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Cotas para trans

A degeneração total do movimento estudantil brasileiro

O identitarismo tomou a esquerda pequeno burguesa de tal modo que mesmo dentro do âmbito identitário as pautas mais inúteis se tornaram as mais prevalentes

A campanha identitária do imperialismo tem como um dos seus ápices a “defesa dos trans”. Ao atingir o movimento estudantil essa política se transformou na luta por uma das pautas mais absurdas da esquerda pequeno burguesa: cotas para trans. Nas universidades de todo o Brasil chapas de DCE abandonaram as pautas tradicionais para defender essa que, até mesmo dentro do identitarismo, é possivelmente a menos relevante de todas. É o caso do Esquerda Online que publicou em seu sítio o artigo: “A hora é agora: cotas para pessoas trans nas universidades públicas já!”

Antes de entrar no debate das cotas para trans é preciso entender a política das cotas para negros. Este Diário publicou o artigo Qual o sentido de existir cotas para trans? que debateu a questão das cotas para trans e concursos públicos mas que explica muito bem a tese geral. “A população negra é a esmagadora maioria da população brasileira. Em contradição a isso, é a mais pobre e, portanto, é a com maiores dificuldades de acesso às universidades. A lógica vale também a concursos públicos. Desse modo, as cotas foi uma reivindicação de organizações do movimento negro para reparar um problema que não era exatamente racial, mas social. Afinal, a maior parte da população mais pobre é composta por negros.” 

Aqui já se vê a diferença total em relação à população trans. O Esquerda Online tenta argumentar em defesa dessa nova cota: “Para acessar o ensino superior, é preciso, além de concluir a educação básica, vencer o filtro social do vestibular. Esse tem sido um grande desafio para os grupos historicamente excluídos no nosso país. As políticas afirmativas como as cotas étnico-raciais e o vestibular indígena têm sido fundamentais para a inclusão da juventude preta e periférica e dos povos originários nas universidades públicas.” O artigo tenta relacionar as cotas que já existem com sua proposta, pois todos seria setores “historicamente excluídos”. Contudo, seguindo esse argumento seria necessário cota para todo setor oprimido, LGBs, nordestinos, nortistas, imigrantes etc.

A cota para negros, apesar de não ser a política do PCO, ainda possuía um caráter progressista por incluir um setor que é a maioria da população brasileira que de forma geral era excluído da universidade. Mas não é possível fazer isso com todos os oprimidos, seria necessário criar centenas de cotas assim. Para esses é preciso a política correta, o fim do vestibular, ou seja, o livre acesso de toda população ao ensino superior. Essa política por exemplo se adequa a necessidade da população do campo, sejam trabalhadores rurais, indígenas ou quilombolas. É preciso que eles tenham assistência para cursar faculdade nas cidades, mas também que sejam construídas centenas de universidades nas zonas rurais do País.

O argumento do artigo continua na mesma linha: “No país que mais mata travestis e transsexuais no mundo, no qual a expectativa de vida da população trans gira em torno de 35 anos, é mais do que urgente colocar em pauta o debate sobre as cotas para pessoas trans no ensino superior público!” Por esse argumento se cria todo tipo de cota. Os presidiários brasileiros estão em uma das piores condições de vida em todo o planeta, deveriam ter cotas portanto? E os trabalhadores do campo, massacrados pelos latifundiários? Os pescadores que lutam contra as grandes pesqueiras e os capitalistas do turismo? As dezenas de milhões de desempregados? Todo oprimido deveria ter a sua própria cota? Não faz sentido.

O outro argumento usado é que os trans produziram a ciência de forma diferente: “A presença de pessoas trans na universidade transforma profundamente seu perfil social e tem impacto direto no conhecimento produzido. Estudantes trans no curso de medicina, presentes com seus corpos, pressionam materialmente para que nossos corpos passem a ser discutidos em disciplinas. Essa é uma das chaves para que passemos a ter médicos que compreendem nossas realidades.” Isso é uma farsa completa. O desenvolvimento real da ciência necessita de grandes investimentos públicos e de uma independência dos monopólios. No caso da medicina isso é muito claro, o controle dos capitalistas sobre a saúde é um entrave gigantesco para o desenvolvimento da sua ciência. 

E na realidade atual o argumento já é uma farsa. Existe uma enorme quantidade de pesquisas sobre a população trans nas principais universidades do Brasil, como na USP. Pesquisas extremamente controversas, que tem como pacientes crianças inclusive. Se a pesquisa sobre a transexualidade já está na USP não é verdade que se necessite uma pressão enorme para que esses estudos aconteçam. Inclusive não é só na USP como nas principais universidades dos países imperialistas.

O argumento segue com a tese do “lugar de estudo”, um absurdo: “Diversos estudos de gênero são produzidos nas humanidades, muitos tem pessoas trans como objeto de estudo, mas a esmagadora maioria é desenvolvido por pessoas cis. Não queremos mais ser apenas objeto de estudos, queremos ser sujeitos da produção científica sobre nós mesmos e, por que não, sobre as pessoas cisgêneras também!” A medicina foi desenvolvida por décadas principalmente por homens brancos da europa e dos EUA, isso não impediu que ela pudesse tratar da população de seres humanos de todo o planeta. O identitarismo científico é um dos surrealismos criados por essa ideologia imperialista. 

Em conclusão, o Esquerda Online segue à risca a política do imperialismo. Não defende uma ampliação do ensino superior para toda a população, uma enorme reforma que permita que todos acessem a universidade. Pelo contrário, quer aumentar a disputa entre as pouquíssimas vagas que existem com a atual infra estrutura. Uma política como essa, que é totalmente inócua em defesa da população LGBT e dos estudantes como um todo, tem como único efeito voltar um setor da sociedade contra os trans. Na prática, o Esquerda Online fortalece apenas o identitarismo do PSDB e areação direitista a esse que é o bolsonarismo. Os oprimidos não têm nada a ganhar com a luta por essa nova cota.

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