Na minha coluna desta semana, decidi fazer uma reflexão sobre as eleições presidenciais à luz de duas experiências que tive e que gostaria de compartilhar com os leitores do DCO.
Na tarde de terça-feira, assisti à análise de Rui Costa Pimenta na TV 247, que voltou a alertar sobre o perigo do “já ganhou” na atual fase da campanha do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, único candidato que pode nos ajudar a reverter o estado de indigência ao qual o país foi jogado.
No programa, o presidente do PCO usou argumentos concretos e fatos para expor sua preocupação com a falta de mobilização popular em torno da candidatura do Lula. O PT, partidos da coligação, sindicatos e demais associações do campo progressista parecem acomodados e paralizados, como mostrou a celebração de 1o de Maio realizada na cidade de São Paulo.
Embalados pelo tom aparentemente positivo das recentes pesquisas eleitorais, os coordenadores da campanha estão se limitando a atuar nos bastidores institucionais e nas alianças estratégicas como suficientes para ganhar o pleito, deixando de lado os mais interessados no resultado: os milhões de eleitores brasileiros que estão vivendo uma crise econômica terrível, como bem apontou o presidente do PCO durante a transmissão.
Uma pessoa da audiência do programa chegou a concordar com ele e ressaltou a “apatia geral”. Muitos que assistiam, no entanto, criticaram a análise e a chamaram de “pessimista”. Mesmo o apresentador, o jornalista Leonardo Attuch, não ficou muito convencido, mostrando que há um clima de que a eleição está ganha e que isso pode acontecer no primeiro turno.
No mesmo momento em que assistia a este debate, fui interrompida pelo trabalho. Tive que falar com um jornalista de um dos principais jornais da burguesia sobre uma pauta qualquer corporativa e a conversa enveredou pela conjuntura nacional.
Para minha surpresa, esta fonte (que prefiro deixar anônima) traçou um cenário surpreendemente parecido com o de Rui Costa Pimenta na TV 247. Trata-se de um jornalista de economia que conhece o mercado financeiro, executivos, políticos e empresários e está acompanhando de perto o ânimo desses personagens.
Sua percepção é a de que há uma crise na campanha do Lula, que não decola. E que há grandes chances de que Bolsonaro vença a eleição por causa disso. Demonstra-se assim que a ideia de “apatia geral” é sentida muito além da lucidez de poucos no campo progressista.
Como bem lembrou Rui no programa, a burguesia brasileira, com o desastre da chamada terceira via, apoirá Bolsonaro de olhos fechados. O jornalista com quem conversei disse a mesma coisa, com outras palavras. Os “mercados” nem cojitam outra opção e o clima entre eles é de que o seu fascista de estimação já ganhou. No espírito desse pessoal, não há espaço para o imponderável.
Estamos a cinco meses da eleição e é fundamental que as forças progressistas encarem e liderem a campanha presidencial com a seriedade que o cenário exige. A mobilização popular e o diálogo aberto com os eleitores brasileiros devem constituir um esforço comum de todos que veem a reeleição do Bolsonaro como um pesadelo.
Caso contrário, esse clima de “já ganhou no primeiro turno” pode nos levar direto para um desastre histórico irreversível.
*A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário