Segundo coluna de Mônica Bergamo publicada na Folha de S. Paulo em 28 de junho, o “Governo Lula reservará cota de 2% para transexuais em concurso público”. Algumas organizações da esquerda pequeno-burguesa já adicionaram em seu programa reivindicações como essa, pedindo cota para pessoas trans nas universidades.
Qual o sentido dessa política?
Em primeiro lugar, é preciso compreender por que foram instituídas as cotas para negros nas universidades públicas. A população negra é a esmagadora maioria da população brasileira. Em contradição a isso, é a mais pobre e, portanto, é a com maiores dificuldades de acesso às universidades. A lógica vale também a concursos públicos.
Desse modo, as cotas foi uma reivindicação de organizações do movimento negro para reparar um problema que não era exatamente racial, mas social. Afinal, a maior parte da população mais pobre é composta por negros.
Não é apenas um problema estatístico. Fato é que os negros são o setor mais oprimido da sociedade, ou seja, ocupam a setor mais explorado da população.
Como consequência dessa situação social, o negro tem maiores dificuldades de acesso a um estudo de qualidade no ensino básico, o que logicamente vai interferir no seus desempenho no vestibular.
Apesar de ter esse sentido prático, as cotas são uma medida extremamente insuficiente. No caso das universidades, que foi a origem dessa política, o problema do acesso só será resolvido com o livre ingresso na universidade.
Sem a luta pelo fim do vestibular e o livre ingresso qualquer política de cota é insuficiente e pode até mesmo, em alguns casos, ser prejudicial. É preciso unificar a população na luta pelo direito ao acesso à universidade pública.
Explicado esse ponto importante sobre as cotas, fica claro que pedir cotas para transsexuais, seja na universidade, seja no serviço público, não tem o menor sentido.
Em primeiro lugar, ser transsexual não significa necessariamente que a pessoa teve dificuldades de acesso ao ensino básico. Diferentemente dos negros, cuja situação social objetivamente dificulta o acesso ao ensino de qualidade, não é possível afirmar isso no caso dos trans.
Em segundo lugar, o transsexual é um grupo ultra-minoritário da população. Qual o sentido de favorecer a entrada desse grupo? Se é assim, qualquer outro grupo minoritário deveria receber o direito de cotas o que, em última instância, significa dizer que todos poderiam ter cotas e ao menos tempo ninguém teria o direito de cotas. Deveríamos, então, abrir o acesso às universidades.
Há um problema político sério nessa política. Para a maioria do povo, ela vai aparecer como um privilégio de um grupo social minoritário e objetivamente acaba sendo isso.
Os identitários, cuja histeria impede de raciocinar, vão dizer que os trans são oprimidos. Mas se esse fato é verdadeiro, ele continua sem nenhuma relação com uma necessidade de cotas para esse grupo. É, no fundamental, uma política que serve para dividir a sociedade e jogar essa minoria da população contra a maioria do povo. É uma política prejudicial para os próprios transsexuais.