Uma matéria da Folha de S.Paulo, publicada em 6 de abril, informa que uma estudante da USP, acusada de tentar impedir a instalação de grades no CRUSP (Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo), recebeu da Procuradoria-Geral da USP um termo de ajustamento de conduta propondo “perdão” da acusação caso ela deixe de participar do movimento estudantil.
Quem solicitou o inquérito foi a PRIP (Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento), que é a responsável pela administração do CRUSP. Os estudantes vêm protestando contra a instalação das grades desde 2024, quando a universidade decidiu instalá-las.
A Reitoria da USP acusa os estudantes de terem “usado violência” para impedir a instalação. Antes de qualquer coisa, dizemos: essa é a típica acusação caluniosa contra as pessoas que protestam.
O CRUSP, pelo menos desde a ditadura militar, é um local onde o movimento estudantil é mais radicalizado. Não à toa, a Reitoria insistentemente tenta intervir indevidamente no local, sempre com o objetivo de controlar os estudantes. A instalação das grades tem o mesmo sentido. Está certa a AmorCrusp (Associação de Moradores do CRUSP) ao denunciar que o objetivo da Reitoria com a instalação de grades e portões é expulsar os moradores “clandestinos” que vivem nos prédios — que nada mais são do que estudantes que não têm condições de moradia, mas não conseguiram esse direito e são acolhidos pelos outros moradores.
O que acontece é que a oferta de moradia é ridícula perto das necessidades dos estudantes, e os próprios moradores do CRUSP se organizam como podem para resolver um pouco esse problema. A Reitoria não quer esses moradores porque, quanto mais gente, mais forte é o movimento estudantil ali dentro. E aí, em vez de resolver o gravíssimo problema da falta de moradia, ela prefere reprimir os estudantes.
Entretanto, de toda essa história, o que é mais hediondo é querer obrigar a estudante a se afastar do movimento estudantil. É a volta à ditadura militar, quando as pessoas estavam proibidas de realizar atividades políticas.
É totalmente ilegal a Reitoria obrigar uma pessoa a não participar do movimento estudantil. É um ataque à liberdade de organização política e à liberdade de expressão.
O que a Reitoria quer da estudante é uma aberração política e jurídica.
Como nota final, é importante dizer que essa situação que está acontecendo na USP tende a se agravar — e muito — com os processos contra os bolsonaristas do 8 de janeiro. O que o STF está fazendo é generalizar e abrir um precedente nacional para que aberrações como as que a Reitoria da USP está promovendo contra os estudantes se tornem a norma. A perseguição judiciária contra inimigos políticos, as acusações de “atentado contra instituições democráticas”, “uso de violência”, “terrorismo” — tudo isso pode e já está sendo usado contra a esquerda e os movimentos populares.
Ao gritar “sem anistia” para os bolsonaristas perseguidos pelo STF, a esquerda está gritando “sem anistia” também para os estudantes e outros ativistas perseguidos.