Hélio Rocha

Possui graduação em Comunicação Social – Jornalismo pela Universidade Federal de Juiz de Fora (2013). Atualmente é repórter de meio ambiente e direitos sociais em Plurale em Revista e correspondente em Pequim.

Coluna

Policarpo Quaresma: o drama do nacionalismo na colônia

“Policarpo Quaresma, no seu contexto, é um ruído entre os abutres e os medíocres, tendo ele próprio, o tempo todo, de mudar a sua estratégia de abordagem da sociedade brasileira”

Ser nacionalista no Brasil vale a pena? Essa poderia ser uma pergunta contemporânea, mas, na verdade, é do escritor Lima Barreto, para muitos o primeiro modernista. Isso lá no início do século XX. Foi formulada em 1915, por meio do romance “Triste fim de Policarpo Quaresma”, pela editora Revista dos Tribunaes, já extinta, mas que atualmente tem uma excelente versão da Nova Fronteira, em livros que reúnem todo o material publicado pelo autor.

Um homem idealista

Interpretado por Paulo José, em filme de 1998, dirigido por Paulo Thiago.

O livro conta a história do major Quaresma, um homem que trabalha numa repartição de intendência militar – um tipo de repartição pública, na verdade, de bater carimbo em documento – que vive sua insignificância na vida real, mas se empenha, em seu imaginário, em transformar o Brasil e construir uma grande nação. O major se reúne com lideranças políticas e culturais do Rio de Janeiro, sempre defendendo seu nacionalismo de forma extravagante, como a defesa do tupi-guarani como idioma nacional – o qual ele esforçada e brilhantemente já aprendeu – e incentivar apenas o consumo de frutas brasileiras e sua exclusiva venda nos mercados.

De desventura em desventura

O autor, nos idos dos anos 1910.

O pobre major, vire e mexe, cai nas mãos de uma estrutura que não o quer como sujeito nacionalista. Por duas vias o rejeitam. A primeira, ser um homem que se opõe a elites que lucram com a sujeição do Brasil ao exterior. A segunda, receber os olhares desdenhosos e incomodados de quem quer um homem simples que saiba seu lugar, e não lutando para transformar o país. Apesar da patente de major, a simploriedade de Quaresma o torna alvo de chacota não só daqueles que lhe são social e hierarquicamente superiores, mas também as pessoas comuns, que rechaçam aquele que não quer, como elas, apenas viver uma vida comum.

Uma dor ainda atual

Policarpo Quaresma, no seu contexto, é um ruído entre os abutres e os medíocres, tendo ele próprio, o tempo todo, de mudar a sua estratégia de abordagem da sociedade brasileira, a fim de convencê-la da importância do nacionalismo. E, com isso, transforma, vez por vez em que as coisas não vão bem, o seu próprio nacionalismo, passando do academicismo tupi-guarani à vida idílica na roça, plantando e colhendo em meio à bela natureza nacional, e chegando às vias da revolução armada contra o Governo do Marechal Floriano Peixoto.

Lima Barreto, contando em 1915 as desventuras de um homem de 1894, coloca ali um pouco de autobiografia, o que é um clichê, mas nesse caso expressa uma inquietação de homem negro num Brasil branco – embora Quaresma seja branco, mas apenas assim suscitaria as questões que Barreto quis propor – e aponta para a revolução artística da Semana de Arte Moderna de 1922, que formalizaria o modernismo que Barreto já trazia à literatura brasileira. Esta levaria o ceticismo de Barreto ao paroxismo, fazendo chacota do nacionalismo burguês no Brasil.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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