HISTÓRIA DA PALESTINA

Ihsan Abbas, escritor e intelectual palestino

Exilado pela Nakba, Ihsan Abbas tornou-se um dos maiores intelectuais árabes do século XX

A vida e a obra de Ihsan Abbas sintetizam, de maneira exemplar, a trajetória de um intelectual palestino cuja existência foi atravessada pela tragédia da ocupação sionista e pela resistência cultural frente à destruição da pátria. Nascido em 1920 na vila de Ayn Ghazal, ao sul de Haifa, Abbas viveu a infância em condições de pobreza, sendo filho de Rashid Abbas, um modesto comerciante de ovelhas, e de Fatima Abbas. Teve dois irmãos, Tawfiq e Bakr, e uma irmã, Najma. Mais tarde, casou-se com Ni‘mat Sharkas, da vila de Qisariya, com quem teve três filhos: Nirmin, Iyas e Usama.

Desde a infância, destacou-se pelo gosto pelos estudos e pela disciplina. Iniciou sua formação na escola de sua vila, transferindo-se em seguida para uma escola governamental em Haifa, onde completou os primeiros anos do ensino secundário.

Em Acre, deu continuidade aos estudos e, por mérito, foi admitido na prestigiosa Arab College, em Jerusalém. O ingresso nesse colégio era reservado apenas aos estudantes mais capazes das escolas públicas da Palestina. Cursou o colégio de 1937 a 1941, recebendo uma formação de alto nível, que lhe permitiria lecionar em escolas públicas secundárias.

Concluídos os estudos, foi nomeado professor na escola de Safad, onde lecionou até 1946. Nesse período, tornou-se elegível para uma bolsa de estudos no exterior, oferecida aos formados da Arab College.

Com a bolsa, partiu para o Egito e ingressou na Universidade Fuad I (atual Universidade do Cairo), onde obteve sua graduação em Literatura Árabe em 1949. No entanto, enquanto estudava, a história da Palestina dava uma guinada trágica.

Sua vila natal, Ayn Ghazal, foi destruída pelos sionistas no outono de 1948. A Nakba não apenas significou a perda da terra natal, mas a dispersão de sua família, que encontrou abrigo em Bagdá. Abbas jamais pôde retornar.

Fixando-se no Cairo, Abbas lecionou em escolas locais e deu continuidade à sua formação acadêmica. Em 1952, defendeu sua dissertação de mestrado sobre a literatura árabe na Sicília islâmica, orientado por Shawqi Dayf, um dos mais respeitados críticos literários do Egito.

Seguiu seus estudos e defendeu, em 1954, sua tese de doutorado sobre o ascetismo e sua influência na poesia da dinastia Omíada. No entanto, após a defesa, considerou que o tema não era adequado a uma pesquisa científica rigorosa, razão pela qual nunca publicou a tese — uma decisão que demonstra a exigência que mantinha consigo mesmo.

Em 1951, ainda antes da conclusão de seu doutorado, foi contratado para lecionar literatura árabe no Gordon Memorial College, no Sudão, que viria a se tornar a Universidade de Cartum. Ali permaneceu por dez anos, desenvolvendo um importante trabalho docente e ganhando projeção acadêmica.

Quando seu contrato não foi renovado, transferiu-se para Beirute, onde assumiu o cargo de professor de literatura árabe na Universidade Americana, onde permaneceria por cerca de 25 anos. O período beirutino foi o mais fértil de sua vida intelectual. A capital libanesa, antes da guerra civil de 1975, era um centro cultural dinâmico e cosmopolita, e a universidade, um polo de liberdade acadêmica e de efervescência, política e intelectual.

Foi nesse ambiente que Abbas produziu a maior parte de sua obra. Participou ativamente de congressos internacionais, proferiu palestras em universidades da Europa e dos Estados Unidos, e consolidou sua reputação como um dos maiores arabistas do mundo. Foi convidado, em 1970, para lecionar em diversas universidades britânicas e, no ano seguinte, em centros acadêmicos da Alemanha, onde se aproximou da comunidade orientalista e passou a integrar, como membro honorário, a Sociedade Alemã de Orientalistas (Deutsche Morgenländische Gesellschaft).

Com o início da guerra civil libanesa, em 1975, Abbas aceitou um convite da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, onde permaneceu por dois anos. Nesse período, redigiu duas obras importantes: Tendências da Poesia Árabe Contemporânea e Aspectos Gregos na Literatura Árabe. A guerra impediu seu retorno imediato a Beirute, mas eventualmente reassumiu seu posto na Universidade Americana, onde seguiu lecionando até a aposentadoria, em 1986.

Após deixar o Líbano, fixou residência definitiva em Amã, capital da Jordânia, onde viveu até o fim de sua vida. Mesmo diante de um ambiente que considerava marcado pelo pessimismo e pela frustração decorrentes da degradação política do mundo árabe, manteve intensa produção intelectual.

Publicou sua autobiografia, O Exílio do Pastor, na qual narra sua infância na Palestina e os acontecimentos da Nakba, e uma coletânea de poemas juvenis intitulada Flores Silvestres, resgatando sua sensibilidade literária ainda pouco conhecida do público.

Mesmo afastado da sala de aula, seguiu atuando como orientador em universidades jordanianas como a Universidade da Jordânia e a Universidade de Yarmuk, além de colaborar com o Instituto Real para a elaboração da Enciclopédia da Civilização Islâmica.

Sua saúde começou a se deteriorar a partir de 1994, marcada por um sentimento de melancolia profunda diante das derrotas históricas do povo árabe e palestino. Em seu testamento intelectual, Abbas relatou ter perdido o “brilho interior” que o havia acompanhado por toda a vida e que lhe dava energia para seguir escrevendo e ensinando.

Ihsan Abbas faleceu em Amã, em 29 de julho de 2003, aos 83 anos. Foi enterrado na cidade onde passou seus últimos anos.

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