A AtlasIntel, instituto de pesquisa que divulgou que mais de 80% dos moradores de favelas apoiam a megaoperação de Cláudio Castro — ação que deixou mais de 130 mortos nos complexos da Penha e do Alemão —, tem em seu quadro societário Thiago Barros Rodrigues Costa. Link da matéria.
Em 2022, o nome de Thiago apareceu entre os dez maiores anunciantes políticos do Google, com R$86 mil investidos em propaganda em favor de Jair Bolsonaro. Ele ficou na 5ª posição, à frente de partidos como MDB, PP e PT.
No início de 2025, a AtlasIntel foi eleita pela plataforma Silver Bulletin, ligada ao estatístico Nate Silver, como o instituto mais preciso e transparente nas pesquisas eleitorais nos Estados Unidos — justamente durante o governo Trump, que mantém proximidade pública com a família Bolsonaro.
Mas há muitas perguntas em aberto sobre essa pesquisa:
A pesquisa ouviu 1.089 pessoas em todo o Brasil, por meio digital (via método de “recrutamento aleatório Atlas RDR”), entre 29 e 30 de outubro.
A margem de erro declarada é de 3 pontos percentuais, com nível de confiança de 95%.
O levantamento indica que 80,9% dos “moradores de favelas” no País e 87,6% nas favelas cariocas aprovam a operação.
O que ainda não está claro — e merece investigação:
- Quantas das 1.089 pessoas de fato vivem em favelas?
- Quais comunidades foram incluídas? E em que cidade ou estado?
- Como se define “morador de favela” numa pesquisa feita apenas online?
- Houve ponderação (pesos) para corrigir sub-representação digital em territórios de baixa conectividade?
- E, principalmente: é ético divulgar uma pesquisa com esse teor logo após uma operação policial que matou mais de uma centena de pessoas?
Essas lacunas não invalidam automaticamente a pesquisa — mas pedem prudência e transparência. Quando uma empresa com ligações políticas e elos internacionais com o ecossistema bolsonarista-trumpista publica um resultado que legitima uma ação policial letal, não estamos diante de mera estatística: estamos diante de narrativa política com roupagem técnica.
Questionar não é negar os dados. É exigir que eles sejam públicos, verificáveis e metodologicamente sólidos — sobretudo quando vidas estão em jogo.



