Ricardo Rabelo

Ricardo Rabelo é economista e militante pelo socialismo. Graduado em Ciência Econômicas pela UFMG (1975), também possui especialização em Informática na Educação pela PUC – MINAS (1996). Além disso, possui mestrado em sociologia pela FAFICH UFMG (1983) e doutorado em Comunicação pela UFRJ (2002). Entre 1986 e 2019, foi professor titular de Economia da PUC – MINAS. Foi membro de Corpo Editorial da Revista Economia & Gestão PUC – MINAS.

Coluna

Terroristas implantam ditadura na Síria

Todos os membros do novo governo possuem histórico em grupos jihadistas, e grande parte deles são estrangeiros

A Síria é uma nação marcada historicamente pela dominação externa e pela instabilidade política e militar. Em 24 de outubro de 1945, o país conquistou sua independência como uma república parlamentar e tornou-se membro fundador da Organização das Nações Unidas, encerrando formalmente o antigo domínio francês. No entanto, as tropas francesas permaneceram no território sírio até abril de 1946.

O período que se seguiu à independência foi conturbado, com vários golpes de Estado e tentativas de golpes ocorrendo entre 1949 e 1971. Entre 1958 e 1961, a Síria uniu-se brevemente ao Egito, em uma aliança que terminou com o golpe de Estado de 1961. A República Árabe Síria foi estabelecida no final de 1961, após um referendo realizado em 1º de dezembro, mas a nação continuou a enfrentar instabilidade até o golpe de Estado de 1963, quando o Partido Baath assumiu o poder.

Durante 53 anos, a Síria foi governada pelo Partido Baath, primeiro sob Hafez al-Assad (1971-2000) e depois por seu filho, Bashar al-Assad, que governou por 24 anos.

O regime de Assad chegou ao fim em dezembro de 2024, após uma invasão de cerca de 20 mil combatentes que tomaram a cidade de Idlib. O exército sírio, que contava com aproximadamente 200 mil soldados e uma infraestrutura militar consolidada, não ofereceu resistência significativa, mesmo após quase 15 anos de guerra civil que causou a morte de mais de 500 mil pessoas.

Há suspeitas de que os Estados Unidos tenham corrompido oficiais do exército e realizado um ataque hacker que impediu a comunicação com as tropas. Além disso, não houve reação por parte dos países aliados da Síria, como Rússia, Irã e Hezbollah. As versões sobre essa vitória dos combatentes, sem resistência por parte do governo de Bashar, são contraditórias e não explicam claramente o ocorrido.

Conforme discutido em um artigo anterior, a Síria está atualmente dividida em várias regiões dominadas por potências estrangeiras, como Israel, EUA e Turquia, tornando difícil prever a extensão do poder do novo governo.

Em 29 de janeiro, o Departamento de Operações Militares do novo governo na Síria anunciou que Abu Mohammad al-Julani, líder do Hayat Tahrir al-Sham (HTS), assumirá a presidência do país durante a chamada “fase de transição”. O novo presidente passará a ser conhecido como Ahmad Al Sharaa, um nome que ele adota frequentemente.

O porta-voz do HTS declarou que “todas as facções militares e órgãos revolucionários políticos e civis estão dissolvidos e integrados às instituições do Estado”. Ele também anunciou “a formação de um novo aparato de segurança para preservar a segurança dos cidadãos” e a “reconstrução do exército sírio”.

O novo governo decretou a suspensão da constituição síria, a dissolução do Partido Baath, da Assembleia do Povo, do exército nacional, dos serviços de segurança e de todas as facções armadas, incluindo o próprio HTS.

A conferência que oficializou o novo governo, chamada de “Conferência para Anunciar a Vitória da Revolução Síria”, contou com a presença de chefes militares que participaram da tomada do poder em dezembro de 2024.

De acordo com a imprensa ocidental, o governo recém-anunciado deverá ceder o poder a uma nova administração em março. No entanto, o ditador Sharaa previu que pode levar até três anos para finalizar a nova constituição da Síria, deixando a convocação de eleições indefinida. Assim, o novo regime se concedeu, no mínimo, quatro anos de poder absoluto, sem congresso, judiciário, partidos ou qualquer instituição independente.

O Catar foi um dos primeiros países a anunciar seu apoio ao novo governo sírio, emitindo um comunicado saudando as “medidas para reestruturar o Estado sírio e promover o consenso e a unidade”. Ahmad al-Hayes, líder da facção Ahrar al-Sharqiya, apoiada pela Turquia e responsável por diversos crimes de guerra, esteve presente na conferência.

Segundo informações do site The Cradle, todos os membros do novo governo possuem histórico em grupos jihadistas, e grande parte deles são estrangeiros. O novo exército sírio é composto principalmente por líderes estrangeiros, e Sharaa declarou que esses combatentes “devem ser celebrados” como parte do movimento que levou à queda de Assad.

Entre os oficiais militares do novo governo sírio, há estrangeiros como:

  • Abdulaziz Dawood Khudaberdi (militante uigur, brigadeiro-general);
  • Mawlan Tarsoun Abdussamad e Abdulsalam Yasin Ahmad (coronéis uigures);
  • Omar Mohammed Jaftashi (cidadão turco, general de brigada);
  • Abdul Rahman Hussein al-Khatib (cidadão jordaniano, general de brigada);
  • Saifiddin Tojiboev (tadjique, coronel);
  • Abdul Jashari (extremista albanês, coronel).

O novo ministro da Justiça, Shadi Mohammad al-Waisi, já atuou como juiz da Frente Nusra e supervisionou execuções públicas. O novo ministro da Defesa, Murhaf Abu Qasra, foi responsável por ataques com drones e está ligado a diversos crimes.

A chefe de Assuntos da Mulher, Aisha al-Debs, declarou que “não permitirá espaço para aqueles que diferem ideologicamente” e que o governo pretende criar um modelo para as mulheres sírias baseado na Sharia islâmica.

Nos primeiros meses do novo governo, foram registradas diversas execuções, prisões arbitrárias e atos de repressão contra minorias religiosas, como alauítas e cristãos. Vídeos circulam mostrando execuções, torturas e humilhações públicas.

O novo governo também adotou uma política econômica neoliberal, promovendo privatizações e demissões em massa no setor público. O ministro interino das Finanças, Basil Abdel Hanan, afirmou que o novo governo pretende priorizar o crescimento do setor privado.

Os governos ocidentais avançam rapidamente para suspender as sanções econômicas que devastaram a economia da Síria por mais de uma década.

O governo espanhol hasteou sua bandeira na embaixada em Damasco e celebrou o retorno do país à Síria após 12 anos de ausência. O ministro das Relações Exteriores espanhol, Albares, visitou a prisão de Sednaya, condenando o regime de Assad, mas ignorando os massacres cometidos pelo novo governo.

Os Estados Unidos reconheceram tacitamente o novo regime jihadista, com visitas do conselheiro para o Oriente Médio, Daniel Rubinstein, e da chefe do Departamento de Estado, Barbara Leaf, que se reuniram com Al-Sharaa em Damasco.

França e Alemanha também reconheceram oficialmente o novo governo sírio, seguidas pela União Europeia, que anunciou um “pacote de ajuda” de 235 milhões de euros.

Diante dessa situação, nós, trabalhadores brasileiros, devemos nos solidarizar com o povo sírio e denunciar a repressão e os massacres cometidos pela nova ditadura.

É fundamental que o governo brasileiro se posicione contra o novo regime e exija o fim da ocupação militar da Síria por potências estrangeiras. A esquerda deve se unir para condenar o governo jihadista, exigir o fechamento da embaixada em Damasco e pressionar pelo fim da ocupação militar dos EUA, Turquia e Israel no território sírio.

* as opiniões dos colunistas não refletem necessariamente as posições deste Diário

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