Ideólogo da Nova Esquerda, Vladimir Safatle, professor da USP, promete “eliminar todos os monumentos responsáveis pelo genocídio de povos escravizados”. De acordo com Safatle: “Quem controla o passado, controla o futuro”, diz George Orwell, em 1984. A celebração de responsáveis por genocídios, extermínio e terrorismo de estado é apenas uma forma de repetir o apagamento e a violência contra setores da população ainda hoje submetidos a um estado predador. Derrubar tais monumentos, tal máquina de destruição da memória não é reescrever a história, mas contá-la pela primeira vez.
Não há nada mais diversionista e reacionário que dizer que uma estátua serve para apagar a violência dos opressores, pois o desenvolvimento histórico é violento e contraditório. Neste Diário, e também em todos os veículos de imprensa do PCO, já foi demarcado o que está por trás dessa ação. De acordo com o jornalista Eduardo Vasco “Derrubar monumentos, ação desesperada e uma política identitária”, pois, “ao invés de lutar por uma conquista verdadeira, por uma real emancipação da sociedade, os identitários fazem o jogo do imperialismo e pregam uma luta simbólica inócua”.
Monumentos são símbolos. Símbolos pertencem ao mundo subjetivo. A esquerda pequeno-burguesa, por ser idealista por sua própria natureza de classe, apega-se mais à simbologia do que à realidade material. Para ela, cuja vida material é relativamente confortável, criar ou destruir um símbolo é algo importante, pois pode se preocupar com isso. Para a maioria da população, no entanto, que precisa se preocupar a cada instante com sua sobrevivência material, a simbologia vem em segundo plano, para dizer o mínimo (VASCO, 2020).
Além da discussão política em torno de uma proposta de projeto de lei, reacionária e custosa ao País, a derrubada de estátuas serve como simulacro de luta e pretende impor uma nova história, contada a partir da lógica do imperialismo, que, por sua vez, visa ‘reiniciar’ a história, especialmente dos países atrasados. Não se trata de uma análise da história sob uma ótica crítica, mas de simples diversionismo. O “reinício” (great reset), abordado por setores nacionalistas, é uma pauta do Fórum Econômico Mundial, conforme demonstramos anteriormente para este Diário.
Em coluna intitulada “Do direito inalienável de derrubar estátuas” para o jornal imperialista, El País (na versão sem paywall para o “Racismo Ambiental”), Safatle afirma que “Um bandeirante é, acima de tudo, um predador. Celebrá-lo é afirmar um ‘desenvolvimento’ de um país composto por uma nata encastelada em condomínios e uma grande massa que ainda hoje é caçada”.
Nessa lógica abstrata, o Brasil não poderia existir, pois a expansão do quinto maior país do mundo em extensão territorial, não teria ocorrido sem a presença dos Bandeirantes. Com todas as contradições envolvidas, o Brasil é um país que exerce temor ao imperialismo, pois é grande, rico em recursos e que por isso teve um desenvolvimento relativamente progressista, apesar dos regimes políticos e teve um dos mais duradouros governos de esquerda da América Latina.
Não há nada de concreto, comprovado, que a eliminação de monumentos acabará com as desigualdades, que vingará injustiças e que alterará os grandes fatos, como o fato de vivermos no segundo país mais cobiçado do mundo após a Rússia. Enquanto Safatle olha para a história, sobra geografia para o imperialismo, que vê suas ações facilitadas, a partir da campanha contra o próprio Brasil, feitas por ideólogos, principalmente do PSOL.
O nazismo também foi um movimento que se apropriou da “identidade”, usou os alemães contra os demais povos e ideologias. O nazismo promoveu a queima de livros, derrubou estátuas e se projetou para revisar a história. Para o identitarismo, de forma geral, não há a possibilidade de se discutir e analisar a história de um ponto de vista concreto, a partir da política, demonstrando aos trabalhadores que a principal força produtiva é o trabalho. Portanto, os trabalhadores participam da história, não como espectadores. Monumentos erguidos a “opressores” podem ser removidos durante o desenvolvimento da luta política real, não por intermédio do próprio Estado, este sim um instrumento de opressão.
Sabendo disso, Lênin jamais propôs a derrubada do capital fixo e de símbolos do czarismo. Após a revolução russa, preservou-se o capital fixo czarista e diversos símbolos, como o Kremlin. Uma nova arquitetura se impôs no país, mas a base fixa da Rússia foi preservada para o desenvolvimento social. Já os Bandeirantes foram agentes sociais e políticos que, ao serem confrontados com o território, a natureza e com as dificuldades, se colocaram a sobreviver. A disputa ou até as alianças com os indígenas fizeram parte de uma epopeia do desenvolvimento da própria história progressista da humanidade, e resultou em um país de grande capacidade humana e natural.
O que resta dizer é que Safatle está a serviço, não se sabe se direta ou indiretamente, do Fórum Econômico Mundial, órgão deliberador das políticas das grandes corporações financeiras, industriais, de serviços e comerciais. Os grandes capitalistas estabelecem pautas que visam confundir os incautos, sabendo que o terceiro setor, tanques de ideias (think tanks) e universidades, replicarão ideias como “derrubar estátuas”.
Muitos, como Paulo Galo, “o defumador de estátuas”, será visto por Safatle como grande “revolucionário”, enquanto isso, a burguesia atua contra os trabalhadores. O caminho para o neoliberalismo permanece aberto, enquanto o marionete Vladimir Safatle, coloca uma proposta de lei absurda. A imprensa burguesa repercutiria uma ação como essa, enquanto os bancos continuariam leiloando o País. O que Safatle propõe é uma forma de assalto do orçamento da União contra o povo brasileiro.