História do Brasil

Identitarismo em defesa da ‘raça pura’

A constatação científica de que o Brasil é o país mais miscigenado do mundo deveria ser positiva, mas identitários transformam em abominação

Não basta fazer ciência, não basta ter os fatos. A interpretação desses resultados sempre dependerá do interesse daqueles que os estão analisando. Na semana passada, foi publicada pesquisa do projeto “DNA do Brasil da USP/Ministério da Saúde”, a maior desse tipo já feita, que mostrou que o Brasil é o país mais miscigenado do mundo. O jornal da burguesia pró-imperialista, Folha de S.Paulo, publicou um artigo assinado por Ana Cristina Rosa para tirar uma conclusão identitária sobre o fato, falsificando o resultado da pesquisa. O artigo, chamado O racismo no DNA do Brasil, força a barra no sentido oposto ao que realmente mostra a pesquisa.

“O fato de o Brasil ser a nação mais miscigenada do mundo serve de prova científica do grau de perversidade do racismo institucionalizado nessas terras”. A miscigenação brasileira não seria, portanto, uma característica positiva. A pesquisa, em que pese todos os problemas sociais e raciais que há no Brasil, prova que o País seria o mais distante daquilo que os racistas chamam de “raça pura”, ou seja, aqui, falar nisso é uma enorme idiotice.

No entanto, para os identitários, a pesquisa mostraria o contrário. Ela reforça que o Brasil é racista. Mais ainda, como diz o título do artigo, para a colunista, o “DNA do Brasil é racista”. Como ela conseguiu chegar a uma conclusão tão oposta do que realmente mostra a pesquisa? Simples: por meio da estapafúrdia teoria identitária de que o Brasil seria “fruto de um grande estupro”:

“O sequenciamento é evidência genética do histórico de abuso e violência sexual sofrido por mulheres pretas, pardas e indígenas em solo nacional.”

Não, o sequenciamento não é evidência de absolutamente nada disso. A pesquisa não mostra nem prova que houve estupro e, mais absurdo ainda, nem chega perto de mostra que há um “histórico de abuso e violência sexual”. Essa é a interpretação forçada da colunista para tentar corroborar sua teoria identitária.

A pesquisa mostrou que o DNA brasileiro é composto por origem 60% europeia, 27% africana e 13% de índios. Esses dados não mostram nenhum estupro, mostram que a colonização portuguesa foi mais abrangente do que as demais. Ao mesmo tempo, mostra uma grande presença de negros e índios, reforçando a miscigenação. Isso significa que não houve estupros? Claro que não. Mas uma coisa não tem nada a ver com a outra, pois essa miscigenação pode ter se dado de um sem número de maneiras diferentes.

A interpretação é tão absurda que, se fosse verdade, chegaríamos à conclusão de que, nos Estados Unidos, por exemplo, visivelmente menos miscigenado, houve menos estupros que no Brasil. Em outras palavras, os EUA, aquele país cuja história do século XX se confunde com as lutas contra a segregação racial, seria um bom modelo. Uma ideia sem sentido algum.

O identitarismo é tão contraditório que a própria colunista afirma:

“Comecei a rogar com todas as forças para que o projeto DNA do Brasil sirva de instrumento eficiente e eficaz no enfrentamento ao racismo, e enterre de vez qualquer resquício de veracidade ainda atribuído à tese estapafúrdia de superioridade racial eurocêntrica.”

Ela não quer que as classes dominantes brasileiras defendam a supremacia europeia, mas, ao mesmo tempo, acha ruim a miscigenação do brasileiro. Ela precisa decidir se o bom é a raça pura ou não.

A pesquisa comprova cientificamente o que muitos intelectuais teorizaram principalmente no início do século XX sobre a miscigenação brasileira – o que, aliás, é algo notável até mesmo a olho nu. Os horrores da escravidão, o tratamento recebido pelos índios, tudo isso pode ser debatido. Mas isso não tem relação com o fato de que o Brasil é miscigenado e tal miscigenação não é, de forma nenhuma, um aspecto negativo. Ela revela que o Brasil, com todos os problemas que as classes dominantes impõem ao povo – vale lembrar que entre as poderosas classes dominantes atuais estão os capitalistas donos da Folha de S.Paulo – é o país que acolhe todas as pessoas.

Essa é uma das características mais progressistas de nosso povo e deve ser exaltada. O que os identitários querem fazer é o oposto disso, querem que o brasileiro sinta ódio de si mesmo. Algo que só seve para que o imperialismo – este, sim, composto principalmente por brancos – domine ainda mais o País.

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