Qualquer guerra será considerada um ato político (CLAUSEWITZ, Da Guerra, [1832] 2010, p. 28)
O Brasil é um país continental, rico em biodiversidade e recursos para o desenvolvimento das forças produtivas que seriam capazes de retirar o país da condição de país explorado, para a condição de país comunista com plena capacidade de distribuição, não fosse ele submetido à escravidão imperialista. Entre todas as capacidades brasileiras, além de um aprendizado científico acumulado em décadas de crescimento de 1951 a 1979, o Brasil tem energia abundante que precisará ser explorada para distribuição ao povo nas próximas décadas.
A escassez de recursos não vem de “questões ambientais”, mas de manejo e planejamento, já que após as guerras contra o Afeganistão, Iraque e Síria, o imperialismo maneja novas estratégias de guerra. A mobilização artificial de seres humanos contra governos, chamada de “revolução colorida”, faz parte do Poder Brando (Soft Power). Anteriormente o Poder Brando era considerado como parte dos elementos da cultura dos países imperialistas, como ciências sociais, entretenimento e imprensa, mas ganhou um aditivo, as mobilizações de massas para mudança de regime.
Quando um governo de um país atrasado adota uma via mais “nacionalista” entra em contradição com o imperialismo. Às vezes podem ser até mesmo governos de direita, mas que defendem indústria nacional e nacionalização de recursos estratégicos, além de estabelecerem políticas bilaterais com países sob embargo ou governos que abre suas relações para além da subordinação aos Estados Unidos e Europa, o condomínio de luxo do mundo.
Nesse sentido, Lula tem demonstrado em suas escolhas no campo econômico (por mais fracos que sejam os nomes), uma sinalização de grandes contradições com o imperialismo, contrariando os diagnósticos mais pessimistas. Por outro lado, existem políticos nomeados que trabalham com o Poder Brando contra o Brasil, além de instituições vinculadas à bancos nacionais que possuem vínculos com o condomínio imperialista.
Essas contradições nas escolhas ocorrem pela pressão da esquerda pequeno-burguesa, que hoje estão rendidas a todo um aparato de Poder Brando contra o país. As ONGs e Tanques de Ideias (“Think Tanks”) tem financiado bolsas e contratado forças produtivas egressas das universidades para atuar contra o Brasil. Muitos se inserem nessas empresas por ingenuidade, por desespero ou formação precárias, mas alguns são astutos, sabem que essas empresas são extremamente lucrativas.
O Poder Brando só atua porque o Poder Duro (“Hard Power”) dá suporte às operações de sabotagem contra os países explorados. Tomando como exemplo o caso de nosso país, as forças militares do imperialismo estão atuantes. São 13 bases na América do Sul cujo principal meta é o Brasil. No mapa abaixo não tem a base de Alcântara, entregue por Bolsonaro e autorizada por Flavio Dino e o PCdoB, o que será um grande entrave se o Brasil não atuar pela sua retomada.
O projeto 127e e o risco de transbordar para a América Latina
Documentos revelados pelo The Intercept [1] foi ratificado na forma de Lei “10 USC 127e: Apoio a operações especiais de combate ao terrorismo”. De acordo com o portal, pequenas equipes de forças de Operações Especiais dos EUA estão envolvidas em um programa de guerra por procuração de baixo perfil “em uma escala muito maior do que se sabia anteriormente”. Com a obtenção de informações obtidas pelo portal, se descobriu que anteriormente pelo menos 14 programas por procuração estavam ativos no grande Oriente Médio e na região Indo-Pacífico em 2020. No total, entre 2017 e 2020, os comandos dos EUA realizaram pelo menos 23 programas de guerra por procuração separados em todo o mundo.
De acordo com o The Intercept:
O 127e é uma das várias autoridades praticamente desconhecidas concedidas ao Departamento de Defesa pelo Congresso nas últimas duas décadas que permitem que os comandos dos EUA conduzam operações à margem da guerra e com supervisão externa mínima. Enquanto o 127e se concentra no “contraterrorismo”, outras autoridades permitem que as forças de elite – SEALs da Marinha, Boinas Verdes do Exército e Marine Raiders entre eles – conduzam operações clandestinas de inteligência e contrainteligência ou ajudem forças estrangeiras em guerra irregular, principalmente no contexto da chamada competição de grande potência. Em abril, altos funcionários de Operações Especiais revelaram uma nova estrutura de “Visão e Estratégia” que parece endossar a confiança contínua no conceito 127e, alavancando “parcerias de compartilhamento de encargos para alcançar objetivos dentro de um nível aceitável de risco”.
Dizer a palavra “caos” não é exagero diante dessa operação. De acordo com a lei que regulamenta o programa:
§127 e. Apoio a operações especiais de luta contra o terrorismo
a) Autoridade. O Secretário de Defesa pode, com a concordância do Chefe de Missão relevante, gastar até US$ 100.000.000 durante qualquer ano fiscal para fornecer apoio a forças estrangeiras, forças irregulares, grupos ou indivíduos envolvidos em apoiar ou facilitar operações militares autorizadas em curso pelas forças de operações especiais dos Estados Unidos para combater o terrorismo.
b) Fundos. Os fundos para apoio nos termos desta seção em um ano fiscal serão derivados de quantias autorizadas a serem apropriadas para esse ano fiscal para o Departamento de Defesa para operação e manutenção.
c) Procedimentos
(1) Em geral a autoridade nesta seção será exercida de acordo com os procedimentos que o Secretário estabelecer para os fins desta seção. O Secretário notificará os comitês de defesa do Congresso de qualquer alteração material em tais procedimentos.
(2) Elementos. Os procedimentos exigidos nos termos do parágrafo (1) estabelecerão, no mínimo, cada um dos seguintes:
(A) Política, estratégia ou outra orientação para a execução e restrições dentro das atividades conduzidas sob esta seção.
(B) Os processos por meio dos quais as atividades conduzidas nos termos desta seção devem ser desenvolvidas, validadas e coordenadas, conforme apropriado, com os entes federativos relevantes.
O projeto 127e não inclui a América do Sul, pois o Poder Brando tem sido suficiente para o controle norte-americano, não há ainda uma ameaça real ou mesmo óbice às suas imposições. Contudo, diante da voracidade com que os Estados Unidos estão vinculando o país às atividades de inteligência e “contra-terrorismo”, não há dúvidas que baionetas estejam encostadas em nossas cabeças. O último exemplo foi a condução do golpe de Estado no Peru, onde supostas inabilidades de Pedro Castillo não podem ser desculpas para não dizer que houve golpe.
A instabilidade política e o estatuto do impeachment posto praticamente em todos os países do continente, exceto na Venezuela onde o julgamento político do presidente não pode levar à sua remoção do cargo. Reformas gerais nas constituições, com frente popular, é que pode entrar em contradição com os Estados Unidos, que impõe até o nome em inglês para deixar claro que manobra os golpes no continente. Cada vez mais faz-se necessário que o continente se integre como forma de enfrentamento ao imperialismo e que o judiciário não seja o servidor do imperialismo. Todo poder deve emanar do povo!
Referências
[1] TURSE, Nick; SPERI, Alice. HOW THE PENTAGON USES A SECRETIVE PROGRAM TO WAGE PROXY WARS. Em: The Intercept. One jul 2022. Disponível em https://theintercept.com/2022/07/01/pentagon-127e-proxy-wars/
[2] US CODE WHITE HOUSE. 10 USC 127e: Apoio a operações especiais de combate ao terrorismo. Disponível em: https://uscode.house.gov/view.xhtml?req=granuleid:USC-prelim-title10-section127e&num=0&edition=prelim