Na última sexta-feira (20), Kristinn Hrafnsson, editor-chefe do WikiLeaks, afirmou que Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República, garantiu que trabalharia para solucionar o caso de Julian Assange, o fundador do WikiLeaks.
“O presidente Lula me garantiu que a luta para acabar com a injustiça do caso Assange seria uma prioridade em sua política externa”, disse Hrafnsson
Além disso, ele afirmou que viajou pela América do Sul para se reunir com presidentes de vários países:
“Recebi o mesmo forte apoio de Gustavo Petro, presidente da Colômbia, que pediu a libertação de Julian e o fim da perseguição. Por último, conheci Andreas Manuel Lopez Obrador, presidente do México, que sempre apoiou Julian. Foi Obrador quem disse que se Julian fosse extraditado para os Estados Unidos, a Estátua da Liberdade deveria ser desmontada e devolvida à França.”
O encontro entre Kristinn e Lula ocorreu em Novembro do ano passado. Na época, Lula publicou uma foto em suas redes sociais ressaltando o seu apoio a Assange contra a sua extradição para os Estados Unidos.
“Estive com @khrafnsson, editor-chefe do WikiLeaks, e com o editor Joseph Farrell, que me informaram da situação de saúde e da luta por liberdade de Julian Assange. Pedi para que enviassem minha solidariedade. Que Assange seja solto de sua injusta prisão”, disse Lula no Twitter.
Antes disso, em junho do mesmo ano, Lula defendeu Assange em um evento do Partido dos Trabalhadores (PT) em Alagoas, afirmando que ele não cometeu nenhum crime, apenas “falou a verdade”:
“E nós que estamos aqui falando de democracia, precisaríamos perguntar que crime o [Julian] Assange cometeu. É o crime que todos vocês cometeram: falaram a verdade. Mostrar que os Estados Unidos da América do Norte através de seu departamento de investigação, através do seu Departamento de Estado, da CIA, estava grampeando muitos países do mundo e, inclusive, grampeando a presidenta Dilma Rousseff. Ele denunciou as falcatruas feitas no país mais importante do planeta.”
De maneira geral – e a viagem de Kristinn confirma este fato -, Assange é apoiado não só pelos presidentes dos países latino-americanos, mas também por seu povo que entende o seu caso como uma grande injustiça. No Brasil, Lula segue a mesma tendência e, principalmente antes de eleito, demonstrou radicalização contra a ditadura dos EUA em relação ao criador do WikiLeaks.
Entretanto, agora que chegou ao poder, Lula está sofrendo uma grave tentativa de desestabilização de seu governo, como demonstrou a invasão de grupos bolsonaristas às sedes dos Três Poderes. Ademais, recebe uma enorme pressão direitista por parte da direita tradicional – a terceira via – e os militares bolsonaristas, que querem derrubar o seu governo.
Com isso, Lula recuou em sua posição de defesa das liberdades democráticas ao ponto que, neste momento, defende a repressão estatal contra os manifestantes bolsonaristas. Algo que vem acompanhado de um aumento na atuação de Alexandre de Moraes contra os direitos do povo.
O problema é que, com o desenrolar da crise, que não dá sinais de que se resolverá tão cedo, Lula será cada vez mais assediado tanto pela direita tradicional quanto pelos militares. Caso não se apoie no povo e na mobilização dos trabalhadores, será derrubado pela burguesia, que já mostrou que não aceitará o seu governo.
Porém, à medida que Lula vai para a direita e que seu governo vai para a direita, perde o apoio popular e, portanto, perde força. Nesse sentido, Lula deve se preparar para combater o golpe e, para tal, precisa defender reivindicações como a liberdade de Assange e, consequentemente, a liberdade de expressão irrestrita.
Caso contrário, o regime político brasileiro continuará se fechando e se tornando cada vez mais autoritário. Então, caso Lula sofra mais um golpe, restará no Estado, que será controlado inteiramente pela burguesia, um aparato de censura e perseguição massivo que servirá para massacrar os trabalhadores e as suas organizações.
Ao mesmo tempo, Lula deve firmar o seu apoio a Assange em ações práticas. Para tal, deve concretizar o que prometeu ao editor-chefe do WikiLeaks e tornar, na política exterior, a liberdade de Assange prioridade essencial de seu governo.
Dessa forma, entrará cada vez mais em contradição com o imperialismo, o que resultará na polarização ao redor de seu governo, medida positiva tendo em vista que os trabalhadores devem se radicalizar para defendê-lo das ofensivas da extrema-direita.