Uma política que tomou conta dos EUA, Canadá e Inglaterra no início deste ano começa a chegar, “por coincidência”, às cidades brasileiras. Trata-se da proibição dos canudinhos plásticos. O modus operandi é sempre o mesmo. Primeiro se fazem “campanhas de conscientização” que, na verdade, são uma forma de buscar apoio popular para a segunda etapa, que trata da aprovação de leis locais repressivas. O banimento chegou agora na capital São Paulo, e pode dar multas de R$530 a R$5,3 mil para o comerciante que for pego utilizando estes materiais. Em estados norte-americanos, as multas podem chegar a mil dólares ou até prisão.
A população precisa desconfiar quando governos passam leis repressivas em nome de supostos fins humanitários. Estas funcionam como meio para aumentar o poder repressivo estatal e fazer propaganda demagógica, enquanto os efeitos benéficos são mínimos ou nulos. É estranho que os mesmos políticos que apóiam o governo bolsonarista – que tem diminuído a fiscalização ambiental, facilitado a importação de agrotóxicos banidos em outros países, acabado com incentivos à agricultura familiar e assistido a desastres ambientais como Brumadinho sem mover uma palha – estejam realmente preocupados com o meio ambiente.
Há também uma óbvia coordenação envolvendo capitalistas mundiais, quando um movimento se espalha internacionalmente de uma hora para outra, entre países aliados, envolvendo a troca de produtos no mercado. A outra alternativa é acreditar que bases governistas como as de Trump, Doria e Bolsonaro, sempre hostis às pautas ambientais, colocaram a mão na consciência e, num uníssono, começaram uma verdadeira campanha de preservação planetária.
O que temos aí é um lobby de uma ou poucas grandes indústrias coordenadas com o imperialismo global, visando colocar seus produtos no mercado – canudos de papel, comestíveis ou biodegradáveis – e suplantar o concorrente plástico, muito mais barato. Não se trata de uma política coordenada que pode incluir, por exemplo, incentivo à coleta e reciclagem, incentivo à produção de produtos biodegradáveis e um plano gradual de substituição do plástico descartável. Proibições, multas e obrigatoriedade de adquirir produtos substitutos mais caros são o tipo de política danosa, principalmente aos pequenos comerciantes e ambulantes, que já são vitimizados pelas guardas municipais diariamente.