Esta semana, gostaria de sugerir uma entrevista no YouTube que o jornalista e militante do PT Breno Altman realizou em seu canal Ópera Mundi.
O jornalista convidou Humberto Paz, revolucionário argentino que participou da resistência armada contra a ditadura neste país, para conversar sobre um fato histórico que teve enorme impacto no cenário político brasileiro no final de 1989.
Trata-se do sequestro de Abílio Diniz, proprietário do Grupo Pão de Açucar. Humberto Paz e mais 19 companheiros organizaram e sequestraram o empresário com intuito de levantar fundos para a causa revolucionária em El Salvador.
No relato, surpreendente, destaca-se a luta revolucionária colocada em prática. “Fizemos por nossas convicções”, diz o entrevistado, hoje um homem já idoso.
O sequestro, realizado em São Paulo, foi descoberto pela política. Paz e mais 10 participantes foram presos e torturados.
Mais do que isso, houve uma armação escandalosa no cativeiro de Diniz. Panfletos e material de propaganda do PT foram colocados na cena como forma de incriminar o partido.
Na época, a imprensa corporativa tratou de transformar tudo em um escândalo de grandes proporções, envolvendo o nome do presidente Lula, que disputava o segundo turno das eleições contra Fernando Collor de Melo.
Sobre o episódio, Paz afirma que houve um erro de cálculo: “não levamos o cenário político brasileiro em consideração e não imaginávamos o quanto prejudicaríamos o PT”, afirma.
O depoimento tem uma força histórica muito grande e é de especial interesse pois ajuda na compreensão de um fato de enorme gravidade a partir do ponto de vista de um indivíduo que viveu todos os acontecimentos e foi um de seus protagonistas.
Humberto Paz ficou preso por 10 anos no Brasil e teve seus direitos violados. Ele e seus companheiros realizaram uma greve de fome que durou 46 dias e que exigia que fossem reconhecidos como presos políticos pelas autoridades brasileiras. O protesto só acabou pela interferencia do próprio Lula e de Fernando Henrique Cardoso.
Os impactos na vida pessoal dos participantes também são comentados. Vale a pena conhecer e refletir sobre testemunhos como esse, que são muito raros. É de uma riqueza impressionante e que merece toda a nossa atenção. É como montar um quebra-cabeça.
A entrevista pode ser assistida neste link: https://www.youtube.com/watch?v=cc1MvqvqBbA