Mestres do Ar, da Apple TV+, chega com a responsabilidade de revisitar uma parte frequentemente esquecida da Segunda Guerra Mundial: os bombardeiros pesados e suas tripulações. Produzida por Tom Hanks, Steven Spielberg e Gary Goetzman — a mesma equipe responsável por Band of Brothers e The Pacific — a minissérie consegue fazer o que poucos dramas de guerra alcançam: dar rosto, coragem e humanidade aos homens que pilotavam as imponentes B-17 Flying Fortress. Aqui, o foco não são os caças ágeis ou os dogfights cinematográficos, mas sim o trabalho silencioso e brutalmente perigoso dos bombardeiros, que carregavam toneladas de bombas e enfrentavam fogo antiaéreo praticamente sem proteção.
O elenco ajuda a dar vida a essa história esquecida. Austin Butler interpreta o Major Gale “Buck” Cleven, um piloto determinado e cauteloso; Callum Turner é o Major John “Bucky” Egan, um líder capaz de equilibrar estratégia e coragem; e Barry Keoghan vive Ken Lemmons, mecânico e elo humano que conecta a tripulação à vida fora da cabine. É nesse equilíbrio entre ação, tensão e humanidade que a série brilha. Vemos bombardeiros atingidos por centenas de tiros, mas ainda assim conseguindo pousar miraculosamente na África do Norte; pilotos que precisam ejetar e saltar de paraquedas em território inimigo; tripulantes sobrevivendo a tempestades, ferimentos e a perseguições de soldados nazistas em solo. Cada episódio constrói um respeito profundo por esses homens e suas máquinas, que sempre foram subestimados na narrativa clássica da guerra.
Histórias Esquecidas e Lacunas da Memória

A série, no entanto, também nos lembra das lacunas históricas que permanecem por questões políticas. Por exemplo, a União Soviética foi decisiva para a vitória aliada: lutou no próprio território, derrotou a Alemanha na Europa Oriental, conquistou Berlim e libertou Auschwitz. Ainda assim, suas contribuições raramente ganham destaque em produções ocidentais. Outro exemplo emblemático são as Night Witches, o esquadrão feminino de bombardeiras soviético que realizava operações noturnas extremamente arriscadas — sua história nunca virou filme porque desafia a narrativa tradicional da guerra que é mais “vendável” no Ocidente.
Mestres do Ar não aborda todas essas lacunas, mas, ao recuperar a história do 100º Grupo de Bombardeios, cumpre um papel importante ao lembrar que a Segunda Guerra não se limita aos combates mais glamourosos ou às figuras mais conhecidas. A série combina precisão histórica, cenas de tirar o fôlego e retratos humanos convincentes. A direção de Cary Joji Fukunaga, a cinematografia de Adam Arkapaw e o design meticuloso das aeronaves e cenários fazem com que cada missão pareça viva — sentimos o peso do avião, o frio cortante da cabine e a tensão antes de cada ataque.
Vale a Pena?

Sim. Mestres do Ar é mais do que uma série de guerra: é uma homenagem aos heróis esquecidos da aviação, que sempre foram ofuscados pelos caças e pelos dogfights. Com produção de alto nível, elenco consistente e cenas que combinam suspense, drama humano e heroísmo silencioso, a minissérie cumpre seu papel de resgatar histórias que merecem ser contadas. Para quem se interessa por aviação, história militar ou simplesmente boas narrativas humanas, a série é uma experiência intensa e recompensadora. Além disso, conecta-se com o legado de Band of Brothers, oferecendo o mesmo respeito à memória, mas agora de uma perspectiva nova e necessária.





