Quando Sweetener chegou às plataformas, em agosto de 2018, não se esperava apenas um novo capítulo na discografia de Ariana Grande — esperava um acerto de contas. Com o mundo, com a própria vida e, sobretudo, consigo mesma. Não é possível ouvir o álbum sem lembrar do ataque de Manchester, em 2017, que matou 22 pessoas ao fim de um de seus shows. A tragédia não é tema explícito nas faixas, mas está impregnada em cada escolha sonora, na forma como Ariana equilibra vulnerabilidade e força.
Ao longo de seus primeiros trabalhos, Ariana construiu sua imagem sobre pilares de grande técnica vocal e uma estética pop polida. Em Sweetener, é possível perceber uma artista que começa a controlar o próprio discurso. Há mais riscos, mais ousadia na produção de Pharrell Williams e Max Martin, e uma clara recusa a seguir uma fórmula previsível. O resultado é um trabalho que soa mais íntimo, mesmo quando se vale de experimentações pouco convencionais para o pop de rádio.
Também há, no álbum, uma dimensão quase terapêutica. No tears left to cry abre espaço para a resignação. Breathin, por sua vez, traduz em melodia simples e repetitiva a experiência de lidar com ansiedade, algo que Ariana passou a discutir de forma mais aberta após Manchester.
O amadurecimento visto em Sweetener não está apenas nas letras ou nas harmonias inusitadas, mas na postura de Ariana diante do próprio papel como artista. É um álbum que marca a passagem de uma cantora infanto-juvenil para uma artista madura. Entre as feridas ainda abertas e o desejo de celebrar a vida, Ariana entrega uma obra que não apenas diverte, mas que também envolve e provoca reflexões.
Sweetener é, acima de tudo, o registro de alguém que, tendo visto a escuridão, escolhe falar de luz — sem apagar as sombras que a tornaram possível.





