Nesta última terça-feira (18), pela parte da manhã, o presidente do Mali, Ibrahim Boubacar Keita, e seu primeiro-ministro, Boubou Cissé, foram detidos por soldados revoltados com sua administração. Após algumas horas, o agora ex-presidente anunciou sua renúncia e, além disso, a dissolução do parlamento maliano. Em seguida, os soldados amotinados se juntaram à população que já se manifestava no centro de Bamako pela queda de Boubacar. O porta-voz dos insurretos, que se apresentam como “Comitê Nacional para a Salvação do Povo”, convidou demais partidos e organizações para que condições sejam criadas para a organização de um governo civil transitório, visando a organização de novas eleições gerais.
Frente à isso, o imperialismo prontamente se colocou contrário à insurreição dos soldados malianos, taxando o ocorrido de “golpe”. O Conselho de Segurança Nacional da ONU convocou uma reunião de emergência nesta quarta-feira (19) e, ademais, Antonio Guterres, Secretário Geral das Nações Unidas, exigiu a libertação imediata dos presos. Sem contar que o chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, disse recusar qualquer tipo de mudança inconstitucional.
“Isso não pode, de forma alguma, ser uma resposta à crise sociopolítica que atinge o Mali há meses”, disse Borrel
Em especial, a declaração de Borrell vem com um tom único de cinismo. Afinal de contas, o exército francês invadiu o território de Mali e ocupa o Norte do país desde 2013, promovendo, inclusive, combates armados intercomunitários. O fato é que a população de Mali, representada pelo Movimento 5 de Junho, tem ido às ruas do país para protestar contra o governo neoliberal imperialista de Boubacar Keita desde junho. Ademais, como disse à Reuters Nouhoum Togo, porta-voz do movimento, os eventos recentes “não foram um golpe militar, mas uma revolta popular”.
Acima de tudo, o que precisa ser foco de nossa análise acerca da situação é que, ao mesmo tempo que o imperialismo caracteriza a ação militar malinense como um golpe, dá total apoio às “revoltas populares” que vem crescendo dentro da Bielorrússia e do Líbano. Marca dessa contradição é a fala de Borrel que ignora por completo o caráter abertamente inconstitucional dos grupos bielorrussos e libaneses que clamam pela queda de seus governos nacionalistas por meio da intervenção internacional.
É um tipo de posicionamento típico da política imperialista, apenas mais uma faceta de suas fundamentais contradições. Outro exemplo escancarado da arbitrariedade dos grandes regimes é o posicionamento da Inglaterra e do próprio EUA frente à crise política dentro de Hong Kong. Afirma se tratar de uma mobilização com caráter popular, ignorando as provas de que os Estados Unidos têm envolvimento direto com a organização de tais manifestações.
Principalmente durante a presente crise, o sistema imperialista escancara sua decadência e inicia um processo inédito de hecatombe econômica e política, ruindo aos tropeços, sobre suas próprias contradições. Com isso, é imprescindível que as falácias da demagogia imperialista sejam categoricamente denunciadas visando garantir a soberania dos estados e, mais importante, dos trabalhadores. Acima de tudo está a vontade do povo, e nem mesmo a política agressiva do imperialismo pode atropelar aquilo que a classe operária decidir.