As eleições de 89 foram um marco histórico para o Brasil. 25 anos após o golpe militar aconteciam as primeiras eleições no país. O regime caia de podre porém, através de uma manobra astuta, era substituído por sua versão mais leve e digestível. As eleições, tão esperadas e aclamadas pela esquerda há anos, não eram bem como esperado.
O movimento operário vinha desde do início da década numa onda avassaladora de vitórias implacáveis contra os militares. A burguesia recuava e, por vezes, literalmente se escondia debaixo da mesa perante as massivas greves que aconteciam em todo o país. O trabalhadores fundaram seu próprio partido, fortaleceram seus sindicatos e fundaram uma central única, a maior de toda a América Latina, nada poderia pará-los a não ser eles mesmos.
O Partido dos Trabalhadores, unidão dos trabalhadores da cidade e do campo, não fosse pelas lideranças vacilantes e conciliadoras que o controlavam poderia ter passado por cima de qualquer instituição ou ritus de uma sociedade decrépita, porém ao invés disso, escolheu jogar segundo as regras eleitorais da burguesia.
Em 1989, o PT lançava Lula como candidato para concorrer à primeira eleição presidencial do país pós-ditadura. Lula era a figura mais popular dentre o movimento sindical. Esteve presente nas maios importantes greves das últimas décadas, e representava a categoria que liderou a derrota dos militares, o metalúrgicos, e mais especificamente os metalúrgicos do ABC paulista, região com o maior parque industrial do Brasil.
Não havia a menor necessidade de Lula se aliar com um candidato da burguesia para concorrer as eleições. Sequer havia necessidade de concorrer a eleições tão favorável a maré estava, mas caso esse caminho fosse escolhido, não faltariam nomes para compor uma chapa com nomes fortes dentre aqueles que lutaram e lideraram o classe trabalhadora no último período. O nome poderia ter saído o próprio ABC ou do MST para fortalecer ainda mais a união do campo com a cidade. O caminho escolhido portanto foi de escolher como vice um nome da burguesia latifundiária do Sul.
José Paulo Bisol seria o vice de Lula. No seu currículo político já constava o cargo de Deputado Federal e depois Senador pelo PMDB, partido da oposição manipulada pelos militares, assim como a fundação do PSDB junto a Mario Covas em 88, contudo filiou-se ao PSB para poder ingressar na chapa com o PT. O nome de Bisol era um beijo na mão da burguesia para pedir a bênção.
Enquanto o PT se adequava e controlava sua base partidária para justificar a conciliação, a burguesia, totalmente esfacelada pelo ascenso político do trabalhadores, um número enorme de candidatos, recorde até hoje, no total foram 22 nomes participando das eleições presidenciais.
A ausência de um candidato forte por parte da burguesia fez com que unisse-se em torno de um nome que polariza-se com a esquerda, Fernando Collor. Os fortes ataques contra a esquerda e a ausência de um nome forte na direita fez com que um turno não fosse suficiente, levando as eleições para o segundo turno, onde a campanha de calúnias intensificou e a manipulação eleitoral fez-se mais necessária. O caso mais conhecido nos dias de hoje é o do debate entre Lula e Collor na Rede Globo, onde os cortes no material audiovisual fez Lula parecer nervoso e despreparado enquanto Collor sai por cima em todos os confrontos.
Mesmo diante uma manipulação descarada o PT aceitou o resultado eleitoral e não denunciou o esquema de fraude eleitoral; o resultado foi um dos governos “eleitos” mais catastróficos que o Brasil já conheceu até a chegada de Bolsonaro