A história da arte palestina no século XX não pode ser contada sem a figura monumental de Ismail Shammout (1930–2006). Nascido em Lida em 2 de março de 1930, filho de Abd al-Qadir Shammout e Aisha al-Hajj Yasin, Ismail foi um dos milhões de palestinos expulsos de sua terra natal durante a Nakba e transformou a experiência do exílio forçado, da ocupação e da resistência em uma das expressões artísticas mais poderosas da luta do povo palestino. Seu nome tornou-se sinônimo de arte comprometida, cuja obra documenta, denuncia e mobiliza.
O talento de Shammout foi notado cedo. Em 1936, ainda criança, ingressou na escola primária de Lida, onde foi incentivado por seu professor Dawud Zalatimu, responsável por decorar as paredes da escola com cenas históricas da Palestina e ensiná-lo as técnicas básicas do desenho a lápis, da pintura em aquarela e da escultura em calcário. Foi Zalatimu quem lhe ensinou que a arte pode e deve servir a um propósito nacional.

Após convencer seu pai, um comerciante conservador, de que a arte poderia ser uma profissão digna, passou a decorar vestidos de noiva com flores e aves — atividade que deu origem ao seu primeiro ateliê, onde começou a pintar paisagens e retratos com tinta a óleo. Esse breve período de tranquilidade artística, porém, foi interrompido brutalmente em julho de 1948, quando, três dias após a ocupação sionista de Lida e Ramla, ele e sua família foram forçados a fugir a pé rumo a Ramalá, sob o calor escaldante e sem direito a carregar água. Durante o trajeto, seu irmão mais novo, Tawfiq, morreu de sede. Esse episódio marcou profundamente sua vida e se tornaria tema recorrente de sua obra.
O exílio levou a família ao campo de refugiados de Khan Yunes, na Faixa de Gaza, onde Shammout, ainda jovem, passou a vender doces nas ruas para sobreviver. No entanto, a arte falou mais alto: voluntariou-se como professor de desenho nas escolas improvisadas em tendas, iniciativa que lhe permitiu retomar a pintura. Em 1950, realizou sua primeira exposição na escola pública de Khan Yunes, o que é considerado o início da arte moderna palestina — não só pela relevância da mostra, mas por ter sido realizada por um refugiado, em território palestino e com ampla participação popular.

No mesmo ano, ingressou na Academia de Belas Artes do Cairo, sustentando-se como ilustrador de cartazes de cinema. Três anos depois, realizou uma grande exposição conjunta com seu irmão Jamil em Gaza, na qual apresentou cerca de 60 obras, incluindo Para Onde? e Um Gole de Água — marcos da pintura palestina contemporânea. As obras retratavam com realismo simbólico o sofrimento do povo palestino, a dor do exílio e o desejo do retorno.
Em 1954, ao lado de Tamam al-Akhal — jovem artista nascida em Jafa e futura esposa e parceira inseparável — e do artista Nuhad Sabasi, realizou a exposição O Refugiado Palestino no Cairo, sob os auspícios de Gamal Abdel Nasser, então primeiro-ministro do Egito. O sucesso lhe rendeu uma bolsa de estudos na Accademia di Belle Arti, em Roma, onde permaneceu até 1956.

Ao retornar, estabeleceu-se em Beirute com o irmão Jamil, onde trabalharam para a UNRWA e criaram uma gráfica especializada em arte comercial e design de livros. Em 1959, casou-se com Tamam al-Akhal, com quem desenvolveu intensa colaboração artística e política. Juntos, realizaram exposições em Gaza, Jerusalém, Ramalá, Damasco, Amã, Washington, Londres, Viena e dezenas de outras cidades, produzindo também murais coletivos, como a série O Caminho, presente em cidades como Doha, Istambul e Cairo.
A partir de 1964, Shammout e al-Akhal participaram ativamente da fundação da Organização para a Libertação da Palestina (OLP). Em 1965, ele criou e dirigiu a Seção de Cultura Artística do Departamento de Informação da OLP, função que exerceu até 1984. Seu trabalho político foi fundamental para articular artistas palestinos e organizar exposições de solidariedade em diversos países. Também criou em Beirute a Dar al-Karama, galeria que reunia exposições de jovens dos campos de refugiados e de artistas árabes e internacionais engajados na causa palestina.

Foi secretário-geral da União Geral dos Artistas Palestinos desde sua fundação, em 1969, até 1984, e também da União Geral dos Artistas Árabes, fundada em 1971. A partir da invasão sionista do Líbano, em 1982, e da expulsão da Resistência Palestina de Beirute, Shammout e sua família se viram forçados a se deslocar novamente: viveram no Cuaite, na Alemanha e, a partir de 1994, estabeleceram-se em Amã, na Jordânia.
Sua obra jamais se afastou do compromisso político: quadros como Memórias e Fogo (1956), Voltaremos (1954) e Noiva e Noivo na Fronteira (1962) são ícones da identidade nacional palestina e ilustram a luta por retorno e autodeterminação. Além disso, dirigiu filmes como Memórias e Fogo (1973), premiado no Festival de Leipzig, Apelo Urgente (1973) e A Caminho da Palestina (1974), que complementam sua produção pictórica com o uso do cinema como meio de agitação e propaganda.

Shammout recebeu diversas condecorações: o Escudo Revolucionário das Artes e Letras da OLP, a Medalha de Jerusalém e o Prêmio Palestina de Artes, além do Prêmio Criatividade da Pintura Árabe do Fórum do Pensamento Árabe. Após sua morte, em 3 de julho de 2006, na cidade de Amã, foi instituído um prêmio anual com seu nome para premiar artistas plásticos palestinos.