O dito comum de que a corda arrebenta do lado mais fraco mostra-se bem adequado a este cenário de crise econômica. Enquanto bancos e grandes empresas recebem a maior parte do orçamento emergencial, a população pobre fica à míngua.
No caso do futebol, o lado mais fraco são os atletas de base, aqueles aspirantes a jogador profissional que carregam muitas vezes o sonho de tirar suas famílias da pobreza, além de ajudarem financeiramente com a ajuda de custo que recebem.
Cabe acrescentar que as categorias de base envolvem ainda o trabalho de diversos profissionais, como treinadores, preparadores físicos, psicólogos, assistentes sociais, pedagogos, entre outros.
Como sintoma da crise econômica do setor do futebol, o Movimento dos Clubes Formadores do Futebol Brasileiro (MCFFB), do qual participam mais de 50 times, que participam das Séries A, B e C do Campeonato Brasileiro, divulgou uma carta aberta cobrando apoio da CBF e das federações estaduais e questionando o cancelamento das competições.
O documento indica que o peso da crise recairá sobre os atletas e profissionais envolvidos com as categorias de base, apontando que estes seriam muito prejudicados caso as competições sejam canceladas.
É interessante a exposição de que este setor representa em média apenas 5% do orçamento dos clubes. Ou seja, um gasto muito pequeno, que poderia ser mantido sem prejudicar financeiramente os times, quando comparado com outras despesas.
A carta aberta demonstra a disposição dos clubes em priorizar o corte justamente neste setor mais frágil socialmente e que menos onera os orçamentos. Trata-se de uma chantagem, pois se por um lado aponta que os prejuízos aos envolvidos poderiam ser irreparáveis, por outro acaba expondo que os gastos com o setor são relativamente baixos.
Nada de novo, infelizmente. Há pouco mais de um ano, o descaso com as categorias de base se traduziu num incêndio que acabou com a vida de 10 pessoas. Outros, que sobreviveram, foram desligados do clube pouco depois.