseguiu cumpri-lo”, analisou David Leonhardt, da coluna The Morning. Portanto, grande parte da Europa Ocidental tem sido especialmente relutante em fazê-lo, para frustração dos líderes dos EUA e da Europa Oriental.

De acordo com Leonhardt, George W. Bush quanto Barack Obama reclamaram da lacuna durante suas presidências, e Donald Trump criticou outros países sobre isso. Países avançados como Alemanha, Dinamarca e Holanda – assim como o Japão – pareciam ir além, sendo capazes de gastar mais em suas próprias redes de segurança, enquanto os EUA os protegiam. Para endossar as críticas dos ex-presidentes, Leonhardt apresenta o seguinte gráfico:

O jornal número 1 do imperialismo explicitamente tira a roupa e afirma:

“Mas agora a situação realmente parece estar mudando. A invasão da Ucrânia pela Rússia no ano passado levou a uma nova disposição dos países de pagar por sua própria defesa. ‘É claramente um ponto de inflexão para a Europa em termos de alocação de gastos entre necessidades militares e gastos sociais’, disse Patricia Cohen, correspondente de economia do Times em Londres. Liz Alderman, correspondente em Paris, disse assim: ‘Os líderes europeus decidiram que a ameaça veio para ficar'”.

O endosso evidente serve para ratificar os avanços que serão estabelecidos nos próximos anos, isto é, nenhum investimento em infraestruturas domésticas e avanço na indústria militar com a principal indústria deste século. Se a indústria automotiva foi a principal indústria do século XX, a indústria que terá prosperidade será a indústria do complexo militar dos Estados Unidos, que transferirá armamentos não com filiais multidomésticas ou multinacionais, mas como instrumento de coerção ainda maior que entre qualquer guerra mundial, colocando o mundo em profundo desequilíbrio.

A Alemanha parece propensa a atingir 2% no próximo ano. Na França, que já estava perto da meta, o presidente Emmanuel Macron prometeu elevar os gastos militares em mais de um terço nesta década. Outros países também estão gastando mais. Leonhardt reporta:

“Incompleta é a nota, mas a direção da viagem é positiva”, disse Jake Sullivan, conselheiro de segurança nacional do presidente Biden, na sexta-feira, antes de partir para a reunião da Otan desta semana na Lituânia. Na reunião, autoridades americanas planejam pressionar outros países a não pararem em 2%. “Dois por cento não devem ser vistos como um teto a ser atingido, mas realmente um piso que deve ser construído”, disse Sullivan. 

Os argumentos para mais gastos militares envolvem justiça e democracia

É com essa explicitude que o imperialismo promete avançar o rolo compressor da guerra ante as demandas dos trabalhadores. Pode estar cavando uma profunda crise, mas os protocolos parecem estar sólidos, pelo menos nas cabeças brancas dos senhores da guerra. Mas Leonhardt, em sua coluna é claro e descreve que sim, há uma crise em curso, mas Washington está disposta a avançar:

O ponto de justiça é o mesmo que Bush, Obama e Trump fizeram: em um momento em que muitos americanos estão frustrados com padrões de vida de crescimento lento e os EUA têm uma dívida federal de US$ 32 trilhões, por que a Europa Ocidental deveria efetivamente cobrar proteção de Washington? E por que países mais ricos da Otan, como a Alemanha, deveriam estar menos dispostos a pagar pela defesa do que Lituânia, Letônia, Estônia, Grécia e Polônia (todos os quais atingiram a meta de 2%)? 

Claro, a democracia sempre esteve nos discursos geopolíticos norteamericanos, mas a unidade do Estado Profundo em torno de uma solução para a guerra da Ucrânia tenha um desfecho de completa desmoralização da Europa Ocidental e “naniquização” da Europa Oriental, atualmente fantoches completos do imperialismo. A ideologia moderna preconiza que fale como a Barbie, mas carregue um arsenal, de preferência incite seus ingênuos discípulos, como Alemanha, França e Reino Unido a gastarem com mais armas e abandoarem de vez a política social.

O ponto da democracia está relacionado a um tema importante da política externa de Biden. Os assuntos globais são cada vez mais definidos por uma disputa entre autocracia e democracia, disse Biden. De um lado estão a Rússia e a China. Do outro estão os EUA, Canadá, Japão, Austrália e grande parte da Europa. É mais provável que a democracia prevaleça se os países partilharem os encargos das despesas militares. 

Países intermediários como o Brasil precisam se dar conta que é necessária uma política permanente de ruptura com a democracia yankee; cabendo principalmente à esquerda adotar uma retórica anti-OTAN, constituindo laços para uma nova organização de defesa. Uma das soluções estaria na formação de um Conselho de Defesa Sul-Americano, com estatuto nacionalistas, que envolva a intenção legítima de ruptura com a ordem imperialista. Também não será com a ideia de “mundo multipolar” outra forma de imperialismo e que já não deu certo em outro momento, como perante a criação da Doutrina Monroe, sabiamente combatida por Simon Bolívar.

A esquerda tem incensado o filme Barbie como uma espécie de “revolução”, por se tratar de um filme feminista, o que demonstra o enfraquecimento ideológico da esquerda e sua falta de entendimento sobre as movimentações militares no mundo, que interfere em toda sorte de políticas nas mais diversas escalas geográficas.

Ao invés de terceirizar o softpower dos Estados Unidos, um amplo movimento de massas deveria ser organizado contra os investimentos militares da OTAN e, pari passu, fazer avançar uma ideologia que promova a equiparação da defesa do Brasil frente a essa geopolítica do imperialismo. O imperialismo tirou a roupa, colocou a Barbie na frente, mas as forças políticas mais conscientes do movimento de trabalhadores, parecem estar subsumidas a divisão do mundo entre “democracias” e ditaduras”, o que inviabiliza uma criatividade em torno de uma saída da crise via enfrentamento político.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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