Quando um artista coloca sua obra à apreciação do público, ele perde o controle sobre ela. A obra já não mais pertence ao autor, pertence a todos. Foi o caso de Handel e sua famosíssima ária “Ombra Mai Fu” (nunca existiu sombra mais doce), da sua ópera Xerxes. A história da ópera se passa por volta de 400 a.C., durante a guerra entre Pérsia e Grécia. Logo de cara, no início do primeiro ato, Xerxes (o rei persa) canta a ária falando de seu amor pela natureza, no intuito de cinicamente encobrir sua personalidade cruel e despótica. Uma belíssima ária que fala da doçura da sombra de uma árvore.
Acontece que hoje essa ária transformou-se em uma espécie de “hino à natureza”, um lamento pela destruição de florestas, e é interpretada por diversas meio-sopranos, sendo que era originalmente para tenor.