A ideia de uma aliança do PT com o chamado “centrão” não sai das páginas dos jornais e revistas capitalistas de grande circulação. É o caso das páginas amarelas da revista Veja, que apresentaram uma entrevista com Rui Costa, governador petista da Bahia. Respondendo a uma pergunta sobre a defesa da liberdade de Lula diante de possíveis alianças do PT, Rui Costa afirmou: “Não, não acho que esse é o ponto que deve ser usado pelo PT para condicionar qualquer diálogo com as oposições para formar uma frente.” Sobre um “PT pós-Lula”, Rui Costa disse que “é preciso um novo olhar sobre gestão pública”, apresentando medidas direitistas como exemplo de “novo olhar”.
O governador da Bahia também se apresentou como candidato à presidência daqui a três anos, em 2022, e defendeu que o PT deveria ter apoiado Ciro Gomes à presidência em 2018. Tomadas como um todo, essas afirmações contém todo um programa direitista para o PT que, não por acaso, é reproduzido em um espaço “nobre” da imprensa golpista. A candidatura para 2022 significa “virar a página do golpe”, como disse o senador petista Humberto Costa, nas mesmas páginas amarelas, anos atrás. A defesa da candidatura de Ciro significa uma defesa da aproximação com o chamado “centrão”. E, finalmente, tudo isso é emoldurado pela ideia central de deixar de lado a campanha pela liberdade de Lula.
A ideia de aproximação com o “centrão” apareceu em outros momentos, como nas reuniões entre ministros da Justiça e da Educação dos últimos governos, que juntaram tucanos e petistas em um esboço de frente anti-bolsonarista. O problema é que foram os tucanos que elegeram Bolsonaro quando perceberam a inviabilidade de Alckmin. É uma aliança anti-bolsonarista com bolsonaristas. Deve-se lembrar que Bolsonaro e seu PSL têm uma bancada pequena no Congresso, de apenas 52 deputados entre um total de 513. Seu governo só tem sustentação graças ao chamado “centrão” e a figuras como Rodrigo Maia.
Sendo assim, aliar-se com a direita, ou “centrão”, para combater o bolsonarismo nas eleições só vai fortalecer a própria direita, em um momento em que a população quer o Fora Bolsonaro! Seria abrir mão de uma política independente dos golpistas, a defesa da liberdade de Lula, em nome de uma aliança eleitoral para as eleições municipais do ano que vem.
O abandono de uma política própria nesse caso significa ceder terreno à direita, e ajudar os golpistas a consolidarem o regime político sobre novas bases, depois de dar um golpe em 2016 e fraudar as eleições de 2018, conseguindo finalmente fechar a crise que se abriu com a campanha pela derrubada de Dilma Rousseff, que despertou um movimento de resistência que dura até hoje e continua se desenvolvendo.
A tarefa da esquerda deve ser ajudar esse movimento a continuar se desenvolvendo, estimulando a mobilização em torno da liberdade de Lula e da exigência de que o governo acabe.