A semana começou com importante informação sobre o que a União Europeia (UE) pensa sobre o governo Lula. O documento atribuído ao bloco de diplomatas europeus intitulado “Plano de Ação da UE sobre as Consequências Geopolíticas da Invasão Russa da Ucrânia em Países Terceiros” apresenta descrições objetivas sobre quatro países: Chile, Cazaquistão, Nigéria e Brasil. O arquivo vazou na imprensa internacional e vem recheando as páginas dos principais jornais brasileiros.
Logo na introdução, a menção ao Brasil destaca o interesse do governo Lula em cooperações, para as quais são propostas estratégias de acordo via Mercosul e de mais investimentos na questão ambiental .
“O atual governo mostra sinais de disposição para intensificar a cooperação. Uma estrutura para fortalecer o engajamento já existe, uma vez que a UE já tem uma parceria estratégica que pode ser reativada. O avanço do acordo UE-Mercosul será de fundamental importância. Mas a UE também precisará aumentar os investimentos em energia e nas áreas digital e de sustentabilidade”.
A cada trecho, o documento fica mais interessante, à medida que coloca claramente o contexto geopolítico de competitividade entre os países e a ‘guerra de ofertas’, uma espécie de quem dá mais por determinado país. Cabe destacar que este contexto e suas dinâmicas são atribuídos ao desequilíbrio provocado pela guerra na Ucrânia que gerou rearranjos de proporções globais.
Os autores apontam que a eleição de Lula foi um ganho, já que o Brasil vinha de um apagão de quatro anos nas relações políticas e comerciais internacionais sob a tutela do governo Bolsonaro. No entanto, veem com ressalva o propagado protagonismo brasileiro no estabelecimento das relações externas. Isso é fato! Em especial neste governo, Lula está construindo saídas estratégicas como o fortalecimento dos BRICS e, consequentemente, o fortalecimento do Brasil frente aos países do eixo norte mundial.
O ponto alto do documento é a análise da situação do Brasil em relação aos interesses da UE. Sim! O ponto de vista é sempre o que a UE quer! Nesta parte, os diplomatas usam o básico das ferramentas do planejamento para apresentar uma análise de negócio sobre seu antigo parceiro. Segundo o documento, os interesses da UE para com o Brasil são:
- Relançar a parceria estratégica com o Brasil
- Concluir o acordo de Associação UE-Mercosul
- Obter maior apoio político do Brasil na ONU, globalmente e regionalmente
- Acesso ao mercado e aumento de oportunidades no Brasil para negócios e investimentos da UE
- Obter o reconhecimento brasileiro para as garantias de segurança alimentar da UE
- Impulsionar a cooperação em transformações verdes e digitais, ação climática e ambiental
- Garantir matérias-primas essenciais para o Acordo Verde da UE
- Abordar a atuação da China na adesão do Brasil ao Acordo de Compras Governamentais da Organização Mundial do Comércio
- Fortalecer a cooperação em defesa e segurança
Vale observar a velha carta da desculpa do meio ambiente lançada no documento com três objetivos: pautar o Brasil, desviar o país da discussão internacional ampla, a qual está fazendo com maestria; e forjar situações para nova introjeção do discurso do meio ambiente, desta vez acompanhado da substituição de combustíveis fósseis e usinas por mecanismos ‘verdes’ de produção de energia. Sabe-se que esta mesma ‘política do verde’ fragilizou e decresceu a competitividade econômica internacional da Alemanha em período recente, devido à guerra na Ucrânia e à resposta da Rússia às sanções impostas pela UE e os Estados Unidos.
Os desafios para a realização dos desejos da UE também são elencados no documento. Neste trecho, vê-se a clareza dos europeus sobre as intenções do Brasil. Uma excelente leitura que deixa a esquerda brasileira no chinelo em suas teses infundadas e defensoras do imperialismo.
- O Brasil vê as propostas legislativas autônomas da UE (legislação do Acordo Verde) como medidas unilaterais protecionistas, em especial a legislação sobre desmatamento
- UE preocupada que o foco de Lula na reindustrialização possa se tornar protecionista
- UE preocupada com a possibilidade de o Brasil querer reabrir o Acordo do Mercosul
- UE preocupada com a posição do Brasil sobre a Guerra da Rússia contra a Ucrânia e com a falta de cumprimento de obrigações em relação a clima, ambiente e aprovação sanitária dos produtos da UE
A essência dos desafios apresentados no documento está em manter o Brasil subserviente aos países imperialistas. Ao mesmo tempo, já adiantam como negativo o provável surgimento do protecionismo com a reindustrialização do país, coisa que os países europeus e os Estados Unidos são useiros e vezeiros em fazer com os nossos produtos nos seus respectivos mercados.
As intenções e a disputa internacional concretas já estão postas no tabuleiro e se movem com cuidado, baseando-se em análises e em investidas contra o governo Lula. Apesar de ser um documento secreto, há muito somos conhecedores dos interesses imperialistas no Brasil. Mais do que antes, precisamos nos fortalecer externamente com os países parceiros, que se alinham com os interesses de novos negócios e acordos livres da égide dos Estados Unidos e da UE. E, como sempre, precisamos nos mobilizarmos para apoiar o Governo Lula nas medidas favoráveis ao crescimento do Brasil com redução das iniquidades e participação ampla da classe trabalhadora.