Ricardo Rabelo

Ricardo Rabelo é economista e militante pelo socialismo. Graduado em Ciência Econômicas pela UFMG (1975), também possui especialização em Informática na Educação pela PUC – MINAS (1996). Além disso, possui mestrado em sociologia pela FAFICH UFMG (1983) e doutorado em Comunicação pela UFRJ (2002). Entre 1986 e 2019, foi professor titular de Economia da PUC – MINAS. Foi membro de Corpo Editorial da Revista Economia & Gestão PUC – MINAS.

Coluna

O imperialismo ataca Cuba

"Somente a solidariedade internacional pode efetivamente fortalecer a economia cubana e salvá-la da destruição"

Apesar da grande rejeição ao bloqueio a Cuba e às sanções por parte da maioria dos países representados na ONU, o governo Trump não só mantém, como amplia medidas contra o país socialista, revelando que o novo governo exacerba o imperialismo norte-americano.
Apesar de sua mediocridade, Marco Rubio, em menos de um mês como secretário de Estado, conseguiu implantar novas medidas contra Cuba que elevam os crimes do imperialismo contra o país a níveis sufocantes e insuportáveis.

A primeira medida adotada foi a reincorporação de Cuba à lista de Estados patrocinadores do terrorismo. Hoje, essa classificação é totalmente irreal, pois Cuba abandonou há muito tempo o lema guevarista de criar novos Vietnãs na América Latina e não apoia grupos guerrilheiros em nenhum país da região. A desculpa para essa medida foi o fato de que Cuba se ofereceu para recepcionar as negociações do governo da Colômbia com grupos guerrilheiros daquele país.

É a medida mais severa do cerco financeiro contra a ilha, pois agrava significativamente os efeitos do bloqueio econômico e comercial ao dissuadir bancos e instituições internacionais de operar com Cuba por medo de sanções dos EUA. Em vários países, existem restrições legais ao comércio ou a qualquer relação econômica com países que patrocinam o terrorismo. Dessa forma, a medida aumenta as barreiras para importar necessidades básicas, receber crédito e acessar financiamento internacional.

Outra medida é o restabelecimento da lista de entidades cubanas restritas. Isso significa que um número revisto e ampliado de empresas e entidades cubanas está proibido de realizar qualquer transação econômica com suas congêneres de outros países. Esta medida estende ilegalmente o alcance do Estado norte-americano a outros países, impedindo o comércio e o investimento em setores fundamentais da economia cubana.

Uma das empresas incluídas nessa lista é a Orbit AS, cuja função era canalizar as remessas provenientes dos EUA ou de outros países de imigrantes cubanos para seus familiares na ilha. As remessas constituem uma fonte vital de renda para numerosas famílias cubanas e desempenham um papel significativo na economia nacional. Um estudo publicado em setembro de 2023 pela organização Cuba Siglo XXI indicou que os imigrantes enviaram a Cuba um total de 52 bilhões de dólares em dinheiro nos últimos 30 anos analisados. Segundo o VI Estudo sobre os Direitos Sociais (2023), citado pelo meio independente 14ymedio, 27% dos lares cubanos receberam algum tipo de remessa familiar do exterior no verão de 2023.

A reativação do Título III da Lei Helms-Burton permite que cidadãos norte-americanos processem, nos EUA, empresas estrangeiras que busquem investir nas empresas nacionalizadas em Cuba após a Revolução de 1959. É uma medida claramente voltada contra a China, cujas empresas estatais poderiam fazer acordos de investimento visando suas congêneres cubanas.

Os condicionamentos legais da liberdade condicional humanitária e do reagrupamento familiar foram suspensos pelo governo Trump. Isso significa que boa parte dos mais de 900 mil cubanos que chegaram aos EUA desde outubro de 2021 pode agora ser deportada. Com o endurecimento do bloqueio, Washington os encorajou a deixar Cuba e imigrar para os Estados Unidos, e agora pretende deportá-los.

Em uma clara tentativa de enfraquecer os laços culturais e acadêmicos, o governo Trump suspendeu a concessão de vistos a cubanos que participam de intercâmbios culturais, acadêmicos e científicos nos Estados Unidos. Isso significa que os cubanos não poderão participar de competições esportivas, encontros científicos ou atividades culturais em território norte-americano.

Essas restrições de visto foram impostas também a cubanos e estrangeiros vinculados a programas de cooperação Sul-Sul dos quais Cuba participa, especialmente no setor de saúde. Essa medida afeta a capacidade de Cuba de oferecer assistência médica em vários países e criminaliza os nacionais de terceiros países envolvidos em projetos de colaboração com Cuba.

Finalmente, Trump incluiu Cuba na lista de adversários estrangeiros, junto com Venezuela, Irã, Rússia e China, limitando assim o acesso cubano à tecnologia dos EUA, especialmente em inteligência artificial.

Segundo informações do New York Times, Trump elaborou uma lista vermelha de países cujos cidadãos seriam categoricamente proibidos de entrar nos Estados Unidos. Claro, a ilha está neste grupo, onde também aparecem Irã, Líbia, Coreia do Norte, Somália, Sudão, Síria, Venezuela e Iêmen.

O apoio de Rússia e China à infraestrutura energética de Cuba

Nos últimos meses, Cuba sofreu vários apagões, que agravaram as péssimas condições de vida existentes na ilha como resultado dos embargos, sanções e ataques do imperialismo norte-americano.

Recentemente, a Rússia enviou uma delegação de cientistas a Cuba para estudar as condições atuais da infraestrutura energética do país e propor alterações capazes de eliminar a precariedade da situação, eliminando os apagões e propiciando o fornecimento diário de energia elétrica e de combustíveis. A Rússia tem contribuído também materialmente com o envio de equipamentos necessários à manutenção da rede elétrica e certa quantidade de combustíveis aos quais a ilha não tem acesso, seja pelas restrições estadunidenses, seja pela crônica falta de divisas estrangeiras no país, em particular o dólar. A Rússia enviou, em fevereiro de 2025, cerca de 790 mil barris de petróleo para Cuba e concedeu um crédito de 62 milhões de dólares para ajudar a mitigar a crise energética que a ilha enfrenta. O país também investe na exploração de petróleo na ilha e acredita ser possível aumentar a produção nos próximos anos.

A China já vem estabelecendo relações comerciais e financeiras com Cuba há algum tempo, sendo um dos primeiros países da América Latina a integrar a Iniciativa Cinturão e Rota, em 2016. A grande cooperação no setor energético, no entanto, é a doação de painéis solares de energia fotovoltaica e a implantação de vários parques com esses painéis, para aumentar significativamente a capacidade instalada do sistema. Este projeto, em forma de doação, está a cargo da empresa Shanghai Electric e da Electric Union of Cuba, e deve ser concluído em sua totalidade ainda em 2025.

Nesse sentido, o regime cubano inaugurou recentemente três parques fotovoltaicos em Cuba, doados pela Agência Chinesa de Cooperação e Desenvolvimento Internacional. As autoridades insistiram na promessa de adicionar 1.000 MW à matriz energética cubana, por meio de investimentos futuros em parques fotovoltaicos. Em meio à pior crise energética de sua história, o regime cubano prometeu gerar quase 600 MW de energia solar fotovoltaica durante o primeiro semestre de 2025. Recentemente, o governo anunciou que se preparava para inaugurar o Parque Solar Fotovoltaico Ciego Norte, na província de Ciego de Ávila, com capacidade de geração de 21,87 megawatts (MW), que estava em fase final de montagem.

Diante da voracidade do imperialismo estadunidense para impedir Cuba de sobreviver, somente a solidariedade internacional pode efetivamente fortalecer a economia cubana e salvá-la da destruição. É importante que todos os países dos BRICS, aos quais Cuba foi admitida na última cúpula, também estruturem programas de apoio à economia do país. O mais importante, no entanto, é que se fortaleçam as campanhas populares e da classe trabalhadora de solidariedade ao país, seja denunciando o criminoso cerco à ilha pelo imperialismo, seja arrecadando fundos e mercadorias para doação à ilha.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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