O Brasil é um país de maioria negra. No entanto, esta maioria é esmagada sistematicamente pelos aparatos repressivos do Estado, como por exemplo as polícias e as Forças Armadas. De acordo com os dados apresentados pelo sítio O Imparcial, que foram extraídos do Atlas da Violência 2019, a cada 100 vítimas de assassinatos no Maranhão, 91 são negras!
Este percentual refere-se a 2017, último ano analisado pelo Atlas. Neste ano foram assassinadas 181 pessoas não-negras, categoria que inclui brancos, amarelos e indígenas, enquanto que 1968 negros, pretos e pardos tiveram o mesmo destino. Com relação ao número de negros mortos tendo como parâmetro a própria população negra do Maranhão, temos que para cada 100 mil habitantes negros no estado, 35 foram assassinados.
São dados muito alarmantes. A mesma pesquisa mostra que no período que vai de 2014 até 2017, o número total de assassinatos no Maranhão caiu de 2385 para 2149, no entanto, o percentual de negros mortos manteve-se estável em 91%, visto que em 2014 foram 2179 negros vítimas de homicídio. Ao observamos, entretanto, por um período de 10 anos, isto é, de 2007 até 2017, vemos que o número de homicídios de negros no estado mais do que dobrou, mostrando um aumento de 104,6%, enquanto que o de não-negros subiu em 15,3%.
Embora seja um resultado catastrófico, não é o bastante para que o Maranhão entre no hall dos estados que possuem as maiores taxas de assassinatos de negros do país. A lista dos 5 estados que tem os piores índices de assassinatos de negros são, respectivamente, o Rio grande do Norte, com 87 mortos a cada 100 mil negros; o Ceará, que acumula 75,6 em 100 mil; Pernambuco, 73,2; Sergipe, 68,8 e finalmente Alagoas, com 67,9. Em todos os casos contamos o total de negros mortos a cada 100 mil habitantes negros. Com seus 35 homicídios a cada 100 mil negros o Maranhão fica próximo do Rio Grande do Sul, que apresenta um índice de 36,7.
São dados que mostram claramente a situação real vivida pelo negro na sociedade brasileira, de norte a sul do país, uma condição de esmagamento permanente. Portanto, não podemos acreditar que se trata de uma peculiaridade do Maranhão, uma vez que o estado inclusive sequer consta entre os estados onde mais negros são assassinados estatisticamente.
A esquerda pequeno-burguesa costuma discutir o problema do negro na sociedade de formas muito estranhas. Apelam para conceitos confusos, como o tal do lugar de fala, que determina que somente aqueles que sofrem um determinado preconceito na própria pele podem opinar sobre ele ou ainda a representatividade, ideia individualista que leva os negros a acreditarem que o melhor que podem fazer é comemorar a ascensão individual de alguns poucos negros na sociedade, tal como Joaquim Barbosa, por exemplo, ou até mesmo o Fernando Holliday. Isso quando não vemos um setor do movimento negro que se coloca na posição de “chave de cadeia”, propondo a prisão pra todo mundo, ao invés de ter uma posição contrária ao encarceramento.
A questão do negro na sociedade brasileira tem que ser enfrentada muito concretamente. Sendo maioria da nossa população, principalmente na classe operária, os negros devem seguir o exemplo dado pelos Panteras Negras e organizar a sua própria autodefesa, independente da polícia e dos outros órgãos do Estado, até porquê finalmente são estes mesmos elementos os responsáveis pelo massacre sistemático da população negra.