Ásia

Índia e Paquistão cortam relações e ameaçam entrar em guerra

Tensões aumentaram após massacre ocorrido na região da Caxemira

Nessa quinta-feira (24), a Índia decidiu expulsar todos os cidadãos paquistaneses residentes em seu território até 29 de abril em resposta a um massacre ocorrido na região da Caxemira que está sob controle indiano.

“Após o ataque terrorista de Vahgam, o governo indiano decidiu suspender a emissão de vistos para cidadãos paquistaneses com efeito imediato”, disse o Ministério das Relações Exteriores da Índia, acrescentando: “todos os cidadãos paquistaneses atualmente na Índia devem deixar o país antes da data de expiração do visto”, marcada para 27 de abril para vistos regulares e 29 de abril para vistos de saúde.

O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, também prometeu processar todos os responsáveis pelo incidente ocorrido na terça-feira (22) e que matou pelo menos 26 pessoas. Em seu primeiro discurso desde o ocorrido, Modi, que suspendeu sua viagem à Arábia Saudita devido ao ataque, disse, falando em língua inglesa: “eu digo ao mundo inteiro: a Índia identificará, perseguirá e punirá os terroristas e aqueles que os apoiam. Vamos persegui-los até os confins da terra”.

O massacre, ocorrido no resort turístico de Pahalgam, foi o mais mortal na Caxemira desde 2000. No dia seguinte ao ataque, a Índia acusou o Paquistão de apoiar o “terrorismo transfronteiriço” e tomou uma série de medidas contra ele, incluindo a suspensão de um importante tratado de compartilhamento de água, o fechamento da principal passagem de fronteira terrestre entre os dois vizinhos e a redução do número de diplomatas.

“Eles inevitavelmente pagarão o preço. Não importa quão pouca terra esses terroristas tenham, é hora de destruí-la. A vontade de 1,4 bilhão de indianos quebrará o poder desses terroristas”, declarou o primeiro-ministro indiano.

O Paquistão negou qualquer papel no ataque de Pahalgam. Um comunicado emitido pelo gabinete do primeiro-ministro, Shahbaz Sharif, após convocar uma reunião extraordinária do comitê de segurança nacional, disse que: “qualquer ameaça à soberania do Paquistão e à segurança de seu povo será respondida com medidas firmes em todas as áreas”.

O governo paquistanês também anunciou uma série de contramedidas diplomáticas contra a Índia, declarando “conselheiros indianos de defesa marítima e aérea em Islamabad persona non grata. Eles são convidados a deixar o Paquistão imediatamente”, acrescentando que os vistos concedidos a cidadãos indianos seriam cancelados, exceto para peregrinos sikhs.

O comunicado do Paquistão também afirmou que todas as fronteiras seriam fechadas, o comércio seria interrompido e o espaço aéreo seria fechado para companhias aéreas de propriedade ou operadas pela Índia. Além disso, o governo paquistanês disse que considerará qualquer tentativa da Índia de cortar o abastecimento de água do rio Indo um “ato de guerra”.

Até o momento, a polícia indiana afirmou que três suspeitos, sendo eles dois paquistaneses, haviam sido identificados como autores do massacre.

A Caxemira é uma região montanhosa localizada no norte do subcontinente indiano, e desde 1947 — ano da independência da Índia e do Paquistão do domínio britânico — é o centro de uma das disputas territoriais mais prolongadas e sangrentas do mundo.

Historicamente, o antigo Estado principesco de Jammu e Caxemira foi governado por um marajá hindu, Hari Singh, apesar de a população majoritariamente ser muçulmana. Diante da indecisão do marajá sobre integrar-se à Índia ou ao Paquistão, e com a invasão de militantes tribais paquistaneses em 1947, ele assinou um tratado de adesão à Índia em troca de ajuda militar. Isso desencadeou a primeira guerra entre Índia e Paquistão (1947–1948), que resultou na divisão da Caxemira: dois terços sob controle indiano e o restante sob controle paquistanês, o que viria a ser chamado de “Azad Kashmir” no Paquistão. Posteriormente, a China também ocupou uma parte da região, chamada de Aksai Chin, após uma breve guerra com a Índia em 1962.

Foto: Reprodução

A disputa sobre a Caxemira provocou outras duas guerras entre Índia e Paquistão (em 1965 e 1999) e é marcada por constantes atritos ao longo da Linha de Controle, a fronteira de fato entre as duas nações na região. O Paquistão defende um referendo sob supervisão da Organização das Nações Unidas (ONU) para decidir o futuro da região, enquanto a Índia considera o território parte integral do país, argumentando que as eleições realizadas localmente são prova de adesão legítima.

Na década de 1990, a situação na Caxemira deteriorou-se significativamente com o início de uma insurgência armada contra o domínio indiano. Diversos grupos separatistas, alguns com apoio declarado ou suspeito do Paquistão, passaram a operar na região, promovendo ataques contra forças de segurança e civis. Em resposta, o governo indiano intensificou sua presença militar e concedeu às forças armadas amplos poderes por meio da Lei de Poderes Especiais das Forças Armadas (AFSPA). A insurgência resultou em dezenas de milhares de mortes.

O Paquistão ocupa uma posição geográfica bastante estratégica para os interesses do imperialismo no Sul da Ásia. O país faz fronteira com a Índia, principal rival regional, com o Afeganistão, palco de duas décadas de intervenção militar dos Estados Unidos, e com o Irã, um dos principais alvos da política externa norte-americana no Oriente Próximo. Dessa forma, o Paquistão serve como uma plataforma essencial de contenção, influência e operação para os EUA e seus aliados na região.

Historicamente, o Paquistão foi um dos principais aliados dos Estados Unidos durante a Guerra Fria, integrando pactos militares patrocinados pelos norte-americanos, como o SEATO e o CENTO. Durante a ocupação soviética do Afeganistão (1979–1989), o Paquistão desempenhou papel central no apoio à guerrilha mujahidin afegã, treinando e armando combatentes com financiamento e orientação direta da CIA.

Esse relacionamento também se refletiu na questão nuclear. Apesar da política oficial dos EUA de não proliferação, os norte-americanos fecharam os olhos em relação ao desenvolvimento do arsenal nuclear paquistanês. Nos anos 1980 e 1990, mesmo com indícios de que o Paquistão avançava em seu programa nuclear com base em tecnologias clandestinas (algumas obtidas por meio da famosa rede de Abdul Qadeer Khan), os Estados Unidos seguiram fornecendo ajuda militar e econômica ao país, considerando-o um aliado essencial para os seus objetivos regionais. Uma política oposta à pressão internacional contra o Irã e a Coreia do Norte.

Nos últimos anos, o nacionalista Imram Khan chegou ao poder apoiado por uma grande mobilização popular. Khan se aproximou da China, da Rússia e do Irã, criticou abertamente a política externa norte-americana, demonstrou simpatia aos talibãs afegãos e ainda procurou se distanciar do Fundo Monetário Internacional (FMI). Khan acabaria sendo derrubado por um golpe, que comprovou que o imperialismo é incapaz de tolerar um governo paquistanês que não sirva de base para as suas operações criminosas na região.

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