Brasil

Polícia invade escola e assassina mais dois no Rio de Janeiro

Ataque fez parte da Operação Contenção, a mesma que resultou na maior chacina da história do País

Na manhã de quarta-feira (19), as forças de repressão do Rio de Janeiro realizaram mais uma fase da chamada Operação Contenção, responsável pela chacina nos morros do Alemão e da Penha que resultou no assassinato de 135 pessoas. Dessa vez, o alvo foi a Vila Kennedy, na Zona Oeste.

Segundo a polícia militar fluminense, duas pessoas foram assassinadas e duas foram feridas. Além disso, mais de 40 mandados de prisão e busca e apreensão foram cumpridos, resultando na prisão de oito pessoas.

“Essa operação tem por objetivo combater o Comando Vermelho. É uma operação conjunta, com a Secretaria da Polícia Civil, com a Secretaria da Polícia Militar, que tem por objetivo impedir a expansão do Comando Vermelho para toda aquela região da Zona Oeste. Identificamos essa organização criminosa tenta expandir seus territórios na região de Campo Grande, Carobinha e Largo do Correia, e em Bangu, no Catiri. Verificamos que eles utilizam diversos instrumentos eletrônicos, como drones, câmeras de monitoramento, para monitorar a ação da polícia e também para praticar ataques”, afirmou o delegado Alexandre Cardoso, da 34ª DP, em entrevista ao Bom dia Rio, da TV Globo.

A alegação de que o Comando Vermelho (CV) utiliza veículos aéreos não-tripulados (VANTs, ou drones) para as mais diversas operações também foi feita durante a Chacina do Alemão e da Penha. No entanto, reportagem exclusiva do Diário Causa Operária (DCO) mostrou que, na realidade, eram as forças de repressão do estado que estavam utilizando máquinas do tipo para atacar a população da região.

O que realmente aconteceu no Rio de Janeiro

No ataque desta quarta-feira, a Polícia Civil afirmou que uma grande quantidade de drogas foi encontrada dentro de uma escola. Seguindo o mesmo tipo de acusação de “Israel” contra o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas, na sigla em árabe), os policiais afirmam que operava, em uma área desativada da escola na zona oeste, um “bunker do tráfico”.

Devido à operação, 16 unidades escolares da rede municipal de educação foram impactadas. Invés de condenar a ação policial dentro de uma instituição de ensino, a Secretaria Municipal de Educação se limitou a emitir nota para repudiar “profundamente que uma escola, espaço que deveria ser sagrado, tenha sido escolhida como alvo de criminosos”. O funcionamento de duas unidades de saúde que atendem a região da Vila Kennedy também foi suspenso.

Os assassinatos, por sua vez, foram feitos, segundo a versão oficial, após policiais do 14º BPM interceptarem um carro com “suspeitos” em um dos acessos da Avenida Brasil, na altura de Realengo. Os agentes de repressão teriam dado ordem de parada aos passageiros do veículo, quando começou uma suposta troca de tiros que resultou nos mortos e feridos citados. Ainda segundo a PM, foram apreendidos dois fuzis, uma granada e uma pistola.

A continuação da Operação Contenção contou com a participação de um verdadeiro aparato de guerra: unidades do Comando de Operações Especiais (COE), Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) da Polícia Civil, Secretaria de Estado de Polícia Civil, Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA), Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), vários batalhões da polícia militar e o Batalhão de Policiamento Especializado em Vias Expressas (BPVE).

Segundo o governo, a operação está prevista para continuar ao longo dos próximos dias. Em declaração, o secretário de Polícia Civil do Rio de Janeiro, delegado Felipe Curi, deixou claro que a matança realizada no começo deste mês, nos morros do Alemão e da Penha, não foi suficiente:

“Essa é mais uma etapa da Operação Contenção e mostra o combate ao Comando Vermelho, em suas diversas atividades delituosas. A facção se aproveita da expansão territorial para praticar toda gama de crimes, fortalecendo sua estrutura financeira. Por meio de investigação e ações estratégicas, estamos enfraquecendo a organização criminosa”, afirmou.

Procurado pelo Diário Causa Operária, Luan Monteiro, dirigente do Partido da Causa Operária (PCO) no Rio de Janeiro, afirmou que a nova fase da Operação Contenção segue o mesmo padrão das ações realizadas pelo governo estadual ao longo dos últimos anos, servindo para ampliar o poder das milícias na Zona Oeste.

Segundo Monteiro, “essa aqui é mais uma operação de fachada do governo do Estado do Rio, junto com todos os órgãos da secretaria, dos aparatos de repressão, que coloca essa questão de combate ao crime organizado. É uma máscara”. Ele destacou que o próprio local escolhido para a ação revela o objetivo real: “o importante é lembrar que é uma região muito dominada pela milícia, salvo com algumas exceções. Tem regiões de Bangu, essa própria Vila Kennedy. Então, tem alguns locais dessa parte da Zona Oeste que não estão dominados pela milícia ainda. Isso aqui acaba servindo como mais um precedente para abrir espaço para uma dominação da milícia”.

Para o dirigente, a operação, apresentada publicamente como combate ao Comando Vermelho, favorece um setor diretamente ligado ao próprio Estado. “É mais conveniente para o Estado que seja a milícia, porque, finalmente, são pessoas ligadas aos próprios órgãos de repressão, policiais aposentados, bombeiros, pessoas militares em geral que formam essas milícias. E muitas vezes, inclusive, aproveitam da estrutura do tráfico de drogas e mantêm o tráfico de drogas no local”, afirmou.

Monteiro criticou também o fato de setores da própria esquerda defenderem a justificativa oficial deste tipo de ação. Ele afirmou que há uma campanha, inclusive dentro do governo federal, em torno da ideia de “combate ao crime organizado de forma inteligente”, que, na prática, reduz-se a operações que prendem “uma dúzia de pessoas” sem alterar em nada a realidade das comunidades. “Isso é uma besteira. Isso aí não tem nada a ver com segurança de ninguém. Você prender algumas pessoas do Comando Vermelho não faz a vida de ninguém mais segura, não deixa de ter assaltos, não deixa de ter violência”, disse.

O dirigente alertou ainda para a tentativa de transformar organizações do tráfico em grupos “terroristas”, justificando o fortalecimento irrestrito dos órgãos repressivos. “Existe toda uma tentativa de assimilar as facções criminosas como grupos terroristas, então a gente precisa ficar muito atento a isso e denunciar”, afirmou.

Para Monteiro, o saldo da operação é evidente: “é uma operação de fachada e segue essa tendência de aumento de repressão e do ataque ao povo de uma forma geral. Isso aí não muda nada na vida de ninguém e também não acaba com o tráfico nem nada do tipo”.

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