Hélio Rocha

Possui graduação em Comunicação Social – Jornalismo pela Universidade Federal de Juiz de Fora (2013). Atualmente é repórter de meio ambiente e direitos sociais em Plurale em Revista e correspondente em Pequim.

Coluna

Ozzmosis, Ozzy em equilíbrio entre peso e emoção

Lançado em 1995, Ozzmosis marcou uma fase particular na carreira de Ozzy Osbourne

Lançado em 1995, Ozzmosis marcou uma fase particular na carreira de Ozzy Osbourne. Depois da suposta aposentadoria anunciada com No More Tears (1991), ele retornou com um álbum sombrio, introspectivo e surpreendentemente maduro. O mundo do rock havia mudado com o grunge, o metal enfrentava novas disputas de espaço, mas Ozzy permaneceu — não como um sobrevivente apenas, mas como um artista com algo sincero a dizer.

Ozzmosis não foi um disco de fórmulas fáceis. Ele não tentou copiar o som das novas bandas, nem se apoiar só nos sucessos do passado. Foi um álbum que encarou a finitude, o envelhecimento, a dúvida e o sofrimento com uma honestidade brutal — e, por isso mesmo, tornou-se um dos registros mais humanos e profundos da discografia de Ozzy.

Baladas sombrias, guitarras vivas: a estética de um Ozzy vulnerável

Diferente de discos anteriores, Ozzmosis se destacou por uma atmosfera densa, quase melancólica. A começar pela capa: uma imagem em preto e branco de Ozzy, distorcida como uma figura fantasmal, já sugeria que aquele álbum não era sobre glória ou histeria — era sobre resistir ao tempo e aos próprios fantasmas.

A abertura com Perry Mason foi poderosa. Com Zakk Wylde de volta nas guitarras, a faixa misturava riffs intensos com um refrão envolvente e teatral. Era o chamado à luta — o mais próximo que o álbum chegaria de um hino “heroico”. Mas logo em seguida, I Just Want You rompia essa expectativa com uma letra confessional e um arranjo mais contido. Nela, Ozzy cantava sobre amor, desespero e fragilidade com uma entrega vocal emocionada, que muitos consideraram um dos pontos altos de sua carreira.

Faixas como See You on the Other Side e Tomorrow seguiram esse tom mais introspectivo. Não eram baladas no sentido comercial — eram lamentos existenciais, quase preces soturnas. E é aí que residia o brilho de Ozzmosis: ele foi um disco de alguém que não precisava provar mais nada, e por isso podia simplesmente ser verdadeiro.

A presença de Rick Wakeman (do Yes) nos teclados e de Geezer Butler (Black Sabbath) no baixo em algumas faixas ajudou a dar profundidade ao som. As guitarras de Zakk Wylde, mais contidas do que nos álbuns anteriores, dialogavam com o clima geral — em vez de dominar, elas serviam à narrativa.

Um disco que envelheceu bem e merece mais reverência

Na época de seu lançamento, Ozzmosis foi recebido com recepção mista. Alguns críticos esperavam um disco mais agressivo ou ousado. Outros não souberam como interpretar um Ozzy tão vulnerável, sem a armadura do “Príncipe das Trevas”. Mas com o passar dos anos, muitos fãs e jornalistas revisitaram o álbum e reconheceram sua importância.

A verdade é que poucos discos de artistas veteranos conseguiram dialogar tão bem com o tempo quanto Ozzmosis. Ele não foi um disco saudosista, nem um produto da moda. Foi um trabalho de transição e lucidez, de alguém que havia passado por vícios, lutos, glórias e colapsos — e ainda tinha voz para cantar sobre tudo isso.

Mesmo canções menos comentadas, como My Little Man e Ghost Behind My Eyes, traziam letras fortes e interpretações sinceras. E My Jekyll Doesn’t Hide mantinha o peso necessário para lembrar que a escuridão ainda vivia ali, dentro de Ozzy, como sempre viveu.

Talvez por ter sido um disco “de meio de década”, Ozzmosis tenha ficado entre eras e sido esquecido em parte do imaginário popular. Mas quem o escutou com atenção percebeu que ele dizia muito — talvez mais do que muitos discos tecnicamente melhores. Ele não foi um show de virtuosismo: foi um retrato fiel de um artista em maturação.

Vale a pena?

Sem dúvida. Ozzmosis foi um disco honesto, corajoso e profundamente musical. Foi Ozzy lidando com suas angústias sem maquiagem — e fazendo isso com classe, talento e alma. Em vez de tentar ser mais jovem, ele escolheu ser mais verdadeiro.

Para quem quer conhecer um Ozzy além do personagem, esse álbum é essencial. Ele não traz os hits mais conhecidos, mas talvez traga as interpretações mais humanas da carreira solo. É um disco que cresce com o tempo — porque foi feito por alguém que soube envelhecer.

Em meio à discografia de altos e baixos, Ozzmosis permanece como uma peça rara: um álbum que não só sobreviveu à sua época, mas a transcendeu. Em tempos em que tudo precisa gritar, ele mostrou que às vezes o sussurro é mais poderoso. E Ozzy, naquele momento, sussurrou verdades que continuam ecoando até hoje.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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