Ricardo Rabelo

Ricardo Rabelo é economista e militante pelo socialismo. Graduado em Ciência Econômicas pela UFMG (1975), também possui especialização em Informática na Educação pela PUC – MINAS (1996). Além disso, possui mestrado em sociologia pela FAFICH UFMG (1983) e doutorado em Comunicação pela UFRJ (2002). Entre 1986 e 2019, foi professor titular de Economia da PUC – MINAS. Foi membro de Corpo Editorial da Revista Economia & Gestão PUC – MINAS.

Coluna

Trump fora da Venezuela!

Uma ação anti-imperialista deve ser parte integrante das lutas populares a serem impulsionadas

O Dia Mundial de Solidariedade com a Venezuela e pela Paz na América Latina e no Caribe foi realizado em vários países do mundo. No sábado, 30 de agosto, organizações de massa, partidos políticos e movimentos sociais de vários países se uniram sob o lema “A Venezuela não é uma ameaça, a Venezuela é uma esperança” para expressar seu apoio à Venezuela e à paz na América Latina.

O movimento de solidariedade vem em resposta às recentes ações agressivas do governo Trump contra todos os povos do mundo, com a imposição de tarifas colonialistas e com a violência militar dos Estados Unidos contra o povo e o governo venezuelanos, que chegaram ao cúmulo com o envio de uma frota de embarcações militares ao Mar do Caribe. Essa iniciativa militar é o ápice de uma enorme trajetória de agressões, que começou com as sanções econômicas do Governo Obama, ganhou grande relevância no 1º Governo Trump, com a chamada “pressão máxima” que foi mantida no Governo Biden. Nesse segundo governo Trump, as agressões começaram com a “deportação” de cerca de 300 venezuelanos para uma prisão de segurança máxima no Equador, redobraram-se com a duplicação do valor prometido pelo governo pelo sequestro e envio aos EUA do Presidente eleito da Venezuela, Nicolás Maduro, e apresentam-se agora como uma explícita intervenção militar e desestabilização do governo, a quem os EUA acusam falsamente de associação com o narcotráfico.

Essa ameaça da maior potência mundial em termos militares contra um país debilitado pelas agressões de todo tipo causou uma onda de indignação popular mundial, que já não suporta mais a opressão de um governo fascista, que usa da violência contra os imigrantes latinos e contra seu próprio povo, com tropas federais ocupando as principais cidades governadas pela oposição democrata. Com o lema “Tirem as mãos da Venezuela!” repercutindo profundamente da África do Sul à Austrália, vários eventos foram realizados em locais como Reino Unido, Sérvia, Malásia, Colômbia, México, Azerbaijão, Áustria, Bolívia, Coreia do Sul, Brasil, Guiné Equatorial, Burkina Faso, Cuba, Jordânia, Cazaquistão, Senegal e outros.

As manifestações ocorreram em praças públicas, embaixadas, universidades e espaços culturais, e incluíram mobilizações, encontros, fóruns, expressões artísticas e declarações de solidariedade. Nunca antes o mundo assistiu a um movimento anti-imperialista de tal amplitude, que se soma à iniciativa da Flotilha da Liberdade, que reuniu também milhares de pessoas em todo o mundo em solidariedade à Palestina.

Venezuela anuncia adesão à Iniciativa de Governança Global

O presidente da República Bolivariana da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou que assinará o documento oficial de adesão à Iniciativa de Governança Global, apresentado pelo presidente Xi Jinping no âmbito da Cúpula da Organização de Cooperação de Xangai (OCX), realizada em Tianjin em 1º de setembro.

Durante uma coletiva de imprensa com a mídia nacional e internacional, o chefe de Estado destacou que “a Venezuela se une a esta iniciativa pela paz, desenvolvimento, futuro compartilhado e harmonia mundial”, na qual novos polos estão surgindo. Ele exaltou seu desejo de que essa ação seja a consolidação de um sistema de paz, harmonia e partilha do destino da humanidade, “sem ameaças, sem chantagem, sem supremacismo”, porque o povo venezuelano é solidário e pacífico.

O presidente chinês, Xi Jinping, durante sua palestra, pediu a defesa da coexistência pacífica e da cooperação ganha-ganha, e anunciou o estabelecimento de um sistema de governança global mais justo e equitativo, que valorize a igualdade, o Estado de Direito, o multilateralismo e benefícios tangíveis para o povo. Para isso, o líder chinês propôs a iniciativa baseada na adesão à igualdade soberana, ao direito internacional e ao multilateralismo, com foco nas pessoas e garantias de ações eficientes. Dessa forma, a Venezuela rompe o cerco ao qual foi condenada pelo Brasil, que vetou sua participação nos BRICS. Na mesma reunião foi discutida a proposta de criação de um Banco de Desenvolvimento, nos moldes do já existente nos BRICS.

Milícia Bolivariana se fortalece, atingindo mais de 8 milhões de venezuelanos alistados

“Alcançamos um número consolidado de milicianos e reservistas alistados de 8.200.000 venezuelanos que se apresentaram e disseram que estão prontos”, disse o presidente da República Bolivariana, Nicolás Maduro, numa coletiva de imprensa.

Ao mesmo tempo, o chefe de Estado ressaltou que há muitos venezuelanos que querem se alistar na defesa da Pátria, por sua vez, acrescentou que depois disso, uma reorganização deve ser realizada com uma dinâmica em que cada pessoa possa ser útil, por exemplo, um comunicador social será importante como jornalista para divulgar a verdade sobre a Venezuela, bem como um médico no cuidado de suas funções junto à população, ou ainda uma mulher idosa com experiência em enfermagem. “Os trabalhadores de todas as empresas, os camponeses; os impressionantes pescadores estavam presentes; os cientistas presentes. Todos os setores sociais compareceram”, disse ele. No mesmo contexto, o presidente Nicolás Maduro anunciou a convocação do processo de treinamento massivo da população que foi registrada em todos os territórios da República.

A política imperialista de Trump

Ao buscar reimplantar um núcleo industrial importante no país, o governo Trump passou a adotar uma política de agressão imperialista dos EUA a todos os países do mundo. O “acordo” com a União Europeia foi até agora a maior vitória do governo Trump, pois conseguiu submeter a Europa à necessidade de reter 5% do PIB de cada país para gastos militares, cujas compras de armamento serão feitas apenas nos EUA. Obrigou também o conjunto de países a investir um grande montante nos EUA, além do pagamento de uma alíquota de 15% sobre todos os produtos exportados para os EUA. A pior derrota dos EUA foi diante da Índia, que não aceitou deixar de importar petróleo da Rússia e definiu uma participação geopolítica no bloco euroasiático sob a liderança da China e da Rússia.

No caso da América Latina, desenvolveu até agora a política mais agressiva, com um tarifaço de 50% sobre os produtos exportados pelo Brasil e exigências políticas na questão do julgamento da cúpula do golpe de Bolsonaro. Sua política com relação aos migrantes, extremamente violenta, se dirige prioritariamente à migração latino-americana. Finalmente, está utilizando a agressão militar como forma de fustigar o governo Maduro da Venezuela, para preparar uma “mudança de regime” de forma violenta.

O resultado positivo para nós, brasileiros, foi a tomada de consciência com relação ao imperialismo norte-americano e a necessidade de adotar uma política de enfrentamento que possibilite ao Brasil uma autonomia econômica e política cuja única alternativa é a submissão neocolonial imposta pelos EUA. Infelizmente, o governo Lula não foi capaz de adotar uma política efetivamente soberana, ao não retaliar as medidas adotadas por Trump e se solidarizar com os demais países atingidos pela agressão imperialista.

A explosão fake do perigoso barco inexistente de traficantes

A mentira e a enganação são uma das características mais evidentes da ditadura fascista de Trump. Foi divulgado um vídeo pelo governo norte-americano para “provar” a mentira mais deslavada inventada por Trump, de que havia explodido, em 2 de setembro, um perigoso barco cheio de drogas. Não é preciso ser um técnico especializado em vídeos para ver que se trata de algo falsificado. Mas o documentarista venezuelano Ángel Palacios apresenta argumentos contundentes e irrefutáveis para provar a escabrosa mentira visual apresentada por Trump.

São muitos e importantes os questionamentos apresentados pelo documentarista venezuelano:

  • Como se sabe que ele estava carregando “muitas drogas” e não ogivas nucleares ou balas de goiaba?
  • Como ele sabia que os membros da tripulação eram de fato venezuelanos se todas as evidências e pessoas foram eliminadas “minutos antes”? Em que tempo eles corroboraram a nacionalidade, se conseguiram resgatar alguma coisa da queima?
  • Não é o principal objetivo de uma operação antinarcóticos capturar drogas?
  • Por que eles não dizem onde ocorreu o suposto evento? Por que eles encobrem o local com um genérico “sul do Mar do Caribe”?
  • Por que as canhoneiras da Marinha dos EUA não agiram?
  • Eles não estavam interessados em prender e interrogar os supostos traficantes de drogas?
  • Não estavam interessados em conhecer e investigar a origem, o conteúdo e as quantidades do que transportavam para lá?
  • Por que degradar deliberadamente a nitidez e a clareza do vídeo por meio de edição hiperamadora a ponto de torná-lo inútil para análise? Os vídeos de Trump nas festas de Epstein em 1992, por exemplo, são muito mais nítidos do que o vídeo apresentado com a tecnologia moderna da Marinha dos EUA.
  • Por que não houve uma única tomada ampla que mostrasse o contexto da operação?
  • É uma coincidência que ONZE tenha sido o número de narcotraficantes presos vivos em 21 de julho em uma operação realizada pela Guarda Costeira dos EUA no Pacífico equatoriano, e que ONZE seja o número de supostas mortes na operação apresentada por Trump em 2 de setembro? Alguém no Congresso dos EUA levantará a voz para investigar o que pode ser um caso de falsos positivos?
  • Por que nem a Guarda Costeira nem a Marinha Holandesa, que opera em conjunto no Caribe, mencionaram essa operação em suas contas oficiais, onde mostram constantemente apreensões com dados, fotos e vídeos?
  • Por que o presidente Trump mencionou que houve uma “briga” e não há uma única imagem em seu vídeo que a mostre?
  • Por que Marco Rubio divulgou essas informações em sua conta pessoal de mídia social e não em sua conta oficial como funcionário do governo?
  • O que esses navios de guerra estão fazendo no Caribe, se os próprios relatórios de inteligência dos Estados Unidos mostram que é através do Pacífico e da fronteira ocidental dos Estados Unidos que as drogas têm um campo aberto?
  • Por que a insistência em apontar a Venezuela como o país de onde sai a maioria das drogas para os EUA, se o Relatório Mundial sobre Drogas da ONU ilustra que outros países como Equador, Colômbia e Peru têm os primeiros lugares?
  • O que está acontecendo na Casa Branca que recorre a falsificações tão mal elaboradas, enquanto os vídeos geralmente apresentados pela Guarda Costeira são totalmente diferentes? Quantos governos existem em Washington?

São questionamentos que mostram a evidência da enganação internacional apresentada por Trump.

A necessidade de se adotar uma política anti-imperialista

Uma ação anti-imperialista deve ser parte integrante das lutas populares a serem impulsionadas. Isso pode se materializar fundamentalmente na luta pela implantação de um modelo econômico claramente antineoliberal, dotado de um núcleo fundamental de empresas estatais, capazes de garantir um desenvolvimento real do país. Na ampliação, sob a égide do Estado, de serviços nas áreas de saúde, educação, infraestrutura e desenvolvimento tecnológico. É importante manter uma campanha permanente de denúncias da ação das empresas estrangeiras no país, mostrando o prejuízo que causam à economia do país, seja na remessa de lucros, seja nos danos causados ao meio ambiente, ou pela exploração dos trabalhadores.

No caso do Brasil, é importante a luta pela manutenção do controle de nossas riquezas naturais, em especial na questão da energia e de matérias-primas estratégicas. A luta pela manutenção do controle nacional da Amazônia e da proibição de entrada dos capitais estrangeiros nas compras de terras e no domínio de setores considerados estratégicos para o país, como o petróleo.

Uma atenção especial deve ser dada às Forças Armadas, que funcionam como um verdadeiro exército de ocupação do país, cuja estratégia militar é a guerra contra o inimigo interno, isto é, os trabalhadores brasileiros. Deve ser feita a denúncia das notórias vinculações das FFAA com interesses estrangeiros e com o próprio Exército dos EUA. Nesse sentido, é preciso fazer uma campanha permanente de propaganda pela devolução da base de Alcântara ao governo brasileiro e de não renovação da indicação de um general brasileiro para integrar o Comando Sul do Exército dos EUA, com o rompimento de qualquer ação militar conjunta com os EUA.

Junto a essas tarefas está, claro, uma campanha de solidariedade aos povos oprimidos pelo imperialismo, em especial os países da América Latina sancionados pelos EUA, como é o caso da Venezuela, Nicarágua e Cuba. Faz parte integrante dessa campanha a solidariedade à luta dos palestinos contra a ocupação israelense e pelo fim do genocídio a que estão submetidos.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a deste Diário

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