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Antônio Vicente Pietroforte

Professor Titular da USP (Universidade de São Paulo). Possui graduação em Letras pela Universidade de São Paulo (1989), mestrado em Linguística pela Universidade de São Paulo (1997) e doutorado em Linguística pela Universidade de São Paulo (2001).

Música instrumental brasileira

Zimbo Trio

O Zimbo Trio, de renome internacional, não deve ser esquecido pelos brasileiros

              Um dos momentos mais criativos da música instrumental brasileira, certamente, são os anos 1950 e 1960, os anos da bossa-nova, quando, devido justamente às influências do jazz, novas harmonias, melodias, timbres e concepções rítmicas foram incorporadas às formas musicais tradicionais do nosso país. Entre elas, vale a pena lembrar do desenvolvimento da bateria brasileira, levado adiante por Edson Machado, Milton Banana, Robertinho Silva e Rubens Barsotti; as linhas de contrabaixo acústico, exploradas por Luiz Alves e Luiz Chaves; os solos e bases de piano, concebidos por Tenório Jr., João Donato, Johnny Alf, Amilton Godoy. Entre tantos artistas, notabilizaram-se trios de piano, contrabaixo e bateria, típicos do jazz, mas cuja proposta, então, era fazer música brasileira; deles, um dos mais talentosos foi, certamente, o Zimbo Trio, formado desde 1964 pelo pianista Amilton Godoy (1941), o contrabaixista Luiz Chaves (1931-2007) e o baterista Rubens Barsotti (1932-2020). Se todos eles estivessem vivos, o grupo teria a minha idade, pois nasci em 1964; durante a mocidade, tive a felicidade de escutá-los tocar ao vivo numerosas vezes.

              Em linhas gerais, na música popular há instrumentos de solo, por exemplo, os instrumentos de sopro, tais quais as famílias das madeiras e metais, encarregados da melodia; instrumentos próprios para fazer a base harmônica, feito violão e teclados, utilizados também para solar; instrumentos que conduzem o ritmo, feito bateria e percussão. Evidentemente, essas funções podem ser modificadas, todavia, em geral, elas são mantidas na maioria dos gêneros musicais, pois no chorinho, a flauta sola, o violão faz harmonia e o pandeiro, o ritmo, enquanto, na gafieira, os metais solam, o piano harmoniza e a bateria sustenta as bases rítmicas e os andamentos. No jazz, embora tal organização seja mantida, desdobramentos ao longo do tempo a complexificaram com as inovações trazidas pelo bebop e o cool, que foram, justamente, as correntes do jazz a influenciar a música brasileira naquela época. Dessa maneira, o tradicional trio de piano, baixo e bateria não apenas foi utilizado para tocar música brasileira, mas para redimensionar o papel dos músicos e seus instrumentos.

              A bateria, antes de Edson Machado e demais bateristas da bossa-nova, não tinha a distribuição de bumbo, aro de caixa e pratos assumida posteriormente, tampouco cabia ao baterista desenvolver a melodia em contraponto com os demais instrumentos, sendo-lhe unicamente reservada a função do acompanhamento rítmico; o contrabaixo, por sua vez, participava apenas da base harmônica, sem qualquer papel contrapontístico ou independência melódica, sequer toda a extensão do braço do instrumento era devidamente explorada. Pois bem, quem conhece o Zimbo Trio e suas contribuições para a história da música sabe o quanto Rubens Barsotti participou dos desenvolvimentos da arte de tocar bateria e como Luiz Chaves inovou as concepções do contrabaixo, principalmente na composição das linhas melódicas e nos usos do braço do instrumento. Quanto a Amilton Godoy, poucos brasileiros com formação de piano erudito souberam combinar as técnicas da música de concerto com o suingue da música popular brasileira.

              Por fim, gostaria de sugerir duas audições, isto é, a interpretação do Trio da canção “Fé cega faca amolada”, de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, acompanhados do violeiro e guitarrista Heraldo do Monte e do saxofonista e flautista Hector Costita, de 1976, e a interpretação da música instrumental “Bebê”, de Hermeto Pascoal, de 1978.

              A primeira gravação dura aproximadamente 7 minutos; nela, após a exposição do tema, feita pelo Trio com intervenções da flauta na melodia e a viola caipira fazendo harmonia e ponteios, abre-se para os improvisos de viola, saxofone tenor e piano elétrico, antes da retomada do tema para finalizar o arranjo. Não se trata de bossa-nova, estilo com o qual o trio se notabilizou nos trabalhos iniciais, mas de ritmo nordestino; nessa interpretação, notam-se várias das inovações apontadas anteriormente, em especial, a depuração da música instrumental brasileira mediante as concepções de cada instrumento, chamando atenção para a inserção da viola caipira entre instrumentos próprios do jazz.

              Na segunda gravação, exclusivamente com o Zimbo Trio, expressam-se sensivelmente a concepção da bateria com mudanças de levada em cada parte da composição; as linhas melódicas do contrabaixo em contraponto com o piano e a bateria; a genialidade do pianista em complexificar técnica erudita e suingue, principalmente após a exposição do tema, quando predomina o solo de piano, destacando-se a levada de samba desenvolvida antes da retomada final do tema e encerramento do arranjo.

              Por fim, indico o endereço das duas composições no Youtube, desejando aos companheiros uma boa audição:

              (1) Fé cega faca amolada:

              (2) Bebê:

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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