Os nove índios presos ilegalmente que foram encaminhados ao Presídio Estadual de Dourados ainda permanecem sem liberdade. Com o argumento, segundo o órgão chefiado pelo secretário Antônio Carlos Videira, a PM foi acionada para atender “uma ocorrência onde um grupo, de aproximadamente 10 pessoas” havia agredido e ameaçado “com arma de fogo um caseiro indígena, com o objetivo de invadir uma propriedade localizada próximo ao anel viário”.
Antônio Carlos Videira é Secretário da Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública) desde 2017. Em uma entrevista, alegou que Mato Grosso do Sul conseguiu se tornar um dos estados mais seguros do Brasil, em função dos grandes investimentos no setor que ocorreram nos últimos anos. Na quinta-feira (20), participou de um debate na Expogrande (uma das maiores feiras agropecuárias do Brasil) com os produtores rurais sobre segurança pública na área rural. Num estado onde a população total é de cerca de 3 milhões de habitantes numa área de 357.125 km², pode-se entender do que se trata a questão de “implantação de programas e sistemas de prevenção criminal” na região rural de MS. O represente dos “produtores rurais” que participou do encontro foi Guilherme Bumlai, presidente da Acrissul, e filho do pecuarista José Carlos Bumlai, preso no âmbito das investigações da Lava-Jato.
Sobre Antônio Carlos Videira, já foi publicado no DCO que foi o responsável pelo comando de policiais no massacre de Guapoy, em Amanbai, no ano passado, e pelo massacre de Caarapó, em 2018. Abaixo a matéria do DCO:
100 dias de governo do PSDB: 13 indígenas presos ilegalmente
Detalhe do debate com os representantes dos produtores rurais aqui.
Magno Souza, candidato do PCO a governador, e mais oito indígenas tiveram a prisão preventiva decretada pelo juiz Rubens Petrucci Junior, da 2ª Vara Federal de Dourados. A decisão do magistrado é oposta ao pedido do MPF, que solicitou a liberdade provisória. O juiz supracitado é conhecido por dificultar o processo dos indígenas e, ao mesmo tempo, extinguir uma ação de improbabilidade contra antigos dirigentes do BNDES. (leia)
Sobre a Corpal Incorporadora e Construtora, é conhecida por ser um conglomerado de origem familiar que abarca quase toda área de negócios rurais. A empresa tem bons relacionamentos com autoridades, tanto federal como estadual. Em 2020, saiu no Diário Oficial da União a publicação de assentimento prévio à ANAC para autorizar a construção de campo de pouso denominado Aeródromo Privado Fazendo Silos Corpal, no município de Aral Moreira, MS, que faz fronteira com Paraguai. Em 2013, a Corpal assinou Termo de Cooperação Mútua com a Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (AGEPEN), onde utilizou mão-de-obra de internos do Regime Semiaberto, Aberto e Livramento Condicional em atividades de serventes, armador, pedreiro e carpinteiro nas obras da empresa na cidade de Dourados-MS. Entre suas propriedades, há inúmeras fazendas espalhadas pelo estado do Mato Grosso do Sul, além de imobiliárias e empresas ligadas ao negócio agrícola. O nome Corpal ficou conhecido no Brasil inteiro ao tentar passar trator sobre a terra demarcada como terra indígena. Será que essa empresa também vai usar o trator “caveirão” sobre os indígenas? Seguir a cartilha do lendário fazendeiro Hoffig, que passou trator sobre o cemitério indígena dos Ofaiés?
A prisão injusta e infundada causou comoção geral. Atraiu não somente atenção, mas a solidariedade de demais indígenas, e tem atraído multidões no terreno reivindicado pelos Guarani-Kaiowá.